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Levados a pecar

Costumamos ser mordidos pela curiosidade ou, às vezes, entramos em situações complicadas por pura ingenuidade.

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Redação (24/08/2022 10:24, Gaudium Press) Quem, sendo filho, já não ouviu de seus pais um alerta sobre as más companhias? E, quem, sendo pai, já não se preocupou com as pessoas com as quais seus filhos se relacionam, considerando algumas delas, tal qual seus pais faziam, como más companhias?

Mas, o que, afinal, nos leva a concluir que uma pessoa seja má companhia e possa influenciar aqueles com quem se relaciona? Será que isso é mesmo possível?

Geralmente, a primeira coisa que levamos em consideração é a aparência. Um rapaz de cabelo azul, com alargador de orelha e tatuagens de caveira, ou uma moça com roupas escandalosas, batom preto, coturno e piercing no nariz podem acender o sinal de alerta de pais e mães que prezam pela boa conduta de seus filhos.

Outras vezes, não são as aparências que chamam a atenção, mas o comportamento. Jovens que bebem, que fumam e que dão indícios de fazerem uso de drogas, sem dúvida não são a companhia ideal para filhos que estão sendo educados com zelo, bases religiosas e padrões morais mais rígidos.

Exterior é reflexo do interior

Sobre a pergunta se é mesmo possível que uma pessoa influencie outra e a leve a pecar, a resposta é sim. Não apenas possível, mas até corriqueiro. Uma pessoa precisa ter a consciência muito bem formada para não se deixar influenciar por outra em suas ações. E, até mesmo as pessoas maduras, firmes em suas convicções, que se acham imunes à influência nociva de outrem, não o são.

É claro que devemos zelar pelo bem estar, segurança, modos e costumes dos nossos filhos, afinal, eles não são “nossos”, eles são filhos de Deus colocados temporariamente sob nossos cuidados, e responderemos por isso. E, embora seja lugar comum dizer que não se deve deixar levar pelas aparências, as aparências podem, sim, dizer muito sobre uma pessoa.

É claro que há muita gente que não presta e que se veste bem e, aparentemente, se comporta de maneira adequada. Mas, geralmente, o exterior reflete o que vai no interior e, alguém que precisa pertencer a uma “tribo” e falar, se vestir, se tatuar e se comportar como os membros dessa tribo, é alguém em cujo interior não há solidez de princípios.

Sociedade líquida

A própria modernidade, baseada na filosofia da ‘sociedade líquida’, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, desenvolveu o conceito de ‘homem líquido’, aquele que não se fixa, que não tem raízes, que muda de acordo com a onda do momento. Uma forma sofisticada de se dizer um “Maria vai com as outras”.

Então, obviamente, pais que têm filhos adolescentes devem se preocupar se o jovem ou a jovem começa a andar na companhia de pessoas esquisitas. Melhor errar por excesso de zelo do que tentar ser politicamente correto, não julgar pelas aparências e ver os filhos se perderem.

Isso, porém, é apenas uma pontinha desse espinhoso assunto: pecar por influência de outras pessoas. Não são apenas as crianças e os jovens que são suscetíveis de serem influenciados. Os adultos também o são, e bem mais do que imaginam.

É claro que, sendo homem e tendo um colega que tem o hábito rotineiro de frequentar o bar depois trabalho, ainda que me convide, eu não vou aceitar, pois não sou afeito à bebida. Se tenho colegas do sexo oposto e percebo que estão se excedendo em atenções e gentilezas, não vou deixar que essas amizades se aprofundem, a fim de evitar cair em tentação e acabar agindo mal.

Da mesma forma, uma mulher. Se é solteira, deve reparar bem no comportamento de suas amigas e, se é casada, não convém estreitar muito os laços com moças solteiras ou separadas, não frequentar os mesmos lugares. Trata-se de uma questão de lógica, de reconhecer que todos somos falíveis, sujeitos a errar e, como nos ensinam os sacerdotes, em sua sabedoria, quanto mais pudermos evitar situações que possam levar ao pecado, melhor, mais seguro estaremos.

Arrastando ao pecado

No entanto, as coisas não são tão simples assim e é em lugares que nem imaginamos e com pessoas que jamais classificaríamos como perigosas que encontramos as sutilezas que podem nos arrastar ao hábito contumaz de pecar. Isso pode acontecer – e acontece com frequência – na igreja, na família, no trabalho.

Sabe quando está tudo bem, pessoas se reúnem para rezar ou para realizar alguma atividade em sua comunidade e, de repente, aquela senhora respeitável, de cabelos encanecidos, arrasta a outra para um canto e diz, a meia voz:

“Olha, eu não queria te dizer isso, mas, Deus me pede para te falar… Sabe a fulana? Você não imagina a inveja que ela tem de você…” ou “Nossa, você é tão boa! Você confia tanto nas pessoas! Ah, minha filha, você precisa ser mais desconfiada! Sabe a beltrana, se você visse o comentário que ela faz dos seus filhos…”

E por aí vai. Com uma candura aparentemente digna de altar, as pessoas que achamos mais veneráveis podem destilar gotas do mais terrível veneno.

Dei um exemplo feminino, mas, erra quem acha que fazer fofoca é um atributo apenas das mulheres. Minha mãe costumava dizer que só existe uma coisa pior do que uma mulher fofoqueira, um homem fofoqueiro!

Aquele senhor dedicado, bem-educado, seu amigo, de repente, chega e diz: “Ô, rapaz, eu preciso te contar uma coisa… Disseram-me, eu não tenho certeza, mas, parece que fulano de tal está tirando dinheiro do cofre da igreja…”  Pior então, quando resolvem falar mal dos padres e procuram apoiadores, semeiam a discórdia e envolvem outras pessoas.

Sempre que alguém chega perto de nós e diz: “Olha, eu preciso te contar uma coisa…” ou “Eu não queria te contar, mas…”, ou ainda: “Você é capaz de guardar um segredo?”, o melhor que podemos fazer é sair de perto, não dar ouvidos e, se preciso, com jeitinho e habilidade ou, dependendo do caso, de forma radical, deixar claro que não queremos saber.

Vencer a curiosidade

Só que não é fácil resistir a esse tipo de tentação. Costumamos ser mordidos pela curiosidade ou, às vezes, entramos em situações complicadas por pura ingenuidade. Ouvimos o que o outro tem a nos dizer, acabamos tecendo algum comentário e, claro, quem fala mal do outro para você, certamente não vai falar bem de você para o outro. Pior quando a fofoca é por escrito, numa rede social, e o que você escreve, ou grava, pode ser reenviado fora de contexto. Pedra atirada e palavra dita – ou escrita – não tem volta…

É um tipo de situação que acontece muito nas famílias. Sogra que fala da nora, nora que fala da sogra. Pai ou mãe que fala mal de um filho para outro, irmãos que falam dos pais e, mais trágico ainda, cônjuges que falam mal um do outro para os próprios filhos, tentando envolvê-los para escolher um lado. É algo tão sutil, tão natural que, quando vemos, já estamos enredados, levados a pecar, pecando.

Quando você se vir envolvido em alguma situação difícil e sentir vontade de partilhar com alguém, procure um sacerdote e abra a ele o seu coração, em confissão. Ele é a pessoa mais bem preparada para lhe aconselhar e lhe ajudar. E, se não tiver um sacerdote que possa lhe atender, guarde o assunto com você, peça ajuda a Nossa Senhora. E, se possível, resolva a questão com a pessoa envolvida, não repasse a terceiros, não peça conselhos a quem possa levá-lo a uma situação ainda pior.

E, em hipótese alguma, se envolva em assuntos que não são seus. Vença a curiosidade e não tenha medo de parecer antipático. Antes ser um antipático correto do que um pecador simpático. Ande sempre com o seu terço no bolso. Apareceu um fofoqueiro, mostre o terço e dê a entender que está rezando. Pode usar o seguinte expediente: “Comecei a rezar o rosário agora, quando terminar a gente conversa”. Pode ter certeza que a pessoa não vai esperar, fofoqueiros têm pressa! Então, aproveite e reze mesmo o rosário, agradecendo a Nossa Senhora e ao seu anjo da guarda por lhe terem ajudado a vencer uma tentação.

Por Afonso Pessoa

 

 

 

 

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