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Não substituir o crer com o saber, exorta Bovati no Retiro Espirituais da Cúria Romana

Ariccia – Itália (Quinta-feira, 05-03-2020, Gaudium Press) A “falta de fé” foi o tema central em uma das meditações feitas pelo Padre Pietro Bovati aos membros da Cúria Roma durante o Retiro Quaresmal que realizam em Ariccia e que se prolongam até a próxima sexta-feira.

Não substituir o crer com o saber, exorta Bovati no Retiro Espirituais da Cúria Romana-Foto VaticanNews.jpeg
 Por trás da idolatria encontra-se a corrupção,
o não mais reconhecer Deus, porque cada um se faz seu deus.
Foto: Vatican News

Partindo do episódio do bezerro de ouro, narrado no Êxodo, e como, nas outras meditações, reportando-se à história de Moisés, ao Evangelho de Mateus e aos Salmos. Pregador jesuíta afirmou que também “em nós existem fenômenos de cegueira, de idolatria, que é essencialmente uma falta de fé no Senhor Jesus, a incapacidade de viver verdadeiramente confiando-nos” a Ele.

Por trás da idolatria encontra-se a corrupção, o não mais reconhecer Deus, porque cada um faz-se seu deus. Foto: Vatican News

Pecado e falta de fé

Na verdade, a reflexão teve como centro o pecado, não como apresentado habitualmente enquanto transgressão à lei de Deus, mas como “falta de fé”.

Ele recordou que o primeiro dos preceitos do Decálogo faz referência a não ter outros deuses no lugar do único Deus e a não fazer imagens da divindade.

Esta última especificação, observou o secretário da Pontifícia Comissão Bíblica, foi considerada superada pelo povo cristão:
considera-se o ídolo, o fetiche, um legado do passado.

Um pecado não reconhecido

Para o Padre Bovati existe “uma cegueira gravíssima” que aflige a consciência, exatamente porque não é reconhecida.

Exatamente como quando no Evangelho de São João Jesus observa:

“Como dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado permanece”.

“É o pecado que não pode ser curado, porque não é reconhecido”, é o pecado negado, “e se assemelha ao pecado contra o Espírito: sem remédio”.

O pregador recordou que também no Evangelho de São Mateus, capítulo 23, encontra-se uma séria crítica à hipocrisia dos escribas, e também dos fariseus, que se apresentavam ao povo como modelos a ser seguido:

“A hipocrisia é mentira, porque substitui o bom agir pela aparência da bondade, falseia a prática devota porque ao invés de ser “a glória de Deus”, é endereçada à exaltação e à honra do homem.

A hipocrisia não sabe julgar, não sabe o que é o verdadeiro discernimento; é cega, não conhece a justiça, a misericórdia, a fidelidade, identifica o bem com práticas e realizações materiais.”

O princípio de toda desagregação em âmbito interpessoal e nas relações sociais

O centro da meditação do teólogo jesuíta foi o episódio do bezerro de ouro, narrado no Êxodo, capítulo 32:
Moisés está na montanha, Deus lhe diz que o povo se perverteu, e o faz usando um verbo que evoca a corrupção, um termo que se usa habitualmente, um termo que tem seu ponto central no não reconhecer Deus, ressaltou o pregador.

Daí é que “originam-se todos os males, porque não se ouve mais a voz do Senhor, mas se produzem distorções de diferente natureza propriamente porque se faz o seu deus, se faz a sua lei, se faz a sua beatitude”, destacou.

Para o Padre Bovati, também na Carta aos Romanos, São Paulo mostra que o fato de não mais reconhecer Deus como Deus é o princípio de toda desagregação em âmbito interpessoal, nas relações sociais e causa das desordens violentas que atingem a sociedade.

Preferir ver e não ouvir a voz de Deus, crer com o saber

A partir do texto do Êxodo, padre Bovati mostrou o fenômeno da idolatria evidenciando vários de seus aspectos: 

Ela nasce do desejo de certezas, do preferir “ver”, ao invés do ouvir a voz de Deus invisível.

Mas este fenômeno da idolatria, a sua rigidez, que é considerada sinônimo de solidez e perenidade, o aspecto claro e controlável da doutrina, até mesmo a sua qualidade intelectual, são aparências enganosas, se tal construção substitui a escuta humilde e permanente da voz de Deus que fala como espírito.

Se se substitui o crer com o saber, se se cessa de aderir a Deus, se crê certamente possuir a verdade, ao invés de buscá-la e ouvi-la em humilde docilidade.

Jesus venceu o mundo

O episódio do bezerro de ouro levou o pregador a deter-se sobre a importância da imagem pública no mundo virtual em que vivemos e a quando, por vezes, se torna followers de um objeto idolátrico.

O padre Bovati alertou para um culto talvez devoto e esplêndido na execução, mas sem o acolhimento de uma Palavra que transforma.

“Não bastam as cerimônias bem feitas, se elas não são fundadas na autêntica oração que é, em primeiro lugar, escuta” de Deus.

Foi central a evocação do Padre Bovati ao Evangelho de Mateus, em particular às tentações no deserto.
Jesus sai vitorioso e nos ensina o caminho para superar a nossa cegueira, ressaltou.

Jesus indica o caminho do servo.

“É isso que alarga o nosso coração, que nos faz entrar na ação de graças pela bondade do Senhor, porque seu amor é eterno. Jesus disse:
“Tende coragem, Eu venci o mundo”.

Eis que venceu também por nós, de modo que no reconhecimento também da nossa pouca fé possamos entoar o hino de louvor, voltando o olhar amoroso para Ele, nosso único Deus, o nosso Salvador. JSG

 

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