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O Papa que esmagou a cabeça da Revolução

São Gregório VII enfrentou o maior potentado temporal de sua época, Imperador Henrique IV, que se enchafurdara nos vícios mais hediondos.

Henrique IV Sao Gregorio Canossa

Redação (12/11/2022 17:12, Gaudium Press) Henrique IV obrigava os nobres a levarem ao palácio imperial suas esposas e filhas e as entregava aos piores ultrajes contra a honra.  Escolhia para seus cortesãos os indivíduos que se destacavam pelos maus costumes. Vendia cargos eclesiásticos a quem lhe oferecesse mais dinheiro.

Esse ímpio era apoiado por um clero corrompido pela simonia e sensualidade, que se rebelara contra o Papa São Gregório VII.

Em fevereiro de 1076, realizou-se em Roma um concílio do qual participaram 110 bispos e vários abades; estavam também presentes a Imperatriz Agnes – mãe de Henrique IV –, a Duquesa Beatriz e sua filha Condessa Matilde.

Assim que o Pontífice se sentou no seu trono para inaugurar a assembleia, dois embaixadores de Henrique IV gritaram: “Gregório não é papa”.

Os nobres romanos desembainharam suas espadas e os expulsaram. O povo quis lapidá-los, mas São Gregório não o permitiu. Verificou-se, então, que eles traziam uma carta do imperador na qual dizia:

“Henrique rei não por um título usurpado, mas por ordem de Deus, a Hildebrando não apostólico, mas falso monge […] Desça [desse trono], tu que és maldito para sempre!”[1]

Então, o Papa excomungou Henrique IV, desligou todos os católicos do juramento que lhe haviam prestado e proibiu que o reconhecessem como rei.

Punição mais alta, profunda e intransigente

Explica Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:

“São Gregório VII teve que enfrentar o maior potentado da Terra, e não tentou ladear a questão. Ele não procurou mandar emissários incumbidos de deformar o problema, atenuando-o com meias palavras e por meio de inadequadas contemporizações.” O Papa declarou:

“’Eu te deponho e excomungo, escorraço-te da Igreja Católica. Mais ainda: amaldiçoo-te, declaro que tens parte com Satanás e pertences à grei maldita que Deus expulsa da sua presença.’

“Quer dizer, contra esse potentado ele vibra a punição mais alta, profunda e intransigente que se poderia imaginar. Não tem medo de nada. E
se tiver que acontecer qualquer coisa, aconteça. ‘Eu estou aqui para a glória de Deus, para a vida ou para a morte desta minha pobre existência terrena. Mas lutarei até o fim.’”[2]

De várias regiões, bispos e abades escreveram à Santa Sé cartas de retratação por terem apoiado Henrique; alguns iam até Roma e, descalços, se ajoelhavam diante do Pontífice pedindo-lhe perdão.

Entretanto, todos os prelados lombardos se revoltaram contra São Gregório, dizendo que ele não era Papa.

O poder temporal se dobrou diante do espiritual

São Gregório resolveu dirigir-se a Canossa – Norte da Itália –, onde a Condessa Matilde possuía um castelo.

Fazia um frio terrível. O heroico Pontífice partiu de Roma escoltado por um pequeno exército sob o comando da Condessa, a qual se assemelhava a “um Anjo com espada de fogo, enviado do Céu para a defesa do Altar e salvação da Itália”.[3]

Após mil dificuldades, o Papa chegou a Canossa, uma fortaleza construída num rochedo inexpugnável, rodeada por três muralhas.

Movido por interesse pessoal e não por sincero arrependimento, Henrique para lá se dirigiu a fim de pedir perdão a São Gregório.

“Esse Imperador, em pleno inverno, toma trenós e, percorrendo os desertos gélidos da Suíça, particularmente inóspitos nessa época, vai a Canossa e pede perdão, porque não tinha outro remédio.

“Nos últimos dias em que ele permaneceu no poder, até os criados
fugiam de sua casa, de maneira a não ter sequer quem lhe prestasse os serviços domésticos. […] Por quê? Porque era o homem maldito sobre o qual caíra a excomunhão do representante de Cristo na Terra, do sucessor de São Pedro. […]

“Enfim, ele se apresenta e pede perdão. Fato sem precedentes na
História: um imperador humilhado a este ponto, por uma mera palavra de
um papa.” […]

“Este deixou-o esperar durante três dias do lado de fora do castelo. Afinal, a pedidos de íntimos, e não por seu desejo, São Gregório VII recebeu Henrique IV.

“Vê-se aqui uma ação humana cheia de majestade, de sacralidade, em que o poder temporal tem que se dobrar diante do espiritual, porque a Terra está infinitamente abaixo do Céu.

“E ninguém tem o poder daquele a quem foi dito: ‘Tudo o que desligares na Terra será desligado no Céu; tudo o que ligares na Terra será ligado no Céu’.

“De lá para cá, ‘ir a Canossa’ ficou uma expressão consagrada na literatura de bom quilate. Diz-se que vai a Canossa a pessoa que, em linguagem corrente, vulgar, banal de hoje em dia, entrega os pontos, não tem mais resistência a fazer e se declara derrotada.

Batalha decisiva da História da Igreja

“São Gregório VII teve um importante papel contrarrevolucionário ao reivindicar a prioridade das coisas espirituais sobre as temporais, do papado sobre o império, ao impor, com palavras magníficas, o castigo necessário ao imperador rebelde que, assim contido, teve reprimida na sua pessoa, durante séculos, a marcha da Revolução a qual, como serpente que saía de sua toca, tentava começar a caminhar na História, quando o cajado firme desse pastor lhe quebrou a cerviz.

“Ele travou uma batalha decisiva depois da qual não houve mais luta séria entre o papado e o império, ou qualquer monarquia, a respeito do princípio contra o qual ele se levantou.

“Sobre aplicações colaterais ou transgressões desse princípio, punidas justamente pela Igreja, ainda houve escaramuças, mas fundamentalmente a batalha estava ganha por esse Santo. Portanto, o golpe desferido por ele foi certeiro, atingindo o ponto que deveria.”

“São Gregório VII, a meu ver, na sua grandeza e riqueza de alma, foi a mais eminente figura da Idade Média e conteve em si, de algum modo, a Idade Média inteira.”[4]

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1881, v. XXII, p. 87.

[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Papa que travou uma batalha decisiva. In Dr. Plinio. Ano XXIII, n. 266 (maio 2020), p. 27.

[3] DARRAS. Op. cit. v. XXII, p. 177.

[4] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. In Dr. Plinio. Harmonia: uma criatura de Deus.  Ano XII, n. 137 (agosto 2009) p. 25; A mais eminente figura da Idade Média. Ano XXI, n. 242 (maio 2018), p. 27; O Papa que travou uma batalha decisiva. Ano XXIII, n. 266 (maio 2020), p. 26-28.

 

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