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Beato Urbano II conclamou a Cruzada

Houve um Papa que combateu os inimigos internos da Igreja, e também os externos promovendo a Primeira Cruzada, uma das mais grandiosas epopeias da História: Beato Urbano II.

Beato Urbano II

Redação (10/01/2023 17:14, Gaudium Press) Nascido em 1040 de uma família nobre, foi discípulo de São Bruno, fundador da Cartuxa. Ordenado sacerdote, tornou-se arcediago da Catedral de Reims. Passados três anos, ingressou no Mosteiro de Cluny onde o Abade Santo Hugo o nomeou grande prior.

Em 1080, São Gregório VII o designou Cardeal-bispo de Óstia – cidade próxima de Roma – e o escolheu como conselheiro.

Esse heroico Papa faleceu em maio de 1085 e foi sucedido pelo Beato Vitor III, que havia sido durante trinta anos Superior do célebre Mosteiro de Monte Cassino, Sudoeste da Itália, mas reinou apenas durante 15 meses.

Em 1088, assumiu a Cátedra de Pedro o Beato Urbano II, que contava 48 anos de idade. De talhe majestoso e caráter enérgico, possuía elevada sabedoria e o charme da eloquência.

Ele continuou vigorosamente a Reforma Gregoriana da Igreja, iniciada por São Leão IX, pontífice de 1049 a 1054. Chama-se “gregoriana” porque o impulsionador dessa reforma foi o Arquidiácono Hildebrando – futuro São Gregório VII –, o qual era o conselheiro de São Leão IX.

Beato Urbano II combateu a intromissão do poder temporal na investidura de cargos eclesiásticos, bem como a simonia e a impureza que grassava em muitos clérigos.

Renovou o anátema contra Henrique IV, o qual invadiu Roma, em 1089, e fez com que um antipapa tomasse posse da Basílica de São Pedro.

Confirmou, em 1094, a excomunhão lançada por bispos da França contra o Rei Felipe I, por ter abandonado sua legítima esposa e se unido a uma mulher já casada.

 

Rei segura as rédeas do cavalo montado pelo Papa

São Gregório VII escrevera encíclicas conclamando os católicos para libertarem Jerusalém, dominada por maometanos, percorrera diversas regiões da França com esse objetivo, atraindo grande número de pessoas. Ele mesmo quis caminhar à frente delas, mas a Igreja inteira se opôs à partida do pontífice.

Quem conseguiu efetivar esse nobilíssimo ideal foi o Beato Urbano II, que convocou um Concílio a ser realizado em novembro de 1095, na cidade francesa de Clermont. A partir de abril desse ano, ele visitou várias localidades da Itália e França pregando a Cruzada.

A Lombardia, Norte da Itália, havia apoiado o infame Henrique IV. Pelo apostolado exercido pela Condessa Matilde, Conrado, filho desse imperador excomungado, rejeitou a revolta promovida por seu pai, submeteu-se ao verdadeiro Papa e foi coroado Rei da Itália.

Quando o Beato Urbano II se aproximou de Cremona, o Rei Conrado dirigiu-se ao seu encontro e, com os pés em terra, o introduziu na cidade segurando as rédeas do cavalo montado pelo Pontífice.

Depois, visitou a Abadia de Cluny, onde havia sido monge, e celebrou solene cerimônia na Basílica ainda em construção. Por fim chegou à Clermont, cidade não dependente da jurisdição do Rei da França Felipe I, o qual fora excomungado.

O concílio iniciou-se em 18 de novembro de 1095, com a participação de alguns cardeais, 238 bispos e diversos abades. Após o exame de questões disciplinares, em 27 de novembro anunciou-se a conclamação da Cruzada, aguardada por mais de 100 mil pessoas, cuja maioria era de franceses, mas havia também italianos, espanhóis e alemães.

A assembleia foi realizada numa planície das cercanias da cidade, onde havia uma parte elevada na qual permaneceram o Papa, os prelados e abades, bem como Pedro, o Eremita.

Porta-vozes colocados a certa distância uns dos outros repetiam ou traduziam as palavras do Pontífice. Apesar do frio intenso – era inverno –, todos acompanhavam com um entusiasmo proporcionado pela graça divina.

Pouco antes desse Concílio, muitas pessoas tinham visto fenômenos extraordinários no céu: auroras boreais, grande quantidade de estrelas cadentes que se entrecruzavam, nuvens cor de sangue, um cometa em forma de espada chamejante cuja ponta estava voltada para o Oriente. Alguns viram o Arcanjo São Gabriel e Carlos Magno.

cruzadas

“Desembainhai a espada e atacai os inimigos de Jerusalém!”

Sintetizamos a seguir as palavras pronunciadas pelo Beato Urbano II.

Os Lugares Sagrados são transformados em estábulos repletos de imundícies. Os cristãos estão vergados sob o peso da miséria e de uma ignominiosa escravidão. Seus filhos são obrigados a blasfemar contra o Nome adorável de Jesus Cristo; se recusam, cortam-lhes a cabeça.

Nos veneráveis Santuários os bárbaros praticam os mais monstruosos crimes: degolam clérigos, arrastam as virgens sob o olhar de suas mães para imolá-las ou entregá-las a ultrajes mais cruéis que a própria morte.

E vós que portais as insígnias da Cavalaria sois verdadeiramente os cavaleiros de Cristo? Lembrais-vos de um imperador chamado Carlos Magno?

Germanos, ele foi vosso pela antiga origem de seus avós! Franceses, ele foi vosso e seu nome é para vós um título de glória imortal! O braço invencível de Carlos Magno dizimou milhares de sarracenos na Espanha, França e Itália.

Deixareis covardemente os sarracenos e os turcos oprimirem, degolarem os últimos restos do povo cristão?

Despertai, de pé valorosos cavaleiros! O universo cristão se precipitará em vosso seguimento, imitará vosso heroico exemplo. Vesti vossas armaduras, reuni vossas legiões, companhias! Vós tereis tanto mais soldados quanto mostrardes mais ardor e intrépida confiança. Deus enviará seus Anjos que marcharão diante de vós e dirigirão vossos passos.

Cristãos, ide libertar o Sepulcro de Jesus Cristo! A glória vos espera: glória eterna no Céu e esplendor imortal nesta Terra.

Soldados de Deus, desembainhai a espada e atacai intrepidamente os inimigos de Jerusalém! Deus o quer! Neste momento, todos clamaram: Deus o quer!

Ao término da homilia, o Bispo Ademar de Monteil ajoelhou-se diante do Papa e lhe pediu permissão para participar da santa expedição, sendo atendido.

Em seguida, o Pontífice distribuiu tiras de tecido vermelho, ordenando que as colocassem em seus peitos em forma de cruz. E declarou que todos aqueles que fizessem solenemente o voto de ir à Cruzada e não o cumprissem ficariam banidos da sociedade cristã, e só seriam readmitidos se realizassem a correspondente penitência.

E ordenou que na Igreja universal se rezasse o Pequeno Ofício de Nossa Senhora, a Ela fosse consagrado todo o sábado e se orasse três vezes por dia em honra da Anunciação da Santíssima Virgem, ao som dos sinos das igrejas. Essa foi a origem do Angelus que se reza diariamente às 6, 12 e 18 horas.

Por Paulo Francisco Martos

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