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Glória da Cristandade

A mais gloriosa instituição fundada na Idade Média foi a Cavalaria, que atingiu seu esplendor por ocasião das Cruzadas. Seu principal objetivo era combater os inimigos da Igreja e glorificá-la, bem como defender a Cristandade. 

Boniface of Montferrat

Redação (25/01/2023 16:44, Gaudium Press) O escritor católico francês Leon Gautier (1832-1897), autor da documentada obra “A Cavalaria”, apresenta muitos dados sobre essa instituição os quais sintetizamos a seguir.

A formação do cavaleiro se iniciava na infância. Aos cinco anos, ele já sabia jogar xadrez e montar admiravelmente um cavalo. Aos sete, recebia lições de educação, postura e boas maneiras, cujo conjunto se exprimia pela palavra “cortesia”. Dos sete aos quinze anos, aprendia esgrima, caça e equitação.

Prestes a ser armado cavaleiro, o jovem deixava a casa paterna e ia viver, durante vários anos, numa residência ou palácio de seu senhor que, às vezes, era o rei.

A Cavalaria não constituía uma casta; estava aberta a todos os jovens, mesmo os do povinho, porém geralmente nela entravam os nobres, filhos de cavaleiros. Não eram admitidos os de alma vil; por exemplo, Ricardo, Coração de Leão, futuro Rei da Inglaterra, quis ser recebido na Cavalaria quando jovem, mas não foi aceito porque se revoltara contra seu próprio pai.

Código da Cavalaria

A Igreja estava de tal modo unida à Cavalaria medieval que se pode afirmar ser esta uma instituição católica. Nos séculos XI e XII, época das Cruzadas, em que a Cavalaria era verdadeiramente varonil e sadia, ela era regida por um código de dez artigos, entre os quais destacamos:

– Tu crerás em tudo o que ensina a Igreja e observarás todos seus mandamentos.

– Protegerás a Igreja.

– Não recuarás diante do inimigo.

– Farás aos infiéis uma guerra sem tréguas e sem mercê.

– Serás, por toda a parte e sempre, o campeão do Direito e do Bem contra a injustiça e o mal.

Cerimônia de recepção

Em tempos de paz, a cerimônia de recepção do cavaleiro se realizava numa igreja, num mosteiro ou na capela de um castelo. E durante a guerra alguns eram armados cavaleiros em pleno campo de batalha.

Na véspera do dia marcado para a cerimônia, o jovem tomava banho numa tina com água de rosas aquecida. À noite, tendo já se confessado com um sacerdote, ele fazia na capela uma vigília de armas, durante a qual rezava de pé ou de joelhos; não podia se sentar. Sua espada permanecia sobre o altar. Começava suas orações invocando Nossa Senhora.  Pedia por si mesmo e pelos seus, bem como por aqueles que receberiam seus golpes.

Ao raiar da aurora, era celebrada uma Missa e ele comunga. Depois, o senhor de seu pai se aproximava tendo às mãos a espada; o jovem osculava seu pomo, que continha relíquias de santos. Seu progenitor lhe ordenava que baixasse a cabeça, desferia uma formidável palmada em sua nuca e dizia:

– Cavaleiro sejas, ó meu bom filho, e corajoso em face de teus inimigos!

– Eu o serei, se Deus me ajudar, respondia o jovem.

Terminada essa cerimônia, o novo cavaleiro ia para o castelo onde lhe era servida uma suculenta refeição matinal. Depois, traziam-lhe um enorme e vigoroso cavalo, presente de seu senhor; de um salto e sem tocar no estribo, ele se punha na sela. Entregavam-lhe um escudo que cobria todo seu corpo e uma lança em cuja ponta flutuava um gonfalão: uma bandeira de guerra feita de tecido colorido disposto em três faixas.

Ele esporeava o cavalo e, acompanhado de outros cavaleiros, partia como um raio em direção a uma planície junto ao castelo, onde havia um manequim feito geralmente de salgueiro, coberto com uma couraça e um escudo, colocado numa resistente estaca.

Esse manequim representava um inimigo da Igreja, um traidor. O novo cavaleiro, para demonstrar que, do alto de seu cavalo, sabia atingir o alvo, com sua lança quebrava o escudo, rasgava a couraça e, às vezes, derrubava a própria estaca.

Ao anoitecer, no castelo havia um solene jantar com músicas instrumentais e vocais. Sobre as mesas, cobertas por toalhas, estavam colocados os pratos, facas, colheres, taças e copos; ainda não existiam garfos e guardanapos. Entre os assentos dos convivas havia uma ordem hierárquica: primeiramente os eclesiásticos depois os senhores leigos, dispostos conforme seus cargos ou graus de nobreza.

No início da refeição, leva-se aos pobres que estavam nas proximidades grandes porções dos alimentos e vinho. No final, trovadores e cavaleiros cantavam.

No dia-a-dia, o bom cavaleiro dedicava as primeiras horas da manhã à vida de piedade: participação da Missa, orações; depois à caça e ao torneio, que eram exercícios preparatórios para a guerra. O torneio, combate entre dois grupos, ou de um cavaleiro contra outro, era precedido por um desafio verbal em alto e bom som. As espadas e lanças estavam desprovidas de pontas, para evitar ferimentos graves[1].

O tipo mais perfeito do cavaleiro é o Cruzado

Dr. Plinio Corrêa de Oliveira fez diversos comentários sobre a Cavalaria, que resumimos a seguir.

Uma das palavras na qual se sente o perfume da Civilização Cristã é “cavaleiro”. Ele é uma flor e uma glória da Cristandade. A tal ponto que o termo cavaleiro tem um nexo histórico e doutrinário muito merecido com a ideia de Cruzada. Quando se diz: “Fulano é um cruzado de tal ideal ou de tal causa”, dá-se a entender que é um homem abnegado, heroico, corajoso, dedicado, que não conhece obstáculo, enfim, um grande homem. O tipo mais perfeito do cavaleiro é o Cruzado.[2]

Na noite anterior à cerimônia de recepção, o futuro cavaleiro começa sua vigília na capela pedindo o auxílio da Medianeira de todas as graças, por meio da qual tudo se consegue e sem a qual coisíssima nenhuma se obtém.

Proibido sentar-se um só momento; fica-se em pé ou ajoelhado a noite inteira. Alguém dirá: “Mas é duro!” Esta é uma dureza minúscula em comparação com as outras agruras que deverá enfrentar o cavaleiro ao longo de sua vida. Por amor a Deus e a Nossa Senhora, ele ingressou na vida dura.[3]

Os mais perfeitos cavaleiros que existiram foram São Luís IX, Rei de França, e Santa Joana d’Arc. Peçamos-lhes que nos obtenham a Fé inquebrantável, a pureza ilibada e a combatividade vigilante para lutarmos contra os inimigos da Igreja.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] Cf. GAUTIER, Émile Théodore Léon. La Chevalerie. Paris : Arthaud. 1959, p. 27, 66, 128 passim.

[2] Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Flor e glória da Cristandade – I. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XXIII, n. 266 (maio 2020), p. 31.

[3] Cf. Idem. Cerimônia de investidura do cavaleiro medieval. Ano XXII, n. 255 (junho 2019), p. 33.

 

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