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A corajosa atitude de Verônica

Redação (Terça-feira, 05-11-2019 Gaudium Press) Jesus havia sido flagelado, coroado de espinhos e estava com uma cana de irrisão entre as mãos amarradas. Pilatos, então, conduziu-O para fora do palácio e disse: “Eis o Homem!” (Jo 19, 5).

A corajosa atitude de Verônica-Sacro Monte di Varallo, Itália-Arquivo Gaudium Press.jpg

 

O Homem mais fabuloso da face da Terra

Comenta Monsenhor João Clá:

“O Rei do universo, o Homem-Deus, era apresentado ao povo como “o Homem”, nas condições as mais aviltantes possíveis. Cena pungente, mas também extraordinariamente simbólica.

“Consideremos Adão, criado por Deus como modelo perfeitíssimo do gênero humano. Todos os privilégios sobrenaturais, preternaturais e naturais lhe foram dados em abundância, numa proporção difícil de ser concebida por nós.

“Era um varão magnífico, digno de admiração por ter sido moldado diretamente pelas mãos divinas. Ao terminar de criá-lo, Deus poderia ter exclamado com júbilo: “Eis o homem!”.

“Os próprios Anjos, quando contemplavam Adão no Paraíso, se encantavam por ver a beleza que Deus nele havia depositado, adornando-o de dons e qualidades, e fazendo-o participar em alto grau da natureza divina. Só lhe faltava um ponto: que aquela graça desabrochasse em glória. E desta vida passaria para a eternidade sem a morte, transformando-se a fé em visão, a
esperança em realidade e a caridade estaria consumada por todo o sempre.

“Entretanto, satanás conseguiu, por meio do pecado, fazer desta perfeição de homem um horror. E depois, olhando para Deus, talvez tenha querido referir-se a Adão dando gargalhadas e dizendo: eis o homem!… Tão repugnantes ficaram Adão e Eva que Deus os expulsou do Paraíso e pôs Querubins à porta para lhes impedir o acesso, porque eram indignos de viver ali (cf. Gn 3, 23-24). Começa, então, a História de uma humanidade infiel, insubmissa aos ditames de Deus.

“No extremo oposto – que oposto e que extremo! -, nessa cena do Ecce Homo encontramos o verdadeiro primogênito da humanidade, o Novo Adão, este muitíssimo mais perfeito do que o primeiro. Sua Alma, unida hipostaticamente à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, não deixou de estar um só instante na posse da visão beatífica, de forma que não era possível haver alma superior a ela. Santa, nunca se afastara da divindade.

Deus agia como ela e ela agia como o próprio Deus. Tampouco podia haver inteligência mais brilhante. Sua vontade superexcelente aderia a tudo o que o entendimento e a visão beatífica lhe mostravam. E sua sensibilidade puríssima era de uma delicadeza extraordinária. Qualquer elogio seria insuficiente para Ele, pois era o Homem mais fabuloso da face da Terra.”

E este Homem ali se encontrava “desprezado como o último dos mortais, […] coberto de dores, cheio de sofrimentos” (Is 53, 3).

Estado da opinião pública

Colocaram, então, uma Cruz às costas do Divino Salvador e O obrigaram a caminhar para o Monte Calvário.

Em que estado se encontrava a opinião pública face ao Divino Salvador?

Explica Dr. Plinio Corrêa de Oliveira que havia sido criada uma onda de calúnias contra Nosso Senhor, a qual levava, em primeiro lugar, os muito ruins, que eram uma minoria bem colocada, poderosa e influente.

A partir da tintura-mãe dessa maldade da minoria, a onda começou a crescer e passou a tomar os ambiciosos, os que se vendiam, aqueles que não queriam o mal pelo mal, mas se amavam tanto que, colocados diante de Nosso Senhor Jesus Cristo, eram capazes de dizer: “Ele é muito bom, mas ficarei popular, bem-visto, terei importância, se ajudar a calúnia. Portanto, para que os
maus me batam as palmas, me glorifiquem, vou também, embora não tenha certeza, começar a falar mal de Jesus.”

Depois desses maus de segundo grau, outra zona moral do povo foi
atingida: a dos moles. “Se eu disser o que penso, serei perseguido, e isso não quero. Embora verifique que contra Jesus esteja se fazendo uma injustiça abominável, uma ignomínia, uma infâmia, essas coisas são com Ele, não comigo! Quero levar vida fácil, agradável, de maneira que eu possa me instalar bem nesta Terra. Comprometo a minha carreira, tomando a defesa de Jesus. Logo, vou também falar mal d’Ele.”

Outro tipo de moloide diria: “Falar mal é horrível. Sou um homem reto e
não farei isso. Simplesmente não falarei bem. E quando disserem d’Ele, diante de mim, as coisas mais inverossímeis, ficarei quieto. “

Em seguida, havia a coorte imensa dos voluntariamente imbecis: “Não tenho bastante capacidade intelectual para me situar diante desse problema. Se eu o visse com clareza, tomaria posição. Mas Deus me deu uma inteligência pequena, não tenho muito jeito para resolver isto. De maneira que vou fechar os olhos e deixar correr o marfim. “

Essas várias zonas do povo foram sendo atingidas, estabelecendo-se
em torno de Nosso Senhor o vazio.

Verônica quebrou o vazio

E Jesus carregava a Cruz, sendo golpeado com chicotes. Mas houve uma mulher de grande valor que rompeu com a opinião pública abobalhada, quebrou o vazio, aproximou-se cheia de veneração do Redentor e, com um véu, enxugou seu divino rosto.

Milagrosamente a face de Jesus ficou impressa no véu.

Diz “a tradição que essa mulher intrépida se chamava Seráfia. E o seu nome de Verônica não seria mais que uma alusão à Santa Face: Vera icon, verdadeira imagem”.

Escreve Dr. Plinio:

“Dir-se-ia, à primeira vista, que prêmio maior jamais houve na História. Com efeito, que rei teve nas mãos tecido mais precioso do que aquele Véu? Que general teve bandeira mais augusta? Que gesto de coragem e dedicação foi recompensado com favor mais extraordinário?

“Entretanto, há uma graça que vale muito mais do que a de possuir milagrosamente estampada num véu a santa face do Salvador. No Véu, a representação da face divina foi feita como num quadro. Na Santa Igreja Católica Apostólica Romana ela é feita como num espelho.

“Em suas instituições, em sua doutrina, em suas leis, em sua unidade, em sua universalidade, em sua insuperável catolicidade, a Igreja é um verdadeiro espelho no qual se reflete nosso Divino Salvador. Mais ainda, Ela é o próprio Corpo Místico de Cristo.”

Pertencer à Santa Igreja é uma graça muito maior do que o dom recebido por Verônica. Que Nossa Senhora nos conceda graças superabundantes e eficazes para amarmos e defendermos a Esposa de Cristo tão perseguida e traída em nossos dias.

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada – 214)

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1- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. VII, p. 332-333.

2- Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Homem-Deus II. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XIII, n. 152 (novembro 2010), p. 15-16.

3- BERTHE. CSSR. Jesus Christo – sua vida, sua Paixão, seu triunpho. Einsiedeln (Suíça): Estabelecimentos Benziger. 1925, p. 391.

4- PRECES PRO OPPORTUNITATE DICENDAE. São Paulo. Edições Loyola. 2016. 3. ed., 2016, p. 213.

 

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