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Troca de cartas entre Papa Francisco e Angelo Becciu: insatisfação e pedido de desculpas

Na sessão de julgamento do processo contra o cardeal Angelo Becciu, no último dia 13, tornou-se pública a correspondência mantida entre o Papa Francisco e o réu, acusado de corrupção, peculato, fraude e abuso de poder.

Becciu 2018

Redação (17/01/2023 14:09, Gaudium Press) O cardeal Angelo Becciu acusou o papa de parcialidade ao receber Francesca Immacolata Chaouqui, uma das testemunhas de acusação, e o papa pediu desculpas. A situação foi revelada pelas cartas trocadas entre os dois, tornadas públicas no dia 13/01, na última sessão de julgamento do processo em que Becciu e mais nove réus são acusados de corrupção, peculato, fraude e abuso de poder.

O pivô da carta é Francesca Immacolata Chaouqui, testemunha de acusação que, antes do início da sessão, avisou à imprensa que contaria como o cardeal a distanciou do Santo Padre e como o Santo Padre, depois, voltou a chamá-la. “Tenho lutado ao lado dele para que haja transparência”, afirmou.

Em julho de 2016, Francesca Chaoqui, que era assessora do órgão criado para monitorar as contas da Santa Sé e melhorar seu desempenho, foi condenada a dez meses de prisão por colaborar com o padre Lucio Ángel Vallejo Valda no vazamento de documentos confidenciais.

Becciu: “profunda consternação”

Em sua carta, enviada ao Papa Francisco em 19 de agosto de 2019, Becciu se diz insatisfeito com o encontro que o Papa Francisco teve com Francesca Chaoqui. E expressa sua “profunda consternação” com a publicação das fotos nas quais ela foi autorizada a cumprimentar o pontífice durante uma audiência:

“Com o beijo de mão de ontem, eu fiquei publicamente desmentido e a senhora ganhará mais força para continuar me demolindo com todos os meios satânicos de que é capaz. Com o gesto de ontem, Santo Padre, o senhor quebrou seu tão proclamado compromisso com a neutralidade no processo”, escreveu o cardeal.

Referindo-se ao fato de o Papa Francisco ter recebido Chaouqui, o cardeal disse que o gesto mostrou solidariedade para com ela e apoio indireto às suas teses acusatórias contra ele. E prosseguiu:

“Em termos processuais, seu ato não será visto como algo que procede do papa, mas do primeiro magistrado do ordenamento jurídico do Estado do Vaticano e, portanto, como uma interferência no processo”.

Foi divulgada também a resposta que o Papa Francisco enviou ao cardeal:

“Querido irmão,

Muito obrigado pelo seu correio eletrônico.

Lamento que este gesto de saudação possa tê-lo magoado. Perguntaram-me se a senhora poderia vir com os filhos à audiência geral e dar um beijo na mão…, e pensei que se fosse bom para ela, poderia vir.

Digo-lhe, pois, que quase me esqueci da ‘aventura’ desta Senhora. Eu nem sei se ela está envolvida no julgamento (não vou entrar nisso).

Peço desculpas e perdão se isso o ofendeu e magoou. A culpa é minha, também o hábito de esquecer as coisas ruins. Por favor, perdoe-me se o ofendi.

Eu rezo por você, por favor, faça isso por mim.

Que o Senhor o abençoe e a Virgem o guarde.

Fraternalmente,

Francisco”

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