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A livraria que só deixa ler, conversar e tomar café, mas nada de "high tech"

Redação (Quinta-feira, 17-11-2016, Gaudium Press) Nos chega dos Estados Unidos uma notícia pitoresca, mas certamente com um grande plano de fundo, que talvez possa ser entendido como um lamento: a ‘Wind City Books’, uma livraria em Wyoming, proíbe -de uma maneira cortês- o uso em seu interior de laptops, celulares, tablets e todo tipo de objetos cibernéticos existentes ou por aparecer.

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“Bem-vindo a um lugar para livros e para tomar um café. Por favor, deixe seu smartphone e seu laptop guardados. Dê um tempo! Viva como se estivesse em 1993. Os e-mails podem esperar”, diz um cartaz na entrada. Evidentemente a ‘Wind City Books’ não tem Wifi…

A simpatia com a qual muitos veem o anúncio desta livraria corresponde a uma realidade cada vez mais percebida: não podemos nos separar desses aparatos, mas estamos sentindo que nos afligem, nos tiram a paz. É algo assim como uma dependência, que vai se transformando em muitos em um vício: os aparatos nos oferecem coisas que agradam ou são úteis, ao mesmo tempo que vão conquistando um domínio progressivo em nosso espírito; e ao lado dessas que agradam, vem muitas que desagradam.

Sim, é um senhorio o do ‘high tech’ que vai se tornando total, dominante, quase absoluto, que também pode ter aspectos paranoicos ou não tão paranoicos, por exemplo quando lemos notícias como a publicada pela revista brasileira Veja, que diz que o Google guarda a cópia de muitos diálogos realizados nos dispositivos Android que usamos, ou que a Samsung gravava conversas particulares feitas diante de suas Smart TVs, ou que nada mais nada menos o diretor do FBI pega nas câmeras de seus computadores a hoje famosa cintica, pois já viu “pessoas mais inteligentes que eu usando-a”…

Não há saída, como tudo o que é bom, e não tão bom, temos que colocar um ponto, temos que estabelecer limites.

Primeiro porque a comunicação tipo Smartphone atrofia a rica convivência humana, algo evidente. Mas também porque tudo indica que o uso exagerado dos aparatos reduz certas qualidades de espírito, como por exemplo a profundidade na análise, a capacidade de examinar e degustar textos longos, ou textos de mera escrita. Resulta que vamos nos acostumando a que tudo tem que vir com desenhos ou fotografias chamativas, ou com modelos ou ilustrações interativas, e melhor se for em formatos bem curtos, com hiperlinks a outros textos bem curtos, porque senão a preguiça… o que passe de uma página, já é visto com receio.

Assim, o homem vai se transformando no ser do imediato, no hiper informado de coisas com frequência impactantes mas intranscedentes; o homem vai sendo escravizado pela informação superficial, sensacionalista e de espetáculo, e vai abandonando a reflexão, o uso maravilhoso da inteligência que Deus nos deu.

É certo que investigações mostram que ao homem de hoje lhe agrada não somente consumir notícias, mas também produzi-las; é o famoso ‘prosumer’ de que falam certos teóricos. Mas nos perguntamos que tipo de informação produz este ‘prosumer’, se não será uma informação como a que consome, quer dizer, com frequência superficial, assombrosa, sensacional, mas com pouca substância, e por isso intranscedente, que não deixa rastros.

Cremos que em uma sociedade de hiper informação tipo espetáculo, seguem conservando a liderança aqueles que não ficam no espetáculo, mas que aprofundam, analisam, pensam, degustam, se formam, e finalmente emitem coisas com substâncias e com isso orientam, dirigem.

Para não deixar-nos contaminar dessa comunicação imediatista, que ao final deixa uma sensação de vazio, é pois, necessário, colocar-lhe limites, e buscar alternativas, que são as já clássicas. Limites, como por exemplo, revisar redes sociais somente em certos horários, determinados por cada um. Alternativas como determinar espaços específicos para a leitura de um bom livro, seja de literatura, ou de um importante tema de atualidade, ou de formação profissional, humana ou espiritual. Leituras que não nos convertem em meros sujeitos passivos, mas que nos incentivam a criar, a pensar, a contradizer, a meditar, no fundo a ser humanos, porque segue sendo certo que somos animais racionais, que a razão é o que nos distingue dos bichos, que assim nos tornamos semelhantes ao Criador.

Por Saúl Castiblanco

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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