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Rainha Elizabeth II: elegância na vida e na morte

A morte da Rainha Elizabeth II não representa apenas a morte da mais conhecida e querida representante da família real britânica.

Rainha Elizabeth II Inglaterra

By Photograph taken by Julian Calder for Governor-General of New Zealand – Commonwealth Day Message from Her Majesty the Queen Elizabeth IIOfficial portraits, CC BY 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=66499177

Redação (09/09/2022 10:42, Gaudium Press) 8 de setembro, dia em que comemoramos a natividade de Maria Santíssima, suprema Rainha dos Anjos e dos homens, recebemos a notícia da morte da Rainha Elizabeth II. Uma morte suave, elegante, tranquila e discreta, como foi a sua vida.

Morte é sempre morte e causa comoção, mesmo a morte de uma rainha tão longeva que, aos 96 anos de idade, ultrapassou sete décadas de reinado. Uma morte previsível, mas não esperada. Uma soberana que atravessou gerações à frente de um reino que se enfraqueceu com o tempo, mas se manteve, num mundo que já não se coaduna com a realeza.

Elizabeth assumiu o trono aos 25 anos, bastante jovem e, ao fazer o seu primeiro pronunciamento como rainha, jurou fidelidade ao trono e ao povo, prometendo que daria o melhor de sua vida, fosse ele um reinado curto ou longo.

Foi longo, mais longo do que ela ou qualquer outra pessoa pudesse supor, na prática o mais longo reinado do mundo, se considerarmos que Luís XIV, da França, cujo reinado teve a duração de 72 anos, foi elevado ao poder aos 5 anos, não reinando, de fato, em tão tenra idade.

Ela presenciou guerras e conflitos, ascensões e quedas, períodos de crise e períodos de paz, e uma longa sucessão de governantes, no Reino Unido e no mundo. Acompanhou mudanças culturais e de costumes como nenhum outro monarca na história da humanidade, pois os últimos cem anos trouxeram mais mudanças do que os milênios anteriores.

E ela viveu e acompanhou essas mudanças com uma ética e uma discrição invejáveis. Muitos dizem que ela nunca reinou de fato, que a figura da família real, conquanto emblemática, é apenas uma figura decorativa. Uma afirmação, porém, que passa longe da verdade, pois, ainda que a ocupante do trono não se envolvesse diretamente na política do Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) e dos outros 14 países nos quais ocupava o posto de rainha, a sua simples figura criava um diferencial no mundo.

Elizabeth II não era apenas a soberana do palácio de Buckingham, a mãe do Príncipe Charles (agora Rei Charles III) ou a avó de netos polêmicos e bisnetos atrevidos. Ela é a representação de um poder que não existe mais, de uma classe, uma categoria, uma retidão de valores e de ordem que se esvaiu com as sucessivas revoluções e convulsões sociais que provocaram uma crise generalizada, que se repete, com pequenas diferenças, em todas as partes do mundo.

A morte da Rainha Elizabeth II não representa apenas a morte da mais conhecida e querida representante da família real britânica. Com a sua morte, o filho mais velho assume automaticamente o trono, pois não existe vacância no trono real, porém, seja este rei como for, a morte de sua mãe representa o fim de um império, o fim de uma forma de governo, o fim de uma época, em resumo, o fim da realeza.

Charles, agora rei, apareceu mais pelas situações conflituosas em que esteve envolvido, sobretudo em seu casamento e descasamento com a Princesa Diana, mas, em linhas gerais, sempre foi uma figura apática, como se estivesse sempre cansado, talvez até mesmo cansado de esperar pelo trono, um trono que, talvez, ele nem mesmo desejasse ocupar.

A rainha, tão entrada em anos, poderia perfeitamente ter abdicado do trono em favor do filho, mas, se não o fez, é exatamente porque, mais que mãe, ela era rainha, e uma rainha completamente convicta da importância de seu papel e exímia cumpridora de todos os protocolos inerentes ao cargo de chefe de estado que exerceu por 70 anos e 214 dias.

Ela sabia que o filho Charles a sucederia, mas não tomou a necessária e legítima ação para que isso acontecesse durante a sua vida, deixando que o fim dela se encarregasse de colocar as coisas em seus lugares, protocolarmente. Que mãe não daria tudo ao seu filho, inclusive o cargo de rei, se isso estivesse em suas mãos conceder? Uma mãe que nasceu para reinar e que sabia exatamente o que isso significava em proporção de responsabilidade, força de caráter, diplomacia, renúncia e disposição para reinar.

Ainda esta semana, tivemos a oportunidade de ver a última aparição da rainha, quando ela nomeou Liz Truss para o cargo de primeira-ministra do Reino Unido, no Castelo de Balmoral, na Escócia, onde ela passava o verão. Vimos uma rainha um pouco mais curvada, mais frágil e aparentando uma estatura menor do que aquela que estávamos acostumados a ver. Mesmo vestida com trajes menos pomposos, seus gestos revelavam a mesma elegância que sempre a caracterizou.

Rememorando as suas tantas aparições ao longo da vida inteira da maioria de nós, podemos dizer que seus lindos vestidos não foram feitos para ela, mas que ela foi feita para os vestidos e as joias que usava. Tudo lhe caía bem, porque ela possuía uma qualidade quase que completamente escassa nos dias atuais, a nobreza. E não se trata da nobreza conferida pela condição da realeza, porque todos os membros da sua família fazem parte da realeza, mas, nem todos são igualmente nobres.

Era algo dela, inato. Uma nobreza que aliava sofisticação e discrição. Uma nobreza que faz a pessoa saber quem é e como deve se portar por ser quem é. Isso não é dado por uma coroa. Mas, no caso dela, a coroa não lhe pesava e, ainda quando não a usava, o diadema real estava simbolicamente presente sobre seus cabelos encanecidos.

A monarquia ainda sobrevive em algumas partes do mundo e poderemos ocasionalmente ouvir falar de reis e rainhas, mas, no nosso entender, a morte pacífica, tranquila, discreta e elegante da Rainha Elizabeth II, sepultou a realeza do mundo.

Nosso desejo é que Elizabeth possa ser recebida no Céu, com as pompas e circunstâncias devidas a uma rainha legítima, como convidada especial para a Festa da Natividade de Maria Santíssima, pois somente com Ela voltará a realeza ao mundo, não como algo pró-forma num grupo de países que mal a reconheçam como soberana, mas de maneira cabal e definitiva, com a implantação de seu Reino sobre a Terra, quando, de modo muito diverso do tímido filho de Elizabeth, o seu Divino Filho reinará e restituirá a nobreza usurpada pelo pecado, num reinado que não terá fim.

Por Afonso Pessoa.

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