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Jesus é aclamado com cânticos de entusiasmo

Redação (Terça-feira, 02-04-2019, Gaudium Press) Algumas semanas após a ressurreição de Lázaro, que causara enorme impacto em toda a opinião pública, Nosso Senhor partiu rumo a Jerusalém para a cerimônia da Páscoa.

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Cumpre-se a profecia de Zacarias

Todo judeu, a partir dos doze anos de idade, era obrigado a peregrinar anualmente a Jerusalém, por ocasião da Páscoa. Por isso, nas proximidades da Cidade Santa, os caminhos estavam repletos de gente. Ao saber que Jesus, montado num jumentinho, Se aproximava de Jerusalém, grande número de pessoas foram vê-Lo.

Então, “a numerosa multidão estendeu suas vestes pelo caminho, enquanto outros cortavam ramos das árvores, e os espalhavam pelo caminho. As multidões que iam na frente de Jesus e os que O seguiam, gritavam: ‘Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos Céus!’

“Quando Jesus entrou em Jerusalém a cidade inteira se agitou, e diziam: ‘Quem é este Homem?’ E as multidões respondiam: ‘Este é o Profeta Jesus, de Nazaré da Galileia'” (Mt 21, 8-11).

Comenta Monsenhor João Clá:

“Esse cortejo triunfal – mas quão modesto para Aquele que é Rei e Criador do universo! – realizava literalmente a profecia messiânica de Zacarias: ‘Dança de alegria, cidade de Sião; grita de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o teu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de uma jumenta’ (9, 9).”

As autoridades não homenagearam o Divino Mestre

“Na Antiguidade, os grandes heróis militares e os atletas vencedores eram saudados com ramos de palma, para honrá-los pelo triunfo alcançado. Portanto, Jesus quis que sua Paixão, cujo ápice se deu no Calvário, fosse marcada pelo triunfo já na abertura, antecipando a glória da Ressurreição que viria depois.”

“Nosso desejo seria de que esta entrada se verificasse de modo apoteótico, com um cortejo triunfal em que os jumentinhos carregassem, quando muito, os últimos auxiliares do Salvador.

“Ele mereceria desfilar num animal imponente, um elefante ou um belo corcel branco, semelhante àquele sobre o qual aparece figurado no Apocalipse, com uma espada entre os dentes (cf. Ap 19, 11-15).

“Pelo contrário, o Senhor prefere uma singela montaria, Se apresenta com suas vestes habituais, sem ostentar um manto real, e não Se faz anunciar. As autoridades – o sumo-pontífice, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo -, a quem caberia promover uma solenidade para recebê-Lo, não Lhe prestam homenagem. Nada do que acontecia estava à altura d’Ele!

“Contudo, se esta cena foi simples na sua exterioridade, foi riquíssima no que diz respeito à substância, pois ali estava o próprio Deus feito Homem. “Como gostaríamos de ter aquele burrico empalhado e conservado numa catedral! […]

O povo almejava uma felicidade meramente terrena

“Não há dúvida de que, com aqueles brados, a multidão reconhecia a realeza de Jesus como autêntico descendente de Davi.

Entretanto, eram aclamações baseadas numa perspectiva deformada, segundo a concepção – generalizada entre os judeus – de um Messias político que os libertaria do jugo romano e restauraria o reino de Israel, obtendo-lhe a supremacia sobre
todas as outras nações.

“Eles associavam a vinda desse Messias, portanto, mais a uma salvação temporal do que à salvação eterna. Assim, receberam Jesus com honras, na expectativa de que Ele, afinal, tomasse conta do poder e se iniciasse para os judeus uma época diferente.

“De fato, o Redentor abria uma era diferente, mas do ponto de vista sobrenatural. E eles, muito naturalistas, não percebiam isto. Em consequência, aquele contentamento que manifestavam não estava timbrado pela admiração à divindade de Cristo.

“Arrebatados por graças místicas e consolações extraordinárias, acolheram-No entre gritos e cânticos de entusiasmo, transbordando de alegria; porém, devido a esta mentalidade errada, aplicaram tais graças num rumo destoante dos desígnios de Deus.

“Desejosos de um reino humano, imaginavam como sendo o máximo sucesso ter um monarca dotado da capacidade de operar qualquer espécie de milagres, pois, deste modo, todos os seus problemas seriam resolvidos.

“No fundo, almejavam uma felicidade meramente terrena e com tal ardor a procuravam que, se fosse possível, quereriam passar a eternidade neste mundo. Numa palavra, eram “limbolatras”, ou seja, adoradores de uma situação que fizesse desta vida uma espécie de limbo, sem sofrimento nem gozo sobrenatural.

Nosso Senhor sabe o que O espera

“Estas reflexões contêm uma lição para nós: devemos ser muito cuidadosos em não nos aproveitarmos das graças para nossos interesses pessoais, e jamais nos apropriarmos dos dons de Deus para com eles nos autoprojetarmos buscando satisfazer nosso amor-próprio, vaidade e orgulho.”

Poucos dias depois, essa mesma opinião pública odiará Nosso Senhor e chegará a pedir a Pilatos que Ele fosse crucificado.

A esse respeito, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira faz esta observação:

“Os pintores católicos que reproduziram a cena apresentam Nosso Senhor recebendo com certo bom grado aquela homenagem, mas com um fundo de tristeza e ao mesmo tempo de severidade porque Ele compreendia o que aquilo tinha de vazio, e que o povo que O aclamava, sem pensar nisso, reconhecia a sua própria culpa. […] Ele desfila bondoso e triste; Ele sabe o que O espera.”

“Eis um ponto para nosso exame de consciência: eu, que me alegro ao ser tocado pela graça no fundo da alma, se não for vigilante e rígido comigo e consentir numa má solicitação – seja por pensamento, desejo ou olhar -, neste momento estarei encetando o mesmo caminho daqueles judeus e, em breve, o “Hosana!” cederá lugar ao “Crucifica-O!”

Que a Santíssima Virgem nos conceda a graça da perfeita vigilância não só quanto às circunstâncias externas, mas sobretudo em relação às más tendências que temos dentro de nós mesmos.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 188)

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1 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, v. V, p. 259.
2 – Idem, ibidem. 2013, v. I, p. 249.
3 – Idem, ibidem. 2014, v. III, p. 257-260.
4 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Palestra. São Paulo, 14 abr. 1984.
5 – CLÁ DIAS, op. cit. 2014, v. III, p. 261.

 

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