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Compatibilidade entre a beleza artística e a pobreza evangélica

Barcelona – Espanha (Terça-feira, 22-10-2013, Gaudium Press) O manejo informativo que alguns meios dão aos símbolos, ornamentos e obras da arte sacra da Igreja induz muitos a pensar que trata-se de luxo ou ostentação, e a julgá-los apressadamente como incompatíveis com os valores do Evangelho. Por este motivo resulta enriquecedora uma entrevista realizada pelo portal informativo católico Aleteia ao ourives Manuel Capdevila, a quem foi encomendado a fabricação do anel do Santo Padre Francisco e que explica o verdadeiro significado da joia, que tem uma função e um significado, e a arte que não contradiz a virtude da pobreza evangélica.

Joias e pobreza evangélica

A joia e a pobreza podem parecer antagônicas a um olhar superficial, mas esta não é a perspectiva de Capdevila, que vê as joias “não como algo chamativo nem de valor material, mas como algo simbólico, artístico e criativo”, explicou. “Os símbolos e a arte estão intimamente relacionados com o espiritual.”

O artista reconheceu que existem opiniões divergentes, mas convidou a observar outros aspectos. “Se as peças são concebidas como uma riqueza material, isso se choca frontalmente com a pobreza”, afirmou. “Mas se for concebida como uma criação, como uma peça artística depositaria de símbolos, ao contrário: pode transmitir e ajudar a enriquecer as pessoas”. No caso do anel do Papa, o anel é um símbolo de autoridade e foi concebido originalmente como um selo para garantir a autenticidade das comunicações e das disposições papais.

Capdevila alertou diante da tendência de julgar apressadamente as joias e ofereceu uma comparação para explicar por que seria errado condená-la. “Poderíamos fazer pinturas ou esculturas, que normalmente já são entendidas como arte, mas quando trata-se de joias não se entende muito e nós somos contra isso: o fato de trabalhar umas técnicas ou outras não tem de implicar a inclusão ou exclusão da arte.”

O anel do Papa

Sobre a parte específica feita para o Papa Francisco, o ourives comentou que foi encomendado por um Cardeal a quem tinha feito anteriormente alguns trabalhos. Como o Cardeal conhecia o Pontífice anteriormente, foi ele quem chamou o artista após o conclave. “Falamos sobre como fazê-lo e nos apresentaram algumas exigências: que tivesse uma base hexagonal e uma cruz; que o material fosse de prata e que fosse uma peça simples de design e fácil de transportar”, relatou. “Elaboramos uma série de propostas e desenhos, e os apresentamos, fomos trocando ideias e modificando as coisas até chegar a uma proposta concreta, a executamos e a entregamos no verão passado.”

De acordo com Capdevila, o anel do Papa comunica o ideal de pobreza, sendo uma obra de arte digna do ministério petrino. “A meu entender é a mínima expressão. É difícil fazer um anel mais simples”, comentou. “Fazer uma peça que tem a sua personalidade, sua força, -isso também é importante, tentar encontrar volumes e formas para ser elegante, moderna,… não é pouco o que conseguimos”. Apesar de durante todo o processo não ter tido contato direto com o Santo Padre, o ourives recebeu a notícia de que o trabalho foi bem recebido por Sua Santidade.

A casa de ourives a qual pertence Capdevila tem uma tradição de 100 anos no comércio e fez numerosos trabalhos para a Igreja durante esse tempo. Todo os trabalhos são feitos à mão, com base em desenhos originais feitos para cada necessidade. “A missão é fazer as partes também com o espírito, além do estritamente manual, com critérios artísticos. Personalizamos as peças e tentamos fazer com que tenham sua força como peças artísticas”. Entre os mais proeminentes trabalhos encontram-se pedaços da coroa sobre o altar maior do Mosteiro de Montserrat e do Santuário da Basílica da Sagrada Família, na Espanha. (GPE/EPC)

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