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O domínio da “tela” nas crianças e pré-adolescentes

Redação (Terça-feira, 05-09-2017, Gaudium Press) Tivemos a oportunidade, em artigo anterior, de nos perguntar se somos viciados digitais, assim como confirmar como esse fenômeno nos “rouba” o espaço que reservamos para os nossos e para Deus. Queremos considerar agora o crescimento do acesso, uso e abuso de dispositivos digitais por parte de crianças e pré-adolescentes.

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Segundo numerosos pediatras, psicólogos e educadores, o fenômeno do “domínio da tela”, é prejudicial ao normal desenvolvimento emocional e intelectual de uma criança pois, deixam de interagir com o mundo ao seu redor, isolando-se no mundo digital.

Mas acontece que, ao lado das crianças, encontramos pais constantemente apegados a dispositivos digitais. Isso os impossibilita, de certa forma, a estabelecer normas, uma vez que não são exemplo vivo do que não deve ser feito. Consideram mais cômodo, menos trabalhoso, dar mais liberdade, colocar um pequeno dispositivo em suas mãos, em vez de compartilhar, estar com ele, escutar-lhe.

A Dra. Steiner-Adair, autora do singular livro “A grande desconexão: proteção da infância e relações familiares na era digital”, ressalta dois importantes momentos no relacionar-se com a criança ou o pré-adolescente: a ida ao colégio, e mais ainda a volta do mesmo; porque aqui têm que conter-lhe suas andanças, suas preocupações, suas alegrias.

Os pais ficam preocupados, não sabem como lidar com esta situação difícil. Existem vantagens e desvantagens. As vantagens, dizem alguns, são o comunicar-nos com nossos filhos, que os jogos desenvolvem o pensamento, que na pré-adolescência trocam com amigos aumentando seu relacionamento social.

Mas, Ignacio Gath, psicólogo do Instituto de Neurologia Cognitiva de Buenos Aires, objeta que o pré-adolescente ficará exposto a sites inapropriados, que se corre o risco de que cheguem a ele pessoas desconhecidas, expondo-os a situações de vulnerabilidade. O debate é amplo…

As crianças pedem celulares em idades cada vez mais novas, por que não… se todos o têm?, dizem eles. Mas, pergunta-se: quais são os benefícios para o seu bem-estar, tanto emocional quanto social?

A psicóloga mexicana Tania Castro chama de “órfãos digitais” os “filhos cujos pais permitem mergulhar na tecnologia sem restrição alguma, com o objetivo de mantê-los tranquilos e sem protestar. Qual é o risco?, se pergunta esta psicóloga. É que, com o uso excessivo destes dispositivos eletrônicos os transforma em uma “babá eletrônica”. A televisão, em seu lugar de relevância, vai sendo gradualmente deslocada para os tablets, os celulares (com seus jogos e redes sociais), dando lugar para que “se perca o vínculo comunicativo entre pais e filhos” (ACI, 14 de maio de 2017).

Pesquisas em vários países mostram que as crianças passam entre 5 a 6 horas por dia na frente da tela, seja TV, celular ou Tablet. Reclamação singular das crianças no Reino Unido: 27% diz que seus pais têm normas duplas sobre a tecnologia… Diríamos nós: são “viciados digitais” e querem impedir que seus filhos sejam; o mau exemplo os trai. Há confrontos nas respostas: 60% dos pais acreditam que seu filho gasta muito tempo no dispositivo móvel em casa, mas 21% das crianças sentem que seus pais não ouvem porque estão em mensagens, ligações ou textos em seus celulares. Espantem-se: no Reino Unido, 39% das crianças se comunica por texto, e-mail ou redes sociais com seus pais, estando na mesma casa!

Este fenômeno de “encaixar a chupeta”, da “baba eletrônica”, da “paternidade distraída”, dos “órfãos digitais”, nos leva à consequente preocupação sobre a excessiva presença da tela nas crianças e pré-adolescentes.

As associações pediátricas alertam sobre o uso, especialmente em bebês, pois pode causar problemas de aprendizagem e psicomotricidade. Isso, muitos pais não sabem. Às vezes, pode produzir distúrbios de fala (ou específicos da linguagem) em crianças de 4 ou 5 anos que viveram acompanhados deles durante toda a infância. “Porque a imagem não tem uma palavra que acompanhe o processo de aprendizagem, é tanta a velocidade não parece ser um processamento adequado. As crianças preferem ver e interagir com o mundo digital em vez de criar cenários no mundo real. A redução da manipulação de objetos afeta a motricidade” (Clarín de Buenos Aires, 1-3-2017).

Ainda há repercussões sobre o comportamento, a saúde, o estudo: o uso excessivo em pré-adolescentes produz insônia e falta de descanso que levam a dificuldades de atenção, reduzindo o desempenho escolar; a diminuição da atividade física e exposição ao sol dá transtornos de peso; a troca on-line dificulta a aquisição de habilidades comunicacionais e sociais (um conflito on-line se soluciona com um clique, apagando o contato ou bloqueando-o).

Uma clara explicação é da psicóloga argentina Ileana Fischer, que coordena equipes no Centro Rascovsky. Recomenda -entre outras coisas- não dar telefone celular a menores de 2 anos. É o que vemos, crianças que ainda não falam, com os telefones celulares ou tablets de seus pais, impedindo isso que explorem o mundo de seu ambiente e se relacionem com os que os rodeiam.

Confirmando esta recomendação, a Academia Americana de Pediatria, com base em um estudo de 2010 da Kaiser Family Foundation, declara: “o cérebro de uma criança desenvolve-se rapidamente durante esses primeiros anos e as crianças aprendem melhor interagindo com as pessoas, do que com telas”. Distrai-los com telas não é a solução, você tem que ensinar-lhes para que se acalmem ou divertam-se por si mesmos.

Mais radicais em suas propostas estão a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria: as crianças não devem usar dispositivos eletrônicos portáteis antes dos 12 anos de idade. Afirmação surpreendente! E por que proporiam isso? Vejamos as observações de Cris Rowan, terapeuta pediátrico e especialista em desenvolvimento infantil, autor do livro “Infância virtual”, entra em polêmica propondo banir o uso para crianças menores que essa idade. Numerosas razões são colocadas no quadro de discussão, vejamos apenas algumas: 1) a exposição excessiva às tecnologias, mostrou-se associada a um deficit de atenção, atrasos cognitivos, problemas de aprendizagem, impulsividade e diminuição da autorregulação, por exemplo, crises de raiva. 2) Pouco movimento, desenvolvimento tardio. O movimento melhora a atenção e a capacidade de aprendizagem. 3) Aumento da obesidade. 4) De 9 e 10 anos, privados de sono, classificações afetadas negativamente. 5) Uso abusivo, fator causal no aumento da depressão infantil, ansiedade, transtornos de vinculação, deficit de atenção, comportamento infantil problemático. 6) Conteúdos violentos podem causar agressão infantil. 7) E quando são de alta velocidade contribuem para o deficit de atenção, diminuição da concentração e da memória. Quem não pode manter a atenção não pode aprender.

Deixamos em suas mãos estas informações para uma melhor ação neste delicado problema familiar. Que Deus e a Virgem os ajudem.

Por Pe. Fernando Gioia, [email protected]

(Originalmente publicado em LA PRENSA GRÁFICA de El Salvador, 4 de setembro de 2016)

Traduzido para o português por Emílio Portugal Coutinho

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