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Santo Adalberto: contra a ala má da Igreja

Procedente de uma das mais ilustres famílias da Boêmia – região ocidental da atual República Tcheca –, Santo Adalberto se opôs com intrepidez à ala má que existia na Igreja, em fins do século X.

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Redação (05/07/2022 09:47, Gaudium Press) Adalberto nasceu em 956 e, na infância, foi atingido por uma doença mortal. Seus pais fizeram um voto à Santíssima Virgem de incentivá-lo à vocação sacerdotal se ele se curasse.

Adalberto recuperou a saúde e, aos 27 anos de idade, foi ordenado presbítero pelo Bispo de Praga – capital da República Tcheca –, o qual alguns meses depois faleceu desesperado, soltando gritos horríveis e dizendo que seria condenado ao Inferno, porque havia negligenciado os deveres de seu estado e procurado os prazeres do mundo.

Testemunha desse terrível fato, Santo Adalberto, que já era virtuoso, resolveu levar uma vida de maior fervor. Seus contemporâneos afirmaram que, desde então, nunca o viram rir.

Escolhido para suceder o prelado falecido, ele entrou de pés descalços em Praga, onde foi recebido pelo Rei Boleslau II, acompanhado de grande multidão.

A diocese de Praga estava em horrenda decadência moral: uma parte dos habitantes dessa cidade era idólatra e os que professavam o Catolicismo o desonravam pelos vícios mais vergonhosos. O Santo batalhou firmemente contra o pecado e em defesa da virtude, mas o povo se mostrou incorrigível. Ele, então, dirigiu-se a Roma e obteve do Papa João XV permissão para deixar o bispado e entrar num mosteiro.

Martirizado por pagãos

Cinco anos depois, o Pontífice mandou que ele regressasse a Praga, declarando que poderia deixar seu rebanho novamente, se este não se mostrasse dócil. Recebido com alegria, os católicos prometeram corrigir-se, mas logo caíram nos mesmos vícios.  O Santo decidiu abandoná-los para sempre e voltar ao mosteiro.

Atravessando a Hungria, evangelizou-a com sucesso. Na cidade de Esztergom – situada a 50 km de Budapeste –, ele batizou o nobre magiar Geza, pai do menino Estêvão que depois se tornou o primeiro rei desse país e um grande santo.

Contudo, o Papa Gregório V mandou que ele retomasse o governo da diocese de Praga. À notícia de sua volta, habitantes da cidade, movidos pelo espírito maligno, massacraram diversos parentes dele, roubaram seus bens e queimaram seus castelos.

Santo Adalberto refugiou-se na Polônia e conseguiu converter numerosos idólatras. Dirigiu-se à Prússia, onde parte dos habitantes de Dantzig foram batizados. Continuando seu apostolado nessa nação, numa pequena localidade foi atacado por pagãos que o mataram. Era o ano de 997.

Hoje há indiferença e cinismo dentro do pecado

Sintetizamos, a seguir, alguns comentários de Dr. Plinio Corrêa de Oliveira a respeito desses fatos.

Ao longo da Idade Média, a vida da Igreja foi uma luta. Entretanto, ela venceu esse combate porque as almas generosas, chamadas por Deus para fazerem o sacrifício de sua vida, disseram “sim”.

Há épocas em que a Igreja não mantém essa luta porque as almas chamadas para sacrificarem sua vida a Deus dizem “não”, ou “talvez”, que é um dos mais detestáveis modos de dizer “não”. O resultado é que a Igreja é mal servida e, então, a Civilização Cristã degringola.

O anterior Bispo de Praga desempenhava mal o seu cargo e morreu em transes de desespero na presença do jovem Adalberto, que se tornou santo.

Qual o ensinamento que nos dá a morte desse prelado?

Notemos a diferença entre o modo pelo qual o mal se apresentava na Idade Média e como ele se mostra hoje. Em nossos dias, ninguém morre em transe de desespero. Pecadores iguais ou piores do que esse bispo falecem ouvindo música, completamente inconscientes de suas responsabilidades, despedindo-se de todo mundo e fingindo não perceber que estão morrendo. Por mais carregadas de vergonha ou de opróbrio que tenham suas consciências, morrem com indiferença.

Essa insensibilidade era mais rara na Idade Média do que em nossos dias. Embora a Igreja tivesse que lutar com muitas almas pouco recomendáveis, não se dava, ou era raro, o fato de uma morte insensível, cínica, simplesmente indecente como ocorre hoje. Pelo contrário, os maus morriam blasfemando, desesperando-se, ou se convertendo e se salvando.

Quer dizer, a maldade de nossos dias não está em que se peca muito, mas no estilo de pecado, na indiferença e no cinismo dentro do vício, o que antigamente não havia.

Renunciou ao episcopado e quis ser monge

Aquele mau bispo morreu dando sinais horrendos. Qual é o resultado? A observação desses fatos faz bem e sacode a alma do jovem Adalberto que, nomeado seu sucessor, entra na cidade de Praga de pés descalços e é recebido com alegria pelo povo, principalmente pelo Rei Boleslau.

Com esse modo de tomar posse, ele queria fazer sentir a sua execração à vida do antecessor e o seu propósito de ser um bispo penitente, enquanto o outro fora um prelado devasso, escandaloso. Era uma manifestação de reação, uma oposição à ala má da Igreja daquele tempo.

Entretanto, Santo Adalberto precisou lidar com um povo incorrigível que resistiu à ação dele. Por isso, renunciou ao episcopado e quis ser monge.

Foi para Roma e depois converteu gente na Hungria, na Polônia, na Prússia, mas o seu próprio povo ele não conseguiu que mudasse de vida.

A Boêmia foi uma das forças do protestantismo

Qual é o resultado e a responsabilidade da rejeição a um Santo? A Boêmia continuou a ser uma região má até o protestantismo. Pouco antes dessa heresia, começou a rebentar nela, com João Huss, explosões, manifestações de autêntico protestantismo. Os católicos perseguiram João Huss e mandaram matá-lo, mas o pré-protestantismo continuou a lavrar nas fileiras desse povo.

Durante toda a luta contra a pseudorreforma promovida por Lutero, a Boêmia tornou-se uma das forças do protestantismo. Embora sujeita à Casa d’Áustria, foi uma nação sempre muito pouco católica. Separada da Casa d’Áustria, ela constituiu uma república de caráter socialista. O povo checo não apresentou nenhuma reação ponderável quando os comunistas tomaram conta da Checoslováquia, em 1948.

Entre os checos houve pessoas muito boas, Santos, grandes homens de piedade, cruzados, vocações esplêndidas. Mas um filão mau continuou e fez com que a Boêmia fosse, dentro do Império de Francisco José (1830-1916), um perpétuo problema .

Que o mártir Santo Adalberto, cuja memória é celebrada em 23 de abril, nos obtenha de Nossa Senhora a graça de lutarmos com denodo contra os inimigos internos ou externos da Igreja, sempre dizendo “sim” a Deus e nunca “não” ou “talvez”.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja

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