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Papa alerta para «orfandade espiritual» que atinge humanidade

Cidade do Vaticano (Segunda-feira, 02-01-2017, Gaudium Press) Durante a Missa da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, na Basílica de São Pero, o Papa Francisco denunciou a “orfandade espiritual” que afeta a humanidade. Na ocasião celebrava-se também o 50º Dia Mundial da Paz.

Comentando trecho do Evangelho de São Lucas que diz que “quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração”, o Papa falou da ternura maternal de Maria.

Ternura maternal

SANTA MÃE DE DEUS -- ARAUTOSview (4).jpg

“Longe de querer compreender ou dominar a situação, Maria é a mulher que sabe conservar, isto é, proteger, guardar no seu coração a passagem de Deus na vida do seu povo. Aprendeu a sentir a pulsação do coração do seu Filho, ainda Ele estava no seu ventre, ensinando-Lhe a descobrir, durante toda a vida, o palpitar de Deus na história. Aprendeu a ser mãe e, nesta aprendizagem, proporcionou a Jesus a bela experiência de saber-Se Filho. Em Maria, o Verbo eterno não só Se fez carne, mas aprendeu também a reconhecer a ternura maternal de Deus. Com Maria, o Deus-Menino aprendeu a ouvir os anseios, as angústias, as alegrias e as esperanças do povo da promessa. Com Ela, descobriu-Se a Si mesmo como Filho do santo povo fiel de Deus,” comentou Francisco.

Maria dá o calor materno

“Aproximou-se das mais diversas situações, para semear esperança. Acompanhou as cruzes, carregadas no silêncio do coração dos seus filhos. Muitas devoções, muitos santuários e capelas nos lugares mais remotos, muitas imagens espalhadas pelas casas nos lembram esta grande verdade. Maria deu-nos o calor materno, que nos envolve no meio das dificuldades; o calor materno que não deixa, nada e ninguém, apagar no seio da Igreja a revolução da ternura inaugurada pelo seu Filho. Onde há uma mãe, há ternura. E Maria, com a sua maternidade, nos mostra que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes; ensina-nos que não há necessidade de maltratar os outros para sentir-se importante. E o santo povo fiel de Deus, desde sempre, a reconheceu e aclamou como a Santa Mãe de Deus.”

Maternidade de Maria

“Celebrar, no início de um novo ano, a maternidade de Maria como Mãe de Deus e nossa mãe significa avivar a certeza que (Ela) nos há de acompanhar no decorrer dos dias: somos um povo com uma Mãe, não somos órfãos”, disse Francisco que ainda continuou explicando o que seria uma sociedade sem mães:

“As mães são o antídoto mais forte contra as nossas tendências individualistas e egoístas, contra os nossos isolamentos e apatias. Uma sociedade sem mães seria não apenas uma sociedade fria, mas também uma sociedade que perdeu o coração, que perdeu o “sabor de família”.

Uma sociedade sem mães seria uma sociedade sem piedade, com lugar apenas para o cálculo e a especulação.
Com efeito as mães, mesmo nos momentos piores, sabem testemunhar a ternura, a dedicação incondicional, a força da esperança.

Aprendi muito com as mães que, (…) dão, literalmente, a vida para que nenhum dos filhos se perca. Onde estiver a mãe, há unidade, há sentido de pertença: pertença de filhos.”

Não somos órfãos espirituais

“Começar o ano lembrando a bondade de Deus no rosto materno de Maria, no rosto materno da Igreja, nos rostos de nossas mães, nos protege daquela doença corrosiva que é a “orfandade espiritual”: a orfandade que a alma vive quando se sente sem mãe e lhe falta a ternura de Deus; a orfandade que vivemos quando se apaga em nós o sentido de pertença a uma família, a um povo, a uma terra, ao nosso Deus; a orfandade que se aninha no coração narcisista que sabe olhar só para si mesmo e para os seus interesses, e cresce quando esquecemos que a vida foi um dom -dela somos devedores a outros- e somos convidados a partilhá-la nesta casa comum”.

A orfandade de Caim

O Santo Padre continuou suas palavras afirmando que “Foi esta orfandade auto referencial que levou Caim a dizer: “Sou, porventura, guarda do meu irmão? “. Como se declarasse: ele não me pertence, não o reconheço. Tal atitude de orfandade espiritual é um câncer que silenciosamente enfraquece e degrada a alma.
E assim, pouco a pouco, vamos nos degradando: já que ninguém nos pertence e nós não pertencemos a ninguém degrado a terra, porque não me pertence; degrado os outros, porque não me pertencem; degrado a Deus, porque não Lhe pertenço; e, por fim, acabamos por nos degradar a nós próprios, porque esquecemos quem somos e o “nome” divino que temos”.

Orfandade: vazio e solidão de nossos dias

“A perda dos laços que nos unem, típica da nossa cultura fragmentada e desunida, diz Francisco, faz com que cresça esta sensação de orfandade e, por conseguinte, de grande vazio e solidão.

A falta de contato físico (não o virtual) vai cauterizando os nossos corações, fazendo-lhes perder a capacidade da ternura e da maravilha, da piedade e da compaixão.
A orfandade espiritual faz-nos perder a memória do que significa ser filhos, ser netos, ser pais, ser avós, ser amigos, ser crentes; faz-nos perder a memória do valor da diversão, do canto, do riso, do repouso, da gratuidade. “

Celebrar a Santa Mãe de Deus

O Papa ainda frisou nas palavras ditas em sua homilia que “Celebrar a festa da Santa Mãe de Deus faz despontar novamente no rosto o sorriso de nos sentirmos povo, de sentir que nos pertencemos; saber que as pessoas, somente dentro duma comunidade, duma família, podem encontrar a “atmosfera”, o “calor” » que permite aprender a crescer humanamente, e não como meros objetos destinados a «consumir e ser consumidos». Celebrar a festa da Santa Mãe de Deus nos lembra que não somos mercadoria de troca nem terminais receptores de informação. Somos filhos, somos família, somos povo de Deus”.

“Celebrar a Santa Mãe de Deus nos impele a criar e cuidar espaços comuns que nos deem sentido de pertença, de enraizamento, que nos façam sentir em casa dentro das nossas cidades, em comunidades que nos unam e sustentem”. (JSG)

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