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O Reino de Deus, um reino de luta!

Os filhos da luz, vigilantes em relação ao inimigo que semeia o joio à sua volta e no seu interior, devem sobretudo confiar na força da graça, a qual faz os bons crescerem e se fortalecerem em meio aos combates.

Ceifando o trigo por Francois Louis Francais

Redação (22/05/2023 18:13, Gaudium Press) Deus revela os mistérios do Reino aos pequeninos (cf. Mt 11, 25). A palavra “pequeninos” não se refere às crianças, nem a pessoas sem importância ou de inteligência diminuta, mas àqueles que sabem reconhecer a infinita distância existente entre a condição de criatura e a onipotência de Deus, e vivem na alegria de depender inteiramente d’Ele.

Quem tem essa postura de alma compreende com facilidade os elevados princípios que Nosso Senhor nos transmite através de figuras simples, tiradas da realidade comum e corrente daquela época: o joio e o trigo.

Esta parábola, narrada à multidão e explicada mais tarde aos discípulos, às vezes é objeto de uma interpretação absurda, fruto da falta de estudo e meditação ou, quiçá, da pouca atenção prestada às inspirações da graça.

Segundo entendem alguns, a imagem do joio arrancado do campo apenas na hora da colheita teria sido empregada pelo Divino Mestre para demonstrar a inutilidade de qualquer combate ao mal por parte dos bons. Entretanto, o que Jesus ressalta nesta passagem é a necessidade de sermos vigilantes em face do inimigo, o qual nunca desiste do intuito de nos perder, e de lidarmos com ele de maneira prudente, aguardando o momento mais adequado para extirpá-lo.

Por que Deus permite a existência do mal?

Ao considerarmos a lição de paciência e prudência contida nessa parábola, com frequência surge a pergunta: por que Deus permite a existência do mal junto aos bons? Entre outras razões, porque se trata de uma condição essencial ao estado de prova, tanto para os homens quanto para os Anjos. É o que sugere a oração perfeita, ensinada pelo Salvador: quando rezamos o Pai-Nosso pedimos a graça de jamais sucumbir às tentações, mas não suplicamos que elas cessem.

Além de nos proporcionarem a ­oportunidade de adquirir méritos pela resistência e perseverança, as tentações são elemento indispensável para que certos aspectos da grandeza de Deus se manifestem. Ele tirou do nada o universo para a sua própria glória, desejando levar as criaturas inteligentes, Anjos e homens, a participarem de sua infinita felicidade. Antes, porém, cada uma deve ser submetida à prova, em função da qual o Criador mostrará sua misericórdia e justiça concedendo-lhe o prêmio ou o castigo; em outras palavras, o Céu ou o inferno.

A luta nos santifica

Forma-se, assim, um quadro em que se destaca o papel imprescindível da luta para a santificação dos filhos da luz. Luta guiada pela virtude da prudência, a qual indica o caminho mais curto e eficaz, todo feito de sabedoria, para se alcançar o fim.

Há na sociedade uma mistura entre a boa e a má semente que não pode ser eliminada e, muitas vezes, só se torna perceptível quando ambas estão crescidas. E tal é a quantidade de cizânia espalhada pelo inimigo, que o bem se torna uma porção reduzida no meio dela.

Ademais, cada um de nós carrega sementes de joio dentro de si, sejam inclinações ruins, sejam tentações ou mesmo inseguranças e aflições que o demônio explora para nos perturbar, e contra as quais temos de opor resistência não permitindo que nos dominem.

Vivendo no meio do joio sem pactuar com ele nem se deixar influenciar, os bons tornam patente o poder da vigilância e da oração na batalha contra as tentações e assaltos do inimigo.

Sempre que pedimos, a graça nos é dada em abundância; e mesmo a quem não reza Deus dispensa graças suficientes para a salvação. Se estamos determinados a praticar a virtude, tudo quanto contundir essa decisão interior não nos abalará nem nos causará prejuízo algum, mas, pelo contrário, nos fortalecerá.

No momento da colheita, distingue-se sem dificuldade a cizânia do trigo: arranca-se primeiro aquela, destinando-a ao fogo, e depois se recolhe este no celeiro. A certeza do juízo infalível de Deus, que separará bons e maus no fim do mundo concedendo a cada um o prêmio ou o castigo de seus merecimentos, incentiva-nos à confiança. Desde que nos mantenhamos no caminho do bem e procurando corresponder à graça, Ele não permitirá ao mal nos sufocar e destruir.

Nos momentos mais árduos do embate contra o mal, tenhamos presente que nossa oração é sempre ouvida pelo Céu. Deus pode demorar em atender, mas jamais nos abandonará, sobretudo quando Lhe pedirmos que vença o joio germinado dentro de nós. Lembremos que Ele é a Integridade e não rompe a aliança estabelecida com aqueles que confiam na onipotência do seu perdão.

A misericórdia, bondade e perdão infinito a nós concedidos por Deus, desde que reconheçamos nossa pequenez e saibamos louvá-Lo, não só com os lábios, mas também com os atos, lutando por sua glória nesta terra.

Mons João Scognamiglio Clá Dias, EP.

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 221-223, maio-julho 2020.

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