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O Reino de Deus

O Reino de Deus está próximo e, para nele penetrar, é preciso fazer penitência, humilhar-se, purificar-se. É a via segura para se obter a paz com Deus e consigo mesmo.

Chamado de Sao Pedro

Redação (22/01/2023 09:13, Gaudium Press) A prisão de São João Batista, o Precursor do Messias, determina o fim do regime da Lei e dos profetas e o começo da pregação sobre o Reino dos Céus, conforme veremos na Liturgia deste 3º Domingo do Tempo Comum.

Como podemos comprovar, pelos Evangelhos, Jesus era conduzido pelo Espírito e, por um sopro d’Ele, Se retira para a Galileia a fim de ali começar sua vida pública, com suas primeiras pregações, confirmadas por prodigiosos e profusos milagres, ilustradas por insuperáveis parábolas. Ali estabeleceu o centro de sua missão.

“Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do Mar da Galileia, no território de Zabulon e Neftali…” (Mt 4,13-14a)

A propósito deste versículo [do Evangelho de São Mateus], Maldonado chegou a equivocar-se, julgando haver duas Galileias. Ao expor sua observação, o Padre Luis María Jiménez Font, com muita precisão desfaz o engano em nota ao pé da página, nestes termos: “O autor [Maldonado] faz uma distinção desnecessária. Não havia mais que uma Galileia, governada por Herodes. Cristo Se retirou a Cafarnaum, onde podia viver sem perigo, porque estava na fronteira da tetrarquia de Filipe”.[1]

Como claramente se deduz, foi por motivos ocasionais que Jesus “foi morar em Cafarnaum”. Entretanto, pode-se afirmar, com segurança, que nada se passava na vida do Salvador sem ter grandes razões como causa. De imediato, percebe-se não ser útil para a vida pública a manifestação de sua divindade na cidade de Nazaré. Jesus a escolheu para as décadas de sua fase oculta, devido a seu recolhimento, paz, pequenas proporções geográficas e população restrita. Não era, porém, própria para a difusão em grande escala da semente da Boa-nova. Ademais, “nenhum profeta é bem aceito na sua pátria” (Lc 4,24), conforme Ele mesmo repetiria aos seus concidadãos, basta ver o modo como foi expulso daquela cidade.

Um motivo mais sobrenatural levou Jesus a tomar este caminho: “Começa Jesus a evangelizar as regiões por onde tivera início a defecção de Israel. Demonstra com isso sua misericórdia e sabedoria, levando o remédio onde mais grave era o mal, servindo-se de uma cidade populosa, mas incrédula e preocupada só com os negócios humanos, para que dali se irradiasse a pregação do Reino de Deus. Quis, assim, significar que quem mais necessita de remédio são os enfermos, não os sadios; e que nunca devemos resistir a nenhum apostolado sob pretexto de que o campo não está preparado para receber nosso trabalho”.[2]

A pregação do Reino dos Céus

“Daí em diante Jesus começou a pregar dizendo: ‘Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo’” (Mt 12,17)

É sabido o quanto os judeus esperavam por um reino político-social todo feito de glória para o povo eleito. Essa seria, para eles, a realização do Reino de Deus sobre a Terra. É em Cafarnaum que Jesus começa a retificar esse equívoco nacionalista, o que Ele fará progressivamente por meio de pregações, parábolas e polêmicas, com uma insuperável força didática e de lógica.

O método processivo para o estabelecimento do Reino anunciado pelo Divino Mestre se chocava com a concepção judaica de uma intervenção intempestiva do Todo-Poderoso, alçando aos píncaros a nação eleita. Figuras como as da semente, do grão de mostarda e do fermento (cf. Mt 13,24-33) demonstravam o lento passo a passo da evolução do Reino anunciado e trazido por Ele.

Ademais, o verdadeiro Reino é, sobretudo, religioso, sem possuir um fim político segundo o acentuado anseio da opinião pública daqueles tempos. Esse Reino se estabelece em oposição ao de satanás.

Era preciso corrigir o que havia tomado mau caminho no espírito do povo, aperfeiçoar o que era bom, erguer às esferas superiores o que ainda não fora revelado em toda a sua extensão e, para tal, retornar ao magnífico ideal dos profetas e até ultrapassá-lo. Por isso, Jesus — rejeitando com vigor as ideias mesquinhas e vulgares da maior parte dos seus compatriotas, desvinculando a noção de Reino de Deus das quimeras da escatologia judaica, protestando especialmente contra a pretensão dos fariseus e dos escribas de dar às esperanças messiânicas um aspecto puramente exterior e político, de maneira a convertê-las em monopólio de sua nação — não cessou de manifestar sua natureza espiritual e sua índole universal”.[3]

Como entrar neste Reino?

“Convertei-vos”, diz Jesus. O Reino está próximo e, para nele penetrar, é preciso fazer penitência, humilhar-se, purificar-se. É a via segura para se obter a paz com Deus e consigo mesmo. Essa foi a condição colocada por Jesus, e, por este motivo, “não começou pregando as altas coisas da justiça da Nova Lei, mas as coisas íntimas da retificação da vontade pela penitência. Por aí se entra no Reino dos Céus: abandonando os maus hábitos, retificando intenções e inclinações erradas, concebendo desejos de viver bem e tendo pesar de haver feito o mal. É então que já se pode vislumbrar o gozo do cumprimento da perfeita justiça: ‘Fazei penitência…’; ‘Aproximou-se o Reino dos Céus…’”.[4]

Despojar-se do pecado… Não será esta a via que a humanidade hodierna precisa para o estabelecimento da paz? Pois uma sociedade que vive para os interesses próprios e para prazeres mundanos e ilícitos, não se pode esperar dela frutos de ordem e benquerença mútua.

Comecemos então, por aproximarmo-nos deste Reino, desvencilhando-nos de tudo aquilo que nos aparta de Deus.

Por Guilherme Motta

Extraído, com adaptações, de: CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2012, v. 2, p. 27-39.


[1] JIMÉNEZ FONT, Luis María. Notas. In: MALDONADO, Juan de. Comentarios a los Cuatro Evangelios. Evangelio de San Mateo. Madrid: BAC, 1950, v. I, p. 223, nota 1.

[2] GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Años primero y segundo de la vida pública de Jesús. Barcelona: Rafael Casulleras, 1930, v. II, p. 72.

[3] FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Vida pública. Madrid: Rialp, 2000, v. II, p. 13.

[4] GOMÁ Y TOMÁS. Op. cit., p. 72.

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