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Quando lençóis branco-azulados levam à virtude da pureza…

Redação (Quarta-feira, 14/09/2016, Gaudium Press) – Publicamos comentários feitos a propósito da obra “O Dom de Sabedoria na Mente, Vida e Obra de Plinio Corrêa de Oliveira”, recentemente publicada, em cinco volumes, pelos Arautos do Evangelho, em parceria com a Libreria Editrice Vaticana:

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“Em minha primeira infância, eu sentia uma espécie de harmonia interna, por onde via tudo bem ordenado e acolhedor, sem lutas interiores. De maneira que tinha, sucessivamente, estados de espírito bem diversos, os quais não entravam em choque uns com os outros, por mais diferentes que fossem. Isso me dava uma grande alegria, parecendo brotar de uma fonte muito mais alta que eu, inundando-me. E isso era assim antes dos três anos de idade. Daí provinha uma grande felicidade de viver. O fato deu ser eu, me causava muito contentamento”. (1)

Desta maneira descrevia Plinio Corrêa de Oliveira a alegria que inundava sua alma fruto da inocência, e dos júbilos que, como analisei em outro artigo, provinham de sua visão inocente da ordem do universo.

Eram muitas as ocasiões em que uma especial luz incidia no espírito do jovem Plinio, a partir de seres materiais. Até uma simples troca de lençóis lhe trazia alto gozo:

“Nos sábados à noite, seguindo um hábito estabelecido por minha mãe trocava-se a roupa de cama, lavada em casa por Madalena [a empregada]”. Na época aplicava-se nas peças de roupa de cama “um produto que as deixava um tanto azuladas… e deliciosas. (…) A cama me parecia ser inteiramente nova. Antes de dormir, eu contemplava o tecido e tinha o costume tentar descobrir qual era o ponto do lençol ou da fronha em que a cor azulada aparecia mais nitidamente. Depois de tê-lo encontrado, deitava, passava a mão por baixo do travesseiro -tinha o costume de dormir assim- e sentia aquele frescor do pijama, percebendo que aquilo era bom e deveria ser assim. Esse bem-estar, acentuado pela boa categoria do tecido, me dava uma alegria reta e ordenada, porém o que me causava mais satisfação era ver exatamente que tudo isso tinha uma relação com a inocência e a santidade. Aquela roupa de cama me parecia nimbada de alguma coisa que era, no fundo, a pureza.

Deitar-me ali me causava um bem-estar físico, corolário desse prazer espiritual”. [2]

O branco azulado de um lençol o transportava a um reino de pureza perfeita. Igualmente a contemplação dos cisnes que deslizavam, limpos e aristocráticos, no lago do Jardim da Luz, como que proclamando a beleza da castidade”. [3] Os movimentos dos cisnes, sua brancura, sua elegância, sua finura, o transportavam a um mundo maravilhoso, onde não cabia a maldade, a impiedade, a sujeira, o pecado.

Algo semelhante ocorria na contemplação de Veneza.

Um dia, sendo menino, ao contemplar uma esplêndida fotografia de Veneza “a ideia da beleza estava presente, mas de modo secundário: tratava-se de um estado de espírito e uma elevação moral.

Os edifícios que se refletiam-na laguna indicavam um estilo de vida levado por personagens que possuíam os sentimentos e o modo de ser que me agradavam. Eles seriam de trato aprazível e atraente, sérios, graves, elevadíssimos, afetuosos e dignos”. E ao embelezá-la em seu espírito, a Veneza arquetípica “significava para mim um passo rumo à santificação. Não no sentido de que aquelas casas e aquela água me levassem diretamente à santidade, mas que elas me preparavam para querer e admirar tudo quanto é sublime e, com isto, desejar a sublimidade de alma. De tal maneira que, insensivelmente, eu ia conformando minha alma com aquele ideal e notava que ele me modelava. Assim nasceu em minha alma o desejo de santidade”. [4] E, portanto, o desejo de uma pureza total.

Evidentemente seu caminhar na prática eximia da virtude angélica não era fruto de um esforço só natural. A castidade perfeita não é um presente oferecido pela natureza. A par de uma a firme resolução de conservar sua pureza “custasse o que custasse” -o que o levava a evitar “inclusive as ocasiões mais distantes da impureza” [5] Dr. Plinio contou com o maravilhoso ambiente gerado pela doce presença de sua mãe, Dona Lucília, que “era o parapeito que me resguardava do abismo, era o muro que me separava das regiões obscuras e nefandas de meu próprio ser, e era, portanto, minha própria defesa”. [6] E, o mais importante, adquiriu uma muito especial devoção a Nossa Senhora, medianeira de todas as graças: “Ele era muito jovem e, ainda que habituado, sem dar-se conta, à mais alta forma de oração, que é a contemplativa, até esse momento não havia tomado o hábito da oração vocal -explica Mons. João Clá Dias em sua obra O Dom de Sabedoria na Mente, Vida e Obra de Plinio Corrêa de Oliveira. O fragor da batalha [pela prática da castidade] o moveu a esste avanço, pois tanta era a dificuldade que chegou a pensar que não conseguiria vencer: ‘Comecei a rezar e rezar a Nossa Senhora: “Os outros são melhores que eu e não precisam de milagre para ser puros; eu preciso, porque eu não aguento, eu necessito! Dá me uma força qualquer para conseguir a pureza”‘. O socorro d’Aquela que é Consoladora dos aflitos não se fez esperar: ‘Ela interveio e me deu forças novas. Aquele furacão de tentações se foi apaziguando e foi empurrado de lado, e eu comecei a gozar de um período extremamente agradável de tranquilidade, de segurança e de paz no hábito da prática da castidade”, declarou Dr. Plinio. [7]

Também foi determinante neste caminhar, que o jovem Plinio tivesse a forte convicção de que a impureza lhe faria perder a felicidade de viver o “Castelo Dourado” onde ele habitava:

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“Gostaria eu aquela bela placidez a que estava habituado e faria cessar o cântico angélico que sentia dentro de mim; seria uma pedrada que eu lançaria nesse paraíso interior, maravilhoso e sapiencial, nesse mundo de porcelana e de cristal, através do qual se filtrava a própria luz de Deus. Eu me abriria para a ignominia, degradaria minha vida, apostataria de minha mentalidade mais cedo ou mais tarde, entregaria meus valores de modo irremediável e perderia minha alma para sempre. (…) Assim, a batalha da pureza me fez entender melhor a relação entre a atmosfera diamantina em função da qual eu me movia desde pequeno -minha inocência primeira no fundo- e todo o panorama da Igreja Católica e do mundo sobrenatural, do qual a impureza era o contrário repugnante, repulsivo e censurável”, sustentava Dr. Plinio. [8]

Por Saúl Castiblanco

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1 Plinio Corrêa de Oliveira. Notas Autobiográficas – Volumen I. Editora Retornarei. São Paulo. p. 123
2 Ibídem. pp. 323-324
3 Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP. O Dom de Sabedoria na Mente, Vida e Obra de Plinio Corrêa de Oliveira. Vol II – Juventude: A Sabiduria posta à prova. Libreria Editrice Vaticana – Instituto Lumen Sapientiae. São Paulo. 2016. p. 43
4 Plinio Corrêa de Oliveira. Op. cit. pp. 543-548
5 Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP. Op. cit. pp. 34-35.
6 Ibídem. p. 41
7 Ibídem. pp. 43-45
8 Ibídem. p. 39

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