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Pais e filhos: estranhos dividindo uma mesma casa sem leis

Numa família com leis, com normas, o pai e a mãe são os chefes da casa, os provedores, os que colocam o bem-estar e a segurança dos filhos em primeiro lugar.

Foto: Vatican News

Foto: Vatican News

Redação (21/09/2022 09:25, Gaudium Press) Há alguns dias, vi uma notícia estarrecedora: uma mãe, no interior do estado do Paraná, matou os dois filhos, de três e dez anos e permaneceu com os cadáveres dentro do seu apartamento por 15 dias, levando vida normal, telefonando para as pessoas para oferecer empréstimos consignados, que é o seu trabalho. Quando ligaram da escola perguntando por que a menina estava faltando às aulas, respondeu que ela estava com gripe. Apenas no 14º dia, ligou para um advogado e contou o que tinha feito. Para a polícia, disse que “estava cansada de cuidar das crianças, surtou e cometeu o crime”.

A mulher contou que matou primeiro o menino, asfixiado com um travesseiro, e apenas três dias depois a filha de dez anos, enforcada com um cachecol. Tentei imaginar o medo que essa criança passou, três dias ao lado do cadáver do irmãozinho, à mercê da crueldade da mãe.

Conversando com um amigo religioso sobre esse fato terrível, ele lembrou a passagem de Isaías que diz: “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca”. (Is 49, 15).

Também chocado, o jovem fez uma sábia reflexão, afirmando que Deus quis comparar o seu amor à humanidade, ao amor imensurável de uma mãe e, ao dizer que “ainda que a mãe esquecesse seu filho”, Ele certamente se referia a esse tipo de mãe que sabia que um dia iria existir e quis deixar claro que o seu amor era superior a todas as coisas.

Quase no mesmo dia que esse bárbaro assassinato foi noticiado, também o foi o de uma jovem de 21 anos morta após a mãe jogar álcool sobre ela e atear fogo, no Espírito Santo. O crime teria ocorrido após uma discussão entre as duas.

Um lar sem lei

O que está acontecendo com o mundo? Esta é uma pergunta que não canso de me fazer. Por que os pais já não cumprem o seu papel de pais e criam filhos de uma maneira tão indevida, tornando-se, em muitos casos, inimigos dos próprios filhos?

Quando Nosso Senhor Jesus Cristo esteve na Terra, deixou claro que o amor estava acima das leis, mas, nem por isso, Ele deixou de cumprir as leis, tanto é que, ao ser preso, estava em Jerusalém cumprindo o preceito judaico da Páscoa. Porém, de revolução em revolução, as pessoas quiseram ficar só com o amor, afinal, o amor é amplo, é agradável, é livre, é complacente, é benévolo, é misericordioso, é compreensivo. E é enganador.

O amor está, sim, acima de todas as coisas e, como afirma o Evangelho de São João: “Deus é amor”, contudo o universo criado por Deus é regido por leis absolutas e imutáveis, leis que não se adaptam aos desejos ou caprichos das criaturas. E, mesmo que a humanidade pareça destruir tudo com suas atitudes pueris e irresponsáveis, nada fica impune, exatamente porque estamos sob o domínio da lei do amor de Deus.

Fazendo uma comparação entre o universo e a nossa casa, não é difícil entender que uma casa sem lei não prospera, não se desenvolve, não sobrevive. E, infelizmente, os seres humanos têm vivido assim, em casas sem lei, onde os pais acabam sendo meras figuras decorativas e os filhos vivem da maneira que querem, sem que haja uma verdadeira conexão entre eles. Ou, então, os pais não cumprem o seu papel de proteger, alimentar, cuidar e amar os filhos. Quantos pais abandonam os filhos e quantas mães têm dito que odeiam ter filhos?

É claro que nem todas chegarão ao extremo que chegaram essas mães do Paraná e do Espírito Santo, porém, a negligência, a falta de controle, a falta de limites, a falta de cuidados, produz sequelas tão profundas nos filhos que eles serão adultos prejudicados, porque os pais não souberam ou não quiseram viver o seu papel de pais.

A disciplina no ambiente familiar

Numa família com leis, com normas, o pai e a mãe são os chefes da casa, os provedores, os que colocam o bem-estar e a segurança dos filhos em primeiro lugar. A lei não suprime o amor, ela o regula, o disciplina, o adequa à realidade. Os filhos não nascem sabendo, eles precisam ser ensinados por seus pais, aos quais cabe colocar limites, ensinar o certo e o errado e corrigir as condutas inadequadas. Mas, infelizmente, as coisas já não caminham assim.

De acordo com o texto de uma psicóloga, que circulou nas redes sociais e me foi passado pelo mesmo amigo religioso, “os pais não precisam brincar. O celular faz isso. Os pais não precisam buscar nas festas. O Uber faz isso. Os pais não precisam cozinhar. O Ifood faz isso. Os pais não precisam nem educar. A escola integral faz isso. Ler para o filho? Cantar música e fazer cafuné, para quê? A criança resolve tudo com cliques na tela. Mas sempre conseguem aquela selfie de família perfeita, afinal, o que importa é mostrar que é feliz. Ter mil curtidas. Mal sabem o que é um jogo de tabuleiro. Pensar virou uma coisa que dói. Fazer criança pensar parece que é fazê-la sofrer” (Denise Dias, Terapeuta).

Matar os próprios filhos é algo que continuará fazendo parte do inimaginável. Porém, tê-los e não aceitar essa responsabilidade, alardear que odeia ser pai ou ser mãe e deixar os filhos à mercê do celular, para também não precisar deixar o seu próprio celular, é algo igualmente grave. Deixar os filhos fazerem tudo o que querem e não ensiná-los, não corrigi-los, não orientá-los, longe de ser amor, é uma afronta ao amor.

Precisamos abrir nossos corações a Deus pedindo que Ele nos ensine a amar como já não sabemos. Depois que temos filhos, nossa vida nunca mais será a mesma. Estaremos experimentando a quintessência do amor, a emoção maior que um ser humano pode vivenciar sobre a Terra. No entanto, esses tesouros brutos nos foram dados para serem lapidados e não estragados por nossa negligência ou até mesmo mortos quando nada mais de divino exista em nós.

Embora eu não seja um religioso de ofício, conclamo a todos os que me leem a rezarem pelas almas dessa jovem e de dessas crianças assassinadas por aquelas que deveriam amá-las, educá-las e protegê-las. Rezemos também por essas miseráveis mães.

Por Afonso Pessoa

 

 

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