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Pontífice de combatividade inquebrantável

Roma fora tomada pelo ímpio Henrique IV, em 1084. São Gregório VII, refugiado no Castelo de Sant’Angelo, pediu a Robert Guiscard que viesse expulsar o invasor e libertar o Papa.

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Redação (05/12/2022 10:48, Gaudium Press) Duque da Apúlia, Sul da Itália, Guiscard descendia dos vikings e era grande guerreiro. Ana Comnene, filha do Imperador de Bizâncio Alexis I (1058-1118), assim o descreve:

332px Robert Guiscard by Merry Joseph Blondel“De talhe avantajado, ultrapassava os homens mais altos de seu exército. Rosto corado, cabelos louros, olhos vivos e faiscantes como o fogo, ombros largos. Havia uma perfeita proporção em todas as partes de seu corpo”.[1]

Apesar de ter anteriormente invadido propriedades da Igreja, Guiscard foi fiel à graça divina e atendeu aos rogos de São Gregório.

Em maio de 1084, comandando 30.000 homens, ele partiu em direção a Roma. Sabedor da notícia, o nefando Henrique IV fugiu, mas antes mandou que fosse incendiada parte da cidade.

Guiscard liberta São Gregório VII

Henrique IV havia recebido do imperador bizantino grande soma de dinheiro para lutar contra Guiscard e dominar a Apúlia, mas ele usou a fortuna para comprar maus elementos do populacho de Roma.

Quando Guiscard chegou às muralhas todas as portas estavam fechadas. Ele passou três dias estudando um plano de ataque. Notando que uma delas estava desguarnecida, à noite ele mesmo a transpôs servindo-se de uma escada e abriu-a. Assim, seu exército entrou em Roma.

Incontinenti, montou num cavalo e zarpou em direção ao Castelo de Sant’Angelo. Conduziu o Papa ao Palácio de Latrão, colocou-o num trono e osculou seus pés; todos os nobres ali presentes fizeram o mesmo.

Os asseclas de Henrique atacaram os soldados de Guiscard, que com sua espada os defendeu com brilho, matou muitos inimigos e mandou atear fogo em Roma. Fortes ventos levavam as chamas contra os sequazes do imperador excomungado, enquanto que seus militares eram resguardados. O incêndio consumiu grande parte da cidade e os traidores fugiram.

Por fim, acompanhado por cardeais e Guiscard, São Gregório se dirigiu a Salerno – Sudoeste da Itália –, onde foi acolhido triunfalmente. Logo depois, ele convocou um concílio no qual renovou a excomunhão do antipapa Wibert, de Henrique IV e seus fautores.

“Amei a justiça e odiei a iniquidade”

O nefando Henrique foi com seu exército para o Norte da Itália, onde contava com muitos asseclas. Suas tropas, chefiadas por dois bispos, cercaram uma fortaleza nas proximidades de Modena. Montaram suas tendas com o objetivo de conquistá-la no dia seguinte.

Durante a noite, enquanto todos dormiam, um formidável clamor repercutiu no silêncio. Era a Condessa Matilde que chegava com suas falanges bradando: “Grande Apóstolo Pedro, combatei por vossos defensores!” A vitória dos verdadeiros católicos foi total.

Apavorado, Henrique atravessou os Alpes e permaneceu numa região situada além do Rio Reno.

Deus castigou a Lombardia, cujos bispos eram partidários de Henrique IV, enviando uma terrível fome para a região que matou todos os líderes revoltosos contra o Papa Santo.

Passados alguns meses, São Gregório iniciou os preparativos para regressar a Roma, mas ficou gravemente enfermo. Percebendo que sua morte se aproximava, os prelados circundaram seu leito. Erguendo os braços, ele afirmou:

“Subirei ao Céu e vos recomendarei a Deus com orações tão fervorosas que Ele vos será propício.”

E as últimas palavras que se pôde recolher de seus lábios foram estas: “Eu amei a justiça e odiei a iniquidade, por isso morro no exílio.”[2] Era o dia 25 de maio de 1085.

Varão que não cedeu em nada e enfrentou tudo

São Gregório VII, ardente devoto de Nossa Senhora e do Santíssimo Sacramento, propugnava a Comunhão diária aos fiéis.

Transcrevemos a seguir alguns comentários feitos por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira a respeito desse grande Papa, o qual “foi chamado a prestar na História da Igreja, mais do que qualquer outro Santo que eu conheça, uma virtude que me entusiasma ao último ponto, e para a qual vão todas as fibras de minha alma: a combatividade inquebrantável. Ele combateu tudo, lutou contra todos, não cedeu em nada e enfrentou tudo.

“Essa integridade de alma por onde o homem caminha para todos os esforços, todos os riscos, todos os dissabores, com o intuito de fazer vencer a
causa da Santa Igreja, me entusiasma.

“No entanto, por ser muito combativo, São Gregório VII necessariamente tem que ter também em alto grau as virtudes simétricas ou opostas. Assim,
precisamente por ter muita combatividade, ele devia ser também um devoto ardentíssimo de Nossa Senhora, muito terno, meigo, e um ardorosíssimo devoto do Santíssimo Sacramento, inculcando formas de piedade extremamente suaves, como a da frequência diária ao Santíssimo Sacramento e a devoção à Santíssima Virgem.

A Revolução gnóstica e igualitária precisa ser punida

“Qual é a lição que tiramos disso?

“A de ser rijo, firme, ir ao fundo, até o fim dos princípios, às últimas consequências, enfrentar qualquer adversário de viseira erguida e de gládio em punho, não se contentar com meios termos, com palavras vazias, nem com esperanças vãs, mas, ao pé da letra, exigir que se quebre o poder que se levantou e se anule o risco que se constituiu; só então ter misericórdia.

“Porque a misericórdia é admirável enquanto chama para o arrependimento o pecador e o perdoa. Ela não seria admirável e não seria verdadeira misericórdia se fosse a paz com o pecador que não se arrepende. É preciso que o pecador se arrependa sinceramente e peça perdão.

“Assim, em nossa luta devemos considerar os desígnios da Providência:
desejar, com toda a nossa alma, que o adversário da verdadeira Igreja Católica Apostólica Romana em nossos dias seja punido: a maldita Revolução gnóstica e igualitária.

“Mas seja punida ainda mais do que o Imperador Henrique IV foi, porque ela ousou coisa pior: tentou penetrar no próprio Santuário e transformá-lo num reduto da Revolução. Ela desbastou a Terra inteira, e é preciso que o castigo seja proporcional. A Revolução, enquanto tal, tem que desaparecer!

“Eis a lição do grande São Gregório VII. Em última análise, levar o
bem, a verdade, a beleza e a fidelidade à Igreja até as suas últimas consequências.”[3]

Sua memória é celebrada em 25 de maio.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja

 


[1] Cf. COMNENE, Anne. Alexiade. Livro I, cap. 7.

[2] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. 1881, v. XXII, p. 581-582.

[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Harmonia: uma criatura de Deus. In Dr. Plinio. Ano XII, n. 137 (agosto 2009), p. 25; A mais eminente figura da Idade Média. Ano XXI, n. 242 (maio 2018), p. 27; O Papa que travou uma batalha decisiva. Ano XXIII, n. 266 (maio 2020), p. 26-28.

 

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