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Os “tempos” da Eucaristia

Embora o que aconteceu na Última Ceia tenha superado as expectativas dos Apóstolos, toda uma instrução anterior os predispôs a reconhecer o dedo de Deus na operação do Mestre.

Eucaristia

Foto: Cathopic/Misioneros Servidores de la Palabra.

Redação (07/11/2022 12:23, Gaudium Press) “Nemo repente fit summus” diz um provérbio latino, “nada de grandioso é feito repentinamente”. Habitualmente, as coisas grandes levam muito tempo para se desenvolver até que acabam amadurecendo e florescem. Agora, se há algo que pode ser descrito como supremo com todas as propriedades, é a Eucaristia. Pode haver algo maior do que um Deus tão ao nosso alcance?

É claro que ela supõe a Encarnação e a Redenção, é neste contexto que deve ser situada. Mas, os anos da vida de Nosso Senhor na terra precedem os milênios do Antigo Testamento em que a Providência preparava o povo da Aliança para alcançar a plenitude dos tempos em que se realizaria a instituição do sacramento eucarístico.

Nosso Senhor preparou os discípulos para a Eucaristia

“Nada de sumo é feito de repente”. Embora o que aconteceu na Última Ceia tenha superado as expectativas dos Apóstolos, toda uma instrução anterior os predispôs a reconhecer o dedo de Deus na operação do Mestre.

Em Cafarnaum Ele se apresentou aos seus discípulos como “Pão da Vida”, instruindo-os sobre a necessidade de comer sua carne e beber seu sangue para ter a vida eterna. “Trabalhai não pelo alimento perecível, mas pelo alimento que dura até a vida eterna, que vos dará o Filho do homem ” (Jo 6:27).

Da mesma forma, o Senhor deu mostras de seu poder onipotente sobre a natureza, transformando a água em vinho em Caná, multiplicando os pães na montanha ou caminhando sobre as águas do Mar de Tiberíades. E também evidenciou o império sobre sua própria Pessoa ao transfigurar-se no Tabor. Estes e outros acontecimentos preparavam os discípulos para o que aconteceria no Cenáculo, na noite em que ele seria entregue.

Considerações sobre a Eucaristia

Voltando no tempo, reparamos como a Eucaristia foi prefigurada no Antigo Testamento. Para isso, citamos o teólogo contemporâneo Martínez Puche, OP. Sua explicação é luminosa, digna de um filho de Santo Domingo:

“Neste sacramento três coisas podem ser consideradas: o que é apenas sacramento: o pão e o vinho; o que é sacramento e efeito: o verdadeiro Corpo de Cristo; o que é apenas efeito: a graça.

Quanto ao sacramento apenas, sua figura principal foi a oblação de Melquisedeque, que ofereceu pão e vinho; quanto a Cristo paciente, que é o que está contido nele, todos os sacrifícios do Antigo Testamento foram figuras, principalmente o sacrifício de expiação, que era mais soleníssimo; quanto ao efeito, foi figura o maná, que “continha em si, a suavidade de todo sabor” (Sab. 16, 20), como a graça deste sacramento, que nutre a alma para tudo.

Mas o Cordeiro Pascal o figurava nas três coisas. Na primeira, porque se comia com pães ázimos: “Comerão carne com pães ázimos” (Ex 12,8). Na segunda, porque a multidão dos filhos de Israel o imolou na décima quarta lua; com a qual se figurava a paixão de Cristo, que por sua inocência se chama cordeiro. E finalmente, na terceira, porque o sangue do cordeiro pascal protegeu os filhos de Israel do Anjo devastador e os libertou da servidão do Egito.

Por tudo isso, o Cordeiro Pascal é a principal figura deste sacramento, pois o representa sob os três aspectos”. (Martínez Puche, OP. “Dicionário Teológico de Santo Tomás”, Edibesa, Madrid, 2003, p. 328).

Eucaristia 2

Foto: Cathopic/dianabnvds.

Sacramento da eucaristia abandonado pelos católicos

Embora a Eucaristia tenha sido prefigurada, depois anunciada e, finalmente, instituída; é verdade que se celebra há dois mil anos, que a seu respeito o Magistério é pródigo em ensinamentos e a história está repleta de benefícios operados por ela, para os católicos que a consideram com devoção é sempre uma maravilha que causa espanto! Um Deus que é imolado e dado como alimento!

Mas há algo que também surpreende; é que depois de milênios de espera implícita no Antigo Testamento, depois de todo o tempo que passamos na era cristã desfrutando da Presença Real, depois de conhecer as graças com que a Eucaristia vem favorecendo tantas almas… o afeto por ela seja tão pobre na maioria dos cristãos e sua celebração se presta a descuidos e até a surpreendentes excentricidades em nossos dias, quando a Igreja a regula com cânones e rubricas muito precisas.

Consideremos que até pouco tempo atrás – digamos, até meados do século passado – era comum ver as igrejas sempre abertas e visitadas, sendo a missa dominical um encontro obrigatório; bênçãos do Santíssimo Sacramento, a adoração noturna ou perpétua, as quarenta horas, as primeiras comunhões celebradas com muito decoro, as procissões de Corpus Christi luziam festivas, não eram incomuns os Congressos Eucarísticos diocesanos ou nacionais.

Hoje em dia, qualquer ocupação ou lazer, ou simplesmente o “dolce far niente”, passa por cima da obrigação dominical. Os tabernáculos, em geral, permanecem solitários. Quanto à exposição, realiza-se em algumas paróquias, embora com escasso público. E quando há compromissos em turnos de adoração, muitas vezes ocorrem ausências e negligências. Para piorar, a Covid conseguiu afastar muitos fiéis da Igreja, fiéis que não decidem voltar; é a previsível “colheita” de templos fechados e privação de sacramentos.

Fidelidades exemplares e sinais que apontam para um renascimento

Por outro lado, é preciso dizer, existem fidelidades exemplares e sinais que apontam para um renascimento. Sem dúvida, em breve veremos florescer o culto eucarístico. Duas razões sustentam essa certeza, uma sobrenatural e outra natural.

A primeira é que diante das ofensas feitas ao Santíssimo Sacramento – uma vasta gama que vai da indiferença à profanação – e os danos causados ​​à espiritualidade dos fiéis, se impõem uma intervenção extraordinária da Providência. Além disso, Deus tem seus “tempos”… esperemos. Em segundo lugar, pelo movimento pendular que se verifica nos acontecimentos históricos. Para nós, o pêndulo está chegando – se é que já não atingiu – o limite de um ciclo; naturalmente, em breve se iniciará o itinerário inverso que lhe cabe. Em todo caso, o Senhor permanece e abre caminho em seu adorável mistério.

Mairiporã, Brasil, novembro de 2022.

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Conselheiro de Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.

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