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Causas da Revolução Francesa: como fagulhas em pólvora

São “míopes” para a História aqueles que acham que os grandes acontecimentos, bons ou maus, se fazem do dia para a noite.

913px Anonymous Prise de la Bastille

Redação (13/07/2022 11:18, Gaudium Press) Citando Chateaubriand, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira afirmava certa vez que a organização social da França de 1789 lembrava os edifícios dos primeiros anos da Renascença: uma verdadeira desordem, onde a arquitetura medieval vinha mesclada com adornos de novos estilos e motivos arquitetônicos.[1] Há, de fato, sempre uma transição entre eras e eras; e é nessa transição que as doutrinas novas “procuram manter um modus vivendi com as antigas, exprimindo-se de maneira a manter com estas um simulacro de harmonia que habitualmente não tarda em se romper em luta declarada”.[2]

Ora, o adágio latino segundo o qual nemo summo fit repenter aplica-se perfeitamente ao processo que desembocara na Revolução Francesa: os ideais revolucionários não foram elaborados por sans-culottes de armas em punho, mas por homens de décadas precedentes, vestidos, certamente, com veludos, rendas e chapéus de três bicos.

Acontecimento preparado com muita antecedência

Para que tudo ocorresse, era preciso que a mistura explosiva estivesse bem preparada. Eis alguns de seus ingredientes: A frivolidade da corte e o afastamento da influência da nobreza nas classes burguesas; a má fama dos nobres e da família real perante o povo; a assustadora decadência moral e degradação da instituição familiar em toda a sociedade, a vulgarização dos costumes; a perda da noção da hierarquia social… Tudo isso tendo as novas ideologias e filosofias paganizantes – como as de Voltaire e Rousseau – como pano de fundo! Por fim, um Rei inspirado nos modelos de Fénelon – e citemos aqui apenas uma frase deste inspirador de Luís XVI: “Que loucura fazermos consistir a felicidade em governar os homens… Insensato aquele que procura reinar! Feliz aquele que se contenta com uma condição privada e agradável, na qual a virtude lhe é menos difícil”.[3]

“Na primeira ocasião haverá uma explosão”

Por último, a crise econômica serviria de detonador para a bomba que estava sendo preparada. Aliás, o próprio Voltaire previa tal detonação em uma carta endereçada ao marquês de Chauvelin, em 2 de abril de 1762: “Tudo o que vejo produz as sementes de uma revolução que terá lugar, irremissivelmente; e de que eu não terei o prazer de ser testemunha. Na primeira ocasião haverá uma explosão, e então isso será uma bela mixórdia. Felizes os mancebos!”

São “míopes” para a História aqueles que acham que os grandes acontecimentos, bons ou maus, se fazem do dia para a noite. Mais ainda o são os que reduzem as causas de tais movimentos a motivos meramente econômicos ou a circunstâncias fortuitas…

Pois fagulhas sozinhas são apenas fagulhas. Fagulhas na pólvora é que causam explosões.

Por João Paulo de Oliveira


[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Pronunciamento publicado na coleção “Documentos Parlamentares – Anexos dos Anais da Assembléia Nacional Constituinte. In: Opera Omnia. São Paulo: Retornarei, 2009, v. 2, p. 144.

[2] Id. Revolução e Contra Revolução. São Paulo: Retornarei, 2008, 6 ed, p. 35.

[3] FÉNELON, François de Salignac, apud GAXOTTE, Pierre. História da Revolução Francesa. 2. ed. Trad. Eduardo Pinheiro, Porto: Tavares Martins, 1962, p. 42.

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