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O fim do celibato sacerdotal obrigatório está próximo?

O tema do celibato começa a estar presente nas declarações dos altos eclesiásticos, e também do Papa. O Cardeal Ouellet diz que o fim do celibato sacerdotal teria consequências imprevisíveis.

Foto: Sebbi Strauch/ Unplash

Foto: Sebbi Strauch/ Unplash

Redação (22/03/2023 09:32, Gaudium Press) ​​ O Cardeal Marc Ouellet, que até 12 de abril será Prefeito do Dicastério para os Bispos, dedicou algumas de suas últimas intervenções para destacar a importância do celibato sacerdotal na missão da Igreja, diante de uma certa onda que busca que ele não seja obrigatório, mas opcional na Igreja latina.

Em entrevista ao Tgcom24 em fevereiro passado, o cardeal canadense disse que o celibato dos sacerdotes “é um grande dom de Cristo à Igreja” e, por isso, “em vez de criticar o celibato, deveríamos valorizá-lo e incentivar as vocações, porque é um testemunho de fé”. Evidentemente, o Cardeal ressaltou também que “é necessária a graça de Deus para vivê-lo”.

Mais tarde, no âmbito da sua recente visita à Universidade Eclesiástica de São Dâmaso, concedeu uma entrevista à Aleteia e aí também se pronunciou sobre o assunto.

Sobre o tema a pergunta específica de José Antonio Méndez ao Cardeal Ouellet foi: No livro “Sacerdotes, amigos del Esposo” (Sacerdotes, amigos do Esposo) ele fala de “uma visão renovada do celibato”. O celibato sacerdotal continua sendo válido e útil para o presente e o futuro da Igreja, ou seria melhor acabar com ele, como pedem, por exemplo, algumas vozes do Sínodo alemão?

“O celibato foi muito fecundo ao longo da história e sempre será”, respondeu o cardeal Ouellet. “A força evangelizadora da Igreja Católica deve muito ao celibato dos sacerdotes e religiosos. De fato, o significado do celibato como vocação é um testemunho do amor absoluto de Deus”.

Mas o celibato é também, continuou o cardeal, “um testemunho de total disponibilidade para exercer o ministério como um serviço desinteressado que se converte em uma verdadeira paternidade espiritual. Cristo chamou seus apóstolos para deixar tudo para segui-lo. Aceitar esse chamado é uma confissão de fé na divindade de Cristo, porque só Deus pode exigir tanto amor e devolvê-lo. Acredito que uma mudança na disciplina eclesiástica sobre o celibato sacerdotal teria consequências imprevisíveis”.

Palavras do Papa

Essas consequências poderiam estar próximas?

Isso é algo que muitos se perguntam depois das palavras do Papa na recente entrevista que concedeu a Daniel Hadad da Infobae, em 10 de março passado, quando Francisco disse que “Não há contradição em um padre se casar. O celibato na igreja ocidental é uma prescrição temporal: não sei se se resolve de uma forma ou de outra, mas é provisório nesse sentido; não é eterno como a ordenação sacerdotal, que é para sempre, goste você ou não. Se você vai embora ou não é outra questão, mas é para sempre. Pelo contrário, o celibato é uma disciplina”.

— Ou seja, poderia ser revisto, questiona o jornalista do Infobae.

“Sim. Sim. De fato, todos na Igreja Oriental são casados. Ou aqueles que querem. Lá eles fazem uma escolha. Antes da ordenação, há a opção de se casar ou de ser celibatário”. Com efeito, os padres de rito oriental que são ordenados celibatários devem permanecer assim, e os bispos são escolhidos entre eles.

Mas a questão do celibato tem assombrado particularmente a intelectualidade católica desde o último sínodo sobre a Amazônia, quando não foram poucas as vozes que quiseram introduzir a ordenação dos virii probati, ‘homens confiáveis’, isto é, homens de comprovada fé e piedade, casados, que seriam possíveis candidatos ao ministério ordenado.

Naquela época, o Cardeal Robert Sarah, Prefeito Emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, publicou ‘a quatro mãos’ com o Papa Ratzinger a obra, Do mais profundo dos corações – Sobre o futuro dos sacerdotes, o significado do sacerdócio católico e o sentido do celibato, a qual defendia o celibato, e que certamente influenciou a redação da Exortação Apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, que decepcionou alguns porque não abriu as portas para a ordenação dos virii probati.

Vários analistas asseguraram então que a demissão de Mons. Georg Ganswëin da Prefeitura da Casa Pontifícia em 2020 se devia ao fato de que o Papa Francisco queria abrir essa porta para sacerdotes casados, mas que o livro de coautoria de Bento XVI o impediu de fazê-lo, pois mostraria uma não continuidade da atitude magistral dos dois Papas sobre esse ponto, uma continuidade que Francisco sempre quis apresentar, e que Mons. Ganswëin seria um ‘cúmplice’ dessa astúcia.

Verdade ou não, e tendo o Papa Ratzinger já falecido, as últimas palavras de Francisco a Infobae sobre o celibato parecem indicar que o Papa pensa sim em abrir a porta da opcionalidade, e que, em previsão disso, foram feitas declarações como as do Cardeal Ouellet ou as expressões mais recentes do Cardeal Sarah, quando no retiro espiritual que pregou para cerca de cinquenta sacerdotes em Ars, no início deste mês, afirmou que o celibato sacerdotal é de origem apostólica e deveria ser mantido.

Em todo caso, se Francisco introduzir a possibilidade do celibato opcional, será uma ocasião para os defensores do celibato aproveitarem essas circunstâncias para divulgar suas razões, a história e a teologia do celibato sacerdotal. (SCM)

 

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