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A Santíssima Trindade em nossa alma

O supremo ato de amor de Deus pelos homens levou-O a querer habitar em nossa alma. Qual a condição para que a presença da Santíssima Trindade permaneça em nós?

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 Redação (04/06/2023 15:16, Gaudium Press) “Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”: estas são as palavras que repetem frequentemente os católicos em suas orações e ao longo do dia, ao fazer o sinal da Santa Cruz, e cujo profundo sentido, nunca poderão compreender inteiramente, pois trata-se de um dos principais mistérios de nossa Fé.

Pode-se chegar ao conhecimento da existência de Deus apenas pela razão. Entretanto, como entender um Deus que seja uno e trino? É uma verdade tão alta, que a ela nunca chegaríamos se não fosse a Revelação.[1]

Neste sentido, conta uma piedosa tradição que o grande Santo Agostinho, estando certa vez muito empenhado em compreender a Santíssima Trindade, sonhou que viu um menino na praia, esvaziando baldes e baldes de água do mar em um buraquinho que fizera na areia. Intrigado, perguntou-lhe o santo:

– Que fazes aqui, meu jovenzinho?

– Tento colocar toda a água do mar neste buraco de areia – respondeu o jovem.

– Mas, não vês ser isso impossível?

– Pois sabei, Agostinho, que mais fácil é transferir para aqui toda a água do mar do que vós compreenderdes o mistério da Santíssima Trindade.

“A sábia resposta fê-lo compreender a insuficiência da inteligência humana perante mistério tão sublime”.[2]

Deus habita em nossa na alma se…

Todavia, temos certeza de que algo infinitamente mais difícil do que colocar todo oceano num buraquinho de areia aconteceu:

Deus tanto amou o mundo que deu seu Filho unigênito (Jo 3,16).

São as palavras de Nosso Senhor dirigidas a Nicodemos, durante a “conversa noturna”. De fato, foi por puro amor que Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condená-lo, “mas para que o mundo fosse salvo por ele” (cf. Jo 3,17). Ora, antes mesmo da Encarnação, a própria criação do mundo deveu-se a um ato de amor de Deus, como afirma Santo Tomás: “As criaturas saíram da mão [divina] aberta pela chave do amor”.[3] Deste modo, poderíamos elencar os incontáveis benefícios que Deus concedeu à humanidade tanto em seu conjunto quanto a cada homem em particular: todos — absolutamente — foram criados por causa deste amor Divino.

Como não bastasse, Deus quis ainda estar presente em nossa alma, como Pai, Irmão e Amigo. Assim, aquele que recebe o Santo Batismo e possui a alegria ímpar de permanecer no estado de graça, torna-se templo da Santíssima Trindade e goza de uma relação com Deus perto da qual as mais íntimas uniões naturais tornam-se irrelevantes: “O Pai é quem nos adota, o Filho quem nos torna seus irmãos e co-herdeiros, o Espírito Santo quem nos consagra e nos torna templos vivos de Deus, e vem morar em nós em união com o Pai e o Filho”[4].

Este mesmo Deus, que o universo não pode conter, habita em nossas almas se… tivermos o cuidado de guardar este tesouro chamado “estado de graça”. Muito nos preocupamos com nossos recursos financeiros, com nossa conta bancária e com nossos bens materiais — tudo isto é indispensável, não há dúvida —, pois se não o fizermos, ninguém fará por nós.

Contudo é oportuno aproveitarmos esta solenidade para analisar se estamos dando o devido valor ao Deus Uno e Trino que habita em nós. Ele tanto nos amou que teve a bondade de nos criar, deu-nos o seu próprio Filho que nos salvou por sua morte, e a cada instante dá-nos mostras de sua Misericórdia. É verdade! Mas Ele deseja uma retribuição. Não como quem empresta um objeto e depois fica cobrando a devolução; de nenhum modo. Deus quer que O amemos agora para, após esta vida, poder nos dar a felicidade eterna.

Saibamos, portanto, guardar essa presença divina em nós, e aproveitemos esta solenidade para crescer em amor ao Deus que é Uno e Trino: Pai, Filho e Espírito Santo.

Por Lucas Rezende


[1] Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q. 32, a. 1.

[2] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos. Città del Vatticano: LEV, 2012, v. 5, p. 399.

[3] SÃO TOMÁS DE AQUINO. Super Sent. L. II, proœm.

[4] GONZÁLEZ ARINTERO, OP, Juan. Evolución mística. Salamanca: San Esteban, 1988, p. 209.

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