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Cavalaria e guerra psicológica

Os cavaleiros da Idade Média combatiam fisicamente contra os principais inimigos da Igreja que utilizavam meios materiais. Atualmente, as forças do mal empregam a guerra psicológica revolucionária, visando destruir a Esposa Mística de Cristo e perder as almas.

Charlemagne and Pope Adrian I

Redação (30/01/2023 10:37, Gaudium Press) Sintetizamos alguns comentários feitos por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira[1], a respeito da Cavalaria medieval.

Na vigília preparatória para a cerimônia de recepção nessa gloriosa instituição, o jovem reza por si mesmo e por aqueles que receberão seus golpes de lança e espada. Aqui vemos caracterizado o amor ao próximo, por amor de Deus. O cavaleiro dá uma estocada no muçulmano e o derruba por terra, mas deseja a salvação eterna do homem que está abatendo, não quer lançá-lo no Inferno. Ao mesmo tempo em que o mata, reza para que ele se salve.

São Bernardo de Claraval afirma: o guerreiro que luta com ódio pessoal é como um assassino, mas quem combate contra um indivíduo porque este propaga o mal serve a Deus.

Antes da cerimônia, o jovem tomava um banho numa tina com água de rosas. Naqueles tempos ainda bárbaros o banho não era uma preocupação da pessoa. Como a Igreja promove o bem em tudo quanto faz e de todos os modos possíveis, mesmo naquilo que não está diretamente na sua missão, ela estabelece que o futuro cavaleiro precisa se banhar.

Ter em vista a maior das necessidades da Igreja

O cavaleiro era movido por um ideal cujo principal elemento é o alto sentido pelo qual combate. Ele é antes de tudo um católico apostólico romano, vive para a causa da Igreja e quer que ela vença.

Porém, não se trata de um querer sob qualquer aspecto, como um indivíduo que se preocupe com a arte sacra, coisa excelente para a causa da Esposa de Cristo. O cavaleiro é aquele que considera a maior das necessidades da Igreja no presente momento e a atende.

No tempo das Cruzadas, a luta contra os maometanos que perseguiam os católicos constituía uma necessidade primordial. De que valeria ter universidades, construir catedrais, castelos, fazer uma civilização esplêndida, se os muçulmanos entrassem e derrubassem tudo? Não teria adiantado de nada. Ou seja, as lutas contra os mouros era um ponto de importância tal que todo o resto dependia disso. Se nessa luta os católicos vencessem, tudo poderia se esperar; se não vencessem, tudo se perdia.

Dotado de uma particular forma de senso católico, o cavaleiro vai diretamente ao mais importante e ali aplica os seus recursos. É um homem que se dedica à salvação pública e ao que é supereminente dentro da Causa católica.

Outro elemento essencial da Cavalaria é o gosto pelo risco. O cavaleiro luta por sua vida, mas não hesita em expô-la pela causa à qual serve. É o herói católico que vai de encontro à morte para defender a Igreja e a Civilização Cristã naquilo que elas mais precisam. Essa noção de gosto pelo risco, pelo sacrifício, precisa ser especialmente acentuada, porque nela encontramos o traço mais característico do cavaleiro.

O cavaleiro que caminha a todo tropel rumo ao adversário para libertar o Santo Sepulcro sabe que pode ser morto, mas compreende que atinge a sua finalidade morrendo em holocausto por esse Deus que lhe proporcionou a vida. Assim, ele entra na glória e se une ao Criador por toda a eternidade.

A beleza desse salto no escuro e no desconhecido para encontrar do outro lado a luz eterna, a lógica e a clareza de entendimento com que a pessoa se atira têm uma força que é a mais bela ação do homem na vida. Essa alegria do homem no morrer e, portanto, no risco é propriamente o que dá dignidade à Cavalaria.

Artista da luta

Em certo sentido, o cavaleiro pode ser considerado o artista da luta, pois gosta da pugna bela, nobre, elevada. Por isso ele se orna para o combate, segue belas regras para lutar e morre sentindo ter feito uma obra de arte.

Por exemplo, Roland – o heroico par de Carlos Magno – está agonizando no campo de batalha. São Miguel Arcanjo aparece e ele lhe entrega a sua luva em sinal de vassalagem, porque São Miguel é o chefe do que eles chamavam a Cavalaria Celeste, composta pelos Anjos que expulsaram os demônios do Paraíso, lançando-os no Inferno.

Esta alegria, este entusiasmo, esta espécie de senso artístico da luta, do risco e da morte caracteriza o verdadeiro cavaleiro. Em torno dele vai se constituindo um cerimonial, ao qual gradualmente são incorporadas sua família e pessoas dos outros castelos, e se forma uma classe onde a educação é mais excelente, o palavreado mais elevado, mais florido e bonito, a distinção dos trajes e das maneiras floresce e surge a cortesia, a distinção própria dos cavaleiros.

Essa classe não rebaixa as outras, ela vai subindo mais ou menos como um balão que, ao elevar-se, fosse conduzindo toda a população consigo. A ascensão dos cavaleiros era a ascensão da nação inteira. Com os cavaleiros, os outros mais chucros aprimoravam a linguagem, a educação, iam se cultivando e acabando de se desbarbarizar.

Empregar todos os meios lícitos em favor do bem, da verdade, do belo

Em seu livro “Revolução e Contra-Revolução”[2], Dr. Plinio explica: A Revolução gnóstica e igualitária que se expande por todos os povos conquista as pessoas através da guerra psicológica, a qual visa a psique do homem, isto é, “trabalha-o” nas várias potências de sua alma, e em todas as fibras de sua mentalidade.

Ela emprega todos os meios a fim de levar os indivíduos para o mal, o erro e o feio em qualquer terreno: nas convicções religiosas, políticas, sociais e econômicas, nas impostações culturais, nas preferências artísticas, nos modos de ser e de agir em família, na profissão, na sociedade.

Contra essas formas de conquistas psicológicas, ou há uma conquista também psicológica ou não adianta nada. Então, os verdadeiros católicos devem empregar todos os meios lícitos em favor do bem, da verdade, do belo, visando a glória de Deus e a salvação das almas.

“A Causa Católica precisa ser defendida com espírito de Cavalaria. Portanto, se alguém injuria a Cruz diante de nós, devemos redarguir com coragem. Não, porém, como quem defende a própria honra, e sim a honra de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora.”[3]

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O ideal de Cavalaria, plenitude do espírito católico – I. In: Dr. Plinio. São Paulo. Ano. XXII, n. 259 (outubro 2019), p. 14-15; Flor e glória da Cristandade – II. Ano XXIII, n. 267 (junho 2020), p. 34.

[2] Cf. Idem. Revolução e Contra-Revolução. 5. ed. São Paulo: Retornarei. 2002, p. 173-174.

[3] Idem. Espírito de Cavalaria para exaltar a Santa Cruz.  In Dr. Plinio. São Paulo. Ano. XXV, n. 294 (setembro 2022), p. 4.

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