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Artigo: A analogia e a presença de Deus na Ordem do Universo

Redação (Terça-feira, 25-08-2010, Gaudium Press)

 

Filosoficamente falando – quer dizer, sem entrar nos terrenos da fé ou da mística – é impossível para o homem conhecer diretamente, de forma intuitiva, a essência divina. Como afirma Jesús García López em sua “Metafísica tomista”, “a Deus se alcança a partir de coisas sensíveis e do homem mesmo, remontando-nos nas asas da abstração e da demonstração, com a ajuda inapreciável da analogia” (Eunsa, 2001, p.501).

Para tanto, temos que buscar Deus em suas obras. E dizemos “temos” porque as mais profundas ânsias de nosso ser clamam por encontrá-Lo, nos impelem a Ele. Uma mínima introspecção nos evidencia que nada nos sacia de uma maneira algo plena, se não tem contato com o Absoluto, com o infinito, enfim, com a Divindade. Porém essa introspecção também nos mostra que nas vezes em que “tocamos” no Absoluto, nossas almas encontraram sua morada.

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Afirma-se acima que a analogia é uma ajuda estimadíssima para chegar a Deus. O que é a analogia? Uma coisa é análoga à outra quando é semelhante, porém não igual. É uma semelhança imperfeita. A semelhança perfeita seria a identidade; a semelhança imperfeita comporta diferenças, dessemelhanças. Exemplifiquemos com uma aplicação analógica do conceito “leão”.

O termo “leão” expressa de forma própria o animal mamífero, carnívoro, que vive em seu habitát natural na África e na Ásia, de machos de juba, etc. Porém muitas vezes se utilizou esse mesmo termo para se referir a um homem, e inclusive ao próprio Filho de Deus humanado: Ele é o Leão da tribo de Judá. Neste último caso, estamos empregando o termo leão de uma forma análoga. Diz São Tomás em “De Veritate” que “o “nome de leão não se transfere a Deus pela conveniência que há na sensibilidade (na animalidade do leão), mas pela conveniência em alguma propriedade do leão”; quer dizer, no leão está presente o arrojo, a força, a audácia, e isso se encontra em grau superlativo em Deus, em Cristo, cujo caminho ao calvário exemplificou de maneira máxima estas qualidades.

“Qualidade”: palavra-chave. Como afirma também García López, desta vez em seus “Estudos de Metafísica Tomista”, se o idêntico é o um na substância, e o igual é o um na quantidade, o semelhante é “o um na qualidade” (Eunsa, 1976, p.35). No exemplo dado, a audácia, o arrojo e a força são em ess?ncia as mesmas qualidades em Deus e no leão. É claro que em Deus elas estão presentes de modo infinito, absoluto, atualíssimo, etc… e que Deus é causa de todas as qualidades que podemos encontrar no Universo. Mas quem olha um leão ou qualquer criatura com olhos “à procura de Deus”, poderá achar Deus presente nas qualidades que se manifestam nas criaturas, pois ambos – Deus e criatura – as compartilham. Porque a criatura participa das perfeições do Criador.

E assim como fizemos da mão de São Tomás com o leão, podemos fazer com as montanhas, com os entardeceres, com o mar, mas mais particularmente, com as qualidades presentes nos homens, que não são somente semelhança, senão imagem de Deus.

Saúl Castiblanco

 

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