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São José, a quem o Criador do Universo chamou de pai

Eis alguns traços deste herói insuperável e verdadeiro Cruzado da Luz, São José.

Sao Jose menino

Redação (17/03/2023 18:20, Gaudium Press) O prólogo do Evangelho de São João é uma magnífica síntese de toda a obra da Encarnação e Redenção. Ao tratar, em seus versículos, da ação divina no mundo, por meio do Filho de Deus feito carne no seio puríssimo de Maria, o Evangelista dá a clave para interpretar o desenrolar dos acontecimentos desde a criação até o Juízo Final: a luta entre o bem e o mal. Esta é a essência da Historia, o fator que a explica em seu sentido mais profundo.

Com efeito, afirma o Discípulo Amado, referindo-se a Jesus Cristo: “A luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la” (Jo 1,5). Terrível confronto que será ainda melhor descrito por Nosso Senhor na conversa noturna com Nicodemos: “A luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz” (Jo 3,19a). E o motivo dessa péssima escolha é a desobediência à Lei divina: “porque suas ações eram más” (Jo 3,19b).

Ao nascer, Jesus encontra o mundo na escuridão, devido às loucuras e máculas do pecado. Por isso o Salvador é rejeitado pelos homens, pois “quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas” (Jo 3,20). Sim, aquele que anda nas vias tortuosas do vício, ao ver-se diante da luz percebe sua própria torpeza e procura esconder-se da claridade que revela seu lamentável estado.

Atitude inversa é a do homem virtuoso: “Quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus” (Jo 3,21). Está então delineada a fisionomia moral do bem e do mal: os filhos da luz amam a Deus e desejam d’Ele se acercar; os filhos das trevas O detestam e procuram distanciar-se, chegando ao extremo de querer destruí-Lo, se isso fosse possível. Nessa clave deve ser contemplada a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é, em sua Morte e Ressurreição, a luz vencedora das trevas; e seu triunfo foi tanto mais glorioso quanto maior foi o ódio desencadeado contra Ele pelo demônio e seus asseclas.

Todavia, antes de consumar essa derrota do mal no alto do Calvário, Nosso Senhor determinou entrar na História humana longe do fausto dos palácios, no silêncio de um refúgio escondido e sujeito à debilidade da infância. Os únicos cortesãos do Rei dos reis foram sua incomparável Mãe, Maria, e seu pai virginal, São José, o varão justo por excelência, em tudo cumpridor da vontade de Deus. Junto a esse Casal imaculado e inocente quis nascer Jesus, mostrando assim sua preferencia pela mais elevada e sublime virtude.

José, o Cruzado da Luz

Sao Jose MRRAo enviar seu Filho ao mundo, o Pai bem sabia que Ele estaria cercado do ódio desenfreado e mortal dos maus, como evidenciará o sangrento episódio do martírio dos Santos Inocentes ordenado por Herodes. Entretanto, não O fez nascer num inexpugnável castelo construído sobre a rocha, não O muniu de exércitos numerosos e disciplinados, nem Lhe concedeu uma companhia de guardas que O escoltassem. As soluções de Deus são sempre mais belas!

O pequeno Jesus já estava amparado pelo afeto da melhor das mães, mas para defendê-Lo de tantos riscos um só homem foi escolhido: José, a quem o próprio Padre Eterno elegeu para ser, nesta terra, o pai virginal de Jesus. Ele será o braço forte do Todo-Poderoso para custodiar e salvar dos mais variados perigos o Filho de Deus e sua Mãe Santíssima.

Por isso, São José foi um varão dotado de altíssima sabedoria, de vigor indomável e de ilibada inocência. Ninguém, em toda a História, aliou como ele a mais fina esperteza à mais íntegra pureza, constituindo-se em peça-chave da vitória do bem sobre o mal.

Acerca das virtudes e dos excepcionais dons do casto esposo de Nossa Senhora, comenta Dr. Plinio:

“Casado com Aquela que é chamada de o Espelho da Justiça, pai adotivo do Leão de Judá, São José devia ser um modelo de fisionomia sapiencial, de castidade e de força. Um homem firme, cheio de inteligência e critério, capaz de tomar conta do segredo de Deus. Uma alma de fogo, ardente, contemplativa, mas também impregnada de carinho.

“Descendia da mais augusta dinastia que já houve no mundo, isto é, a de Davi. […] Como príncipe, conhecia também a missão de que estava imbuído, e a cumpriu de forma magnífica, contribuindo para a preservação, defesa e glorificação terrena de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em suas mãos confiara o Padre Eterno esse tesouro, o maior que jamais houve e haverá na História do universo! E tais mãos só podiam ser as de um autêntico chefe e dirigente, um homem de grande prudência e de profundo discernimento, bem como de elevado afeto, para cercar da meiguice adorativa e veneradora necessária o Filho de Deus humanado.

“Ao mesmo tempo, um homem pronto para enfrentar, com perspicácia e firmeza, qualquer dificuldade que se lhe apresentasse: fossem as de índole espiritual e interior, fossem as originadas pelas perseguições dos adversários de Nosso Senhor. […]

“Costuma-se apreciar e louvar, com justiça, a vocação de Godofredo de Bouillon, o vitorioso guerreiro que, na Primeira Cruzada, comandou as tropas católicas na conquista de Jerusalém. É uma linda proeza! Ele é o cruzado por excelência.

“Porém, muito mais do que retomar o Santo Sepulcro é defender o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo! E disso São José foi gloriosamente encarregado, tornando-se o cavaleiro-modelo na proteção do Rei dos reis e Senhor dos senhores”.[1]

O maior dentre os nascidos de mulher?

Sem dúvida, São José é o maior Santo da História, dotado com uma vocação mais alta que a dos Apóstolos e a de São João Batista, como apontam autores abalizados.[2] Esta afirmação se apoia no fato de o ministério de São José estar intimamente unido à Pessoa e missão redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo, participando de modo misterioso do plano hipostático. Tal proximidade com Deus feito Homem permitiu-lhe beneficiar-se como ninguém, depois de Nossa Senhora, dos efeitos da Encarnação, tendo sido santificado de forma superabundante por esse Menino Divino que o chamaria de pai, embora São José não tenha concorrido para sua geração natural.

Também não era conveniente que o escolhido para ser o esposo virgem de Nossa Senhora não estivesse à altura da criatura mais pura e mais santa saída das mãos de Deus. Em função disso, pode-se aventar a hipótese de ele ter sido santificado desde sua concepção, como sua Esposa?

De fato, muitas verdades ainda não manifestadas sobre a pessoa de São José devem ser proclamadas do alto dos telhados, a fim de deixar patente a grandeza oculta desse varão. Tanto mais que, nesta hora de crise e de tragédia na qual se encontra o mundo e a Igreja, sua figura há de tomar um realce providencial. O casto esposo de Maria aparecerá em todo o seu esplendor, como nunca antes na História, para que os fiéis recorram a ele enquanto insigne defensor dos bons.

Sim, São José já foi proclamado Patrono da Santa Igreja,[3] mas ainda não mostrou à humanidade a força de seu braço. Tempus faciendi! Estão chegando os dias em que, sob o amparo do pai virginal de Jesus, os escolhidos de Deus farão grandes proezas a fim de instaurar o Reino de Cristo sobre a terra, Reino de paz e de pureza, Reino também, por que não dizê-lo, de Maria e de José.

Extraído, com adaptações, de:

CLÁ DIAS, João Scognamiglio. São José: Quem o conhece?… São Paulo: Lumen Sapientiae, 2017, p. 21-27.


[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. São José, esposo de Maria e pai adotivo de Jesus. In: Dr. Plinio. São Paulo. Ano II. N.12 (Mar., 1999); p.14-15; 17.

[2] Cf. SUÁREZ, SJ, Francisco. Misterios de la vida de Cristo. In: Obras. Madrid: BAC, 1948, t.III, p.261-281.

[3] Cf. SAGRADA CONGREGAÇÃO DOS RITOS. Decreto Quemadmodum Deus, 8/12/1870.

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