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A vigilância, sem a qual não há salvação

Neste ano, a Santa Igreja escolhe para o domingo que abre o tempo do Advento leituras que versam sobre a virtude da vigilância.

Pregacao de Jesus no Lago de Tiberiades

 Redação (27/11/2022 12:01, Gaudium Press) “De que proveito será ao homem ganhar o mundo inteiro, se ele vier a perder a sua alma?” (Mt 16,26). Tal era a pergunta que ecoava reiteradas vezes nos ouvidos daquele brilhante professor de filosofia da universidade de Paris, Francisco Xavier.

Ele, de fato, tinha galgado glórias humanas; mas, de que lhe valia tudo aquilo, sendo elas tão insignificantes aos olhos de Deus, conforme lhe apontava Inácio de Loyola?[1] Tal princípio transformou Francisco por inteiro, e fez dele aquele “Gigante do Oriente”, digno de uma glória imorredoura – a glória da santidade.

Ora, nesse primeiro domingo do Advento, a Santa Igreja nos convida a elevarmos nossos olhos aos Céus e a desejarmos ardentemente a posse do reino celeste.[2] De fato, uma vez que o homem possui uma alma imortal, toda a sua vida deveria girar em torno deste pensamento: qual será a sorte de minha alma, ao cruzar os umbrais da morte?

Assim sendo, é preciso estarmos vigilantes, pois o demônio ronda ao nosso redor, qual leão, à busca de sua presa (cf. 1 Pd 5,8).

Vigilância! Eis o sinal distintivo do Evangelho que abre este novo Ano Litúrgico.

Ficai preparados!

Nosso Senhor, encontrando-se às vésperas de sua Paixão, sobe ao Monte das Oliveiras, a fim fazer a sua derradeira oração ao Pai e padecer a agonia de sua alma, “entristecida até à morte” pelos pecados da humanidade. Ao concluir sua oração, nosso Senhor depara-se com os Apóstolos Pedro, Tiago e João, adormecidos em um profundo sono. Acordando-os, lhes diz: “Uma hora não pudestes vigiar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (Mt 26,41).

Ressalte-se que a vigilância é a virtude necessária para todos nós, indispensável para a nossa salvação. Ela, juntamente com a oração, nos proporcionará o vigor necessário para resistirmos às solicitações do mal, e, sobretudo, para permanecermos sempre prontos para o dia de nosso juízo particular, “porque, na hora em que menos pensamos, o Filho do Homem virá” (cf. Mt 24,44).

Porém, no que se traduz, concretamente, a virtude da vigilância?

Ela nos adverte a não alimentar em nossas almas uma indiferença em relação à vida futura, como fizeram aqueles homens que comiam e bebiam despreocupadamente às vésperas do dilúvio (cf. Mt 24 37-39). Pois, do contrário, não teremos tempo de nos despojarmos das ações das trevas (cf. Rm 13,12), antes que desponte o Sol da Justiça, que vem julgar as nações (cf. Is 2,4).

Essa atitude de alma, de constante vigilância, nos recorda estarmos de passagem nesta terra; pois fomos feitos para uma outra vida, post-mortem, que não terá fim. Vivemos em um estado de prova, e sabemos que tendo cruzado os umbrais da morte, receberemos então, segundo as nossas obras, o prêmio ou o castigo que nos é devido.

Há pessoas que amam a estabilidade e têm verdadeiro pânico do imprevisto. Gostam de calcular tudo e planejam os seus afazeres com uma antecedência estonteante. Contudo, quantas vezes se esquecem de que todos nós empreenderemos um dia uma viagem sem retorno, em função da qual dependerá a nossa situação eterna. Tal viagem, entretanto, se dará de surpresa, acorrerá na hora de nossa morte.

Por isso, a tal ponto é indispensável a prática da vigilância, que Cristo a antepôs à oração; pois de pouco valeria esta sem aquela.[3] Logo, desejemos estar preparados para o dia de nosso juízo particular, fazendo todo o possível para sermos homens orantes e, acima disso, vigilantes!

Por Jerome Sequeira Vaz


[1] Cf. DAURIGNAC, J.M.S. Vie de Saint François de Xavier. 4. ed. Paris: Ambroise Bray, 1866, p. 18.

[2] Cf. PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO. Oração do Dia. In: MISSAL ROMANO. Trad. Portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil, realizada e publicada pela CNBB, com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica. 9. ed. São Paulo: Paulus, 2004, p. 129.

[3] Cf. CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: Comentários aos Evangelhos dominicais. Libreria Editrice Vaticana: Città del Vaticano, 2013, v. 1, p. 20.

 

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