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Dois banquetes

Redação (Terça-feira, 21-05-2019, Gaudium Press) Entre as diversas parábolas narradas pelo Divino Mestre, uma delas Ele dirigiu de modo especial aos sumos sacerdotes e anciãos do povo.

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Parábola do banquete de casamento

“O Reino dos Céus é como a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho. E mandou os seus servos para chamar os convidados para a festa, mas estes não quiseram ir.

“O rei mandou outros servos, dizendo: ‘Dizei aos convidados: já preparei o banquete, os bois e os animais cevados já foram abatidos e tudo está pronto. Vinde para a festa!’ Mas os convidados não deram a menor atenção: um foi para o seu campo, outro para os seus negócios, outros agarraram os servos, bateram neles e os mataram. O rei ficou indignado e mandou suas tropas para matar aqueles assassinos e incendiar a cidade deles.

“Em seguida, o rei disse aos servos: ‘A festa de casamento está
pronta, mas os convidados não foram dignos dela. Portanto, ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes’. Então os servos saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala da festa ficou cheia de convidados.

“Quando o rei entrou para ver os convidados, observou aí um homem que não estava usando traje de festa e perguntou-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje de festa?’ Mas o homem nada respondeu.

“Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrai os pés e as mãos desse homem e jogai-o fora, na escuridão! Ali haverá choro e ranger de dentes.’ Porque muitos são chamados, e poucos são escolhidos” (Mt 22, 2-14).

União de Deus Filho com a humanidade

Explica Monsenhor João Clá:

“A exegese tradicional sempre interpretou a figura do rei como sendo o próprio Deus Pai, o qual comemora com um banquete a união do Filho com a humanidade, na Pessoa de Cristo.

“Para tão requintado banquete espiritual, Deus Pai manda convidar, em primeiro lugar, o povo eleito do Antigo Testamento, que deveria ter sua continuação no povo de Deus reunido no seio da Igreja Católica, plenitude da sinagoga.” Mas o povo eleito não quis ir.

E o segundo convite alguns o desprezaram alegando o cuidado do campo e dos negócios (cf. Mt 22, 5), que “representam aqui as preocupações da vida concreta que tantas vezes concentram a atenção do homem e o escravizam. Porque, como ensina Santo Agostinho, há apenas dois amores: o amor a Deus, levado até o esquecimento de si mesmo; ou o amor a si, levado até o esquecimento de Deus. Não existe uma terceira opção.”

E outros chegaram ao extremo de matarem os emissários do rei (cf. Mt 22, 6), os quais significam nesse caso os mártires que derramaram seu sangue por amor a Cristo e sua Igreja.

Então, os emissários do rei convidaram “todos os que encontraram, maus e bons. E a sala da festa ficou cheia de convidados” (Mt 22, 10).

Juízo particular e Juízo Final

“A todos o Criador chama de variadas formas, segundo os seus misteriosos desígnios. Depois de Se dirigir ao povo eleito por meio dos patriarcas e profetas, Deus envia seu próprio Filho para manifestar-Se a todos os homens, e este, num auge de amor, morre na Cruz pelos pecadores.

“Assim, à Antiga Lei sucede a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, mãe e mestra da Verdade, para conduzir a humanidade ao supremo banquete na eternidade.”

O rei inquire o homem que não estava em traje de festa, e ele nada respondeu (cf. Mt 22, 11-12).

Segundo os exegetas e teólogos, esse traje significa o estado de graça. Quanto ao silêncio do homem, ensina Santo Afonso Maria de Ligório:

“Seus próprios pecados taparam-lhe a boca. […] A alma ré de pecado, ao sair da vida e antes de ouvir a sentença, condena-se ela mesma ao Inferno.”

De fato, afirma o Catecismo da Igreja Católica que na hora do Juízo particular a própria consciência acusa a pessoa: “É pela recusa da graça nesta vida que cada um já se julga a si mesmo, recebe de acordo com suas obras e pode até condenar-se para a eternidade ao recusar o Espírito de amor.”

“Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrai os pés e as mãos desse homem e jogai-o fora, na escuridão! Ali haverá choro e ranger de dentes'” (Mt 22, 13).

Após a ressurreição dos mortos, no Juízo final quem estiver em estado de pecado mortal será lançado em corpo e alma no Inferno, onde há trevas, choro e ranger de dentes por toda a eternidade.

Reino de Maria: não um simples convite, mas uma imposição
Continua Monsenhor João Clá:

“Hoje a Providência quer que vivamos em função da esperança do banquete para o qual Deus vem atraindo insistentemente a humanidade: o triunfo do Imaculado Coração de Maria predito em Fátima. […]

“Pela oração e pela penitência, tão reiteradas vezes pedidas por Nossa Senhora, há de se operar uma verdadeira mudança dos corações.

“Todavia, não devemos imaginar que tal renovação possa se efetuar num ato instantâneo, e sim processivamente, por onde as almas, quer as inocentes, quer aquelas que recebem por especial graça a restauração da inocência perdida, vão aos poucos constituindo uma nova era.

“Assim como por ocasião da festa do casamento do Filho de Deus
com a humanidade, em relação ao banquete do Reino de Maria não podemos alegar as ocupações que nos prendem ao mundo. E muito menos agredir a quem no-lo anuncia, neste caso, a própria Santíssima Virgem, que em Fátima nos chamou a seguir seus caminhos.

“Temos de aceitar essa solicitação que, mais do que um simples convite, é uma imposição, porque vem de alguém infinitamente superior a qualquer rei da Antiguidade, o próprio Deus.”

Peçamos a Nossa Senhora que não permita mancharmos o “traje de festa”, ou seja, perdermos a vida da graça; devemos preferir morrer a praticar um pecado grave.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 193)

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1- Cf. A Cidade de Deus. Livro XIV, cap. 28.
2- SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Sermones abreviados para todas las dominicas del año. In: Obras Ascéticas. Madrid: BAC, 1954, t. II, p.648-649.
3- CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 679.
4- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. II, p. 393. 397. 399 passim.

 

 

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