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Exultem! Pois o Senhor vem julgar a terra inteira

A alma materialista e pragmática considera os acontecimentos históricos como uma mera coincidência de fatos, e não enxerga neles a ação divina. Este 33º Domingo do Tempo Comum põe-nos diante de uma expectativa grandiosa da intervenção de Deus no mundo.

R079 Nosso Senhor ensinando aos Apostolos

Redação (13/11/2022 15:12, Gaudium Press) A Santa Igreja recolhe, para as duas últimas semanas que antecedem o fim do ciclo litúrgico, leituras que convidam os fiéis a meditarem sobre a perspectiva do fim do mundo e do Juízo Final, ressaltando a Justiça divina que condenará os maus com o opróbrio eterno, e salvará os bons por sua Misericórdia e Bondade, concedendo-lhes por herança a morada celeste.

O Evangelho escolhido para este 33º Domingo do Tempo Comum traz à luz esta verdade.

A sentença divina

Descreve o evangelista São Lucas que, naquele tempo, muitas pessoas teciam elogios a cerca da beleza do Templo, estupefatos de admiração diante de seus belos enfeites e de suas magníficas pedras. Tendo Jesus ouvido estes comentários, disse aos que estavam a seu redor:

“Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (Lc 21,6)

Sem dúvida alguma, estas palavras ocasionaram grande espanto nos ouvintes. Pois é necessário compreender que o Templo representava para os judeus daquela época o lugar sagrado por excelência, onde se ofertavam sacrifícios e cultos ao Criador.

De fato, judeus de todas as partes acorriam para lá todos os anos, a fim de celebrarem com alegria as festas prescritas pela lei mosaica. Ora, para a mentalidade judaica, cogitar a destruição daquele edifício sagrado, símbolo da morada de Deus entre os homens, representava o sinal dos últimos dos tempos, pois “para um judeu, a ruína da cidade [de Jerusalém] e do Templo equivale à ruína do mundo”.[1]

Entretanto, nosso Senhor não esconde nada sobre o futuro do Templo. Ele é claro e enfático: “tudo será destruído”.

Eles então, assombrados, perguntam a Jesus:

“E qual vai ser o sinal de que essas coisas estão para acontecer?” (Lc 21, 7)

Após lhes prevenirem sobre aqueles que quererão enganá-los, responde:

“Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país. Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu” (Lc 21,10-11)

De fato, no ano 70 da nossa era, após quarenta anos da cruel morte que padeceu Jesus, o exército romano investiu contra a Cidade Santa.

O conceituado historiador francês, Daniel Rops,[2] narra que quatro legiões, com auxiliares númidas e sírios, num total de sessenta mil homens, caminharam ao encontro de Jerusalém, comandado por Tito, filho do exímio general Vespasiano. Os cristãos que ali viviam, reconheceram nos grandes prodígios celestes e nos abalos sísmicos – ocorridos tempos antes em Jerusalém – a profecia que anunciara Jesus sobre sua destruição, e, por isso, refugiaram-se em Pella, na Transjordânia. Contudo, os judeus que lá permaneceram, foram alvo das terríveis desgraças e matanças infligidas pelos romanos.

A cidade de Jerusalém – cercada por três muralhas e guarnecida com noventa torres, além de ser defendida por dez mil soldados e cinco mil mercenários – parecia garantir aos habitantes uma força inexpugnável.

Entretanto, o cerco romano, prolongado por cem dias, fez alastrar uma terrível fome. As mulheres que, em vão tentavam fugir, regressavam à cidade com as mãos cortadas, e os homens, crucificados à vista de todos. Tal era a situação que alguns soldados romanos, diante de uma casa onde se sentia um aroma de carne assada, depararam-se com o inumano horror: uma pequenina criança que a mãe havia matado e cozido ao fogo, para sanar a sua fome…

Não podendo esperar mais, o exército romano ingressou na cidade, ceifando a todos, jovens e crianças; invadiram o Templo, mataram os sacerdotes; lançaram o edifício sagrado às chamas que, por sua vez, teve até as paredes consumidas pelo calor.

É com razão que, após esta vitória, exclamasse o Romano vencedor: “Este povo encontrava-se de tal modo sob a punição divina, que seria um pecado poupar-lhe a vida ou perdoar-lhe”.[3]

Sim! O próprio Senhor Jesus vertendo lágrimas, havia exclamado diante da cidade santa:

“Jerusalém, Jerusalém, tu que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes eu quis juntar teus filhos, como a galinha recolhe debaixo das asas os seus pintinhos, e tu não quiseste. Eis que será deixada deserta tua casa” (Mt 23,37-38).

A mácula de tantos pecados praticados por aquele povo tinha sido a causa da sentença divina de sua própria ruína, pois além de praticarem atos infames, mataram os enviados do Altíssimo, flagelaram e crucificaram o próprio Senhor deles, no alto de uma Cruz.

Intervenção divina?

Ora, para uma alma pragmática e materialista, estes fatos pareceriam dar a impressão de que tudo foi um acaso, e não uma ação divina. Diante de eventos extremamente sérios que ocorrem no mundo, somos levados a crer que tais ocorrências nada mais são do que episódios da vida normal, sem maiores consequências.

Todavia, não vivemos dias normais e tranquilos. Vemos os desastres climáticos, as guerras de toda ordem, pandemias, caos político etc., preencherem as páginas de notícias todos os dias. Sobre tudo isto, somam-se os escândalos que, certamente, não são menores que os da cidade de Jerusalém. Serão estes fatos prenunciativos de uma intervenção divina? Deus agirá sobre a humanidade como fez outrora sobre Jerusalém?

Peçamos a Deus, pelos rogos de Maria Santíssima, que nos dê uma santidade de vida, sendo fiéis aos seus mandamentos, para que em meio a este mundo que voltou as costas a seu divino Filho, paire sobre nós a promessa divina:

“Vós não perdereis um só fio de cabelo de vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” (Lc 21,19)

Por Guilherme Motta


[1] GOMÁ Y TOMAS, Isidro. El Evangelio explicado. Pasión y Muerte. Resurrección y vida gloriosa de Jesús. Barcelona: Rafael Casulleras, 1930, v. IV, p. 110.

[2] Cf. ROPS, Daniel. Jesus no seu tempo. Porto: Livraria Tavares Martins, 1950, p. 490-495.

[3] ROPS, Daniel. Op. cit., p. 495.

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