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Festa da Visitação de Nossa Senhora

 “Naqueles dias, Maria Se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá” (1, 39).

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Redação (31/05/2022 08:53, Gaudium Press) Concluído o sucinto relato da Anunciação do Senhor, o Evangelista São Lucas prossegue sua narração com as seguintes palavras: “Naqueles dias, Maria Se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá” (1, 39).

Eram os dias consecutivos à Encarnação do Verbo, e a atitude de Nossa Senhora foi motivada pelo sinal divino apresentado pelo Anjo como garantia de que, mediante seu assentimento, a Encarnação seria operada pelo poder do Espírito Santo sem comprometer em nada sua virgindade: “Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível” (Lc 1, 36-37).

Desejo ardente de santificar o Precursor

A boa contemplação redunda na ação bem feita… Quem, depois de ter recebido a visita de um Arcanjo e Se tornado Mãe da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, pensaria numa familiar mais velha que estava para dar à luz? Quando se está gestando o próprio Criador feito Homem, é difícil não perceber que se porta o maior tesouro que possa existir, a união entre a natureza humana e a divina. Diante de tal maravilha, a tendência seria guardar para si o acontecido e recolher-se para meditá-lo, sem outros cuidados.

Maria Santíssima agiu em sentido oposto. Embora fosse um tabernáculo vivo de Nosso Senhor Jesus Cristo, Ela queria cumprir a vontade do Pai e, por isso, tomou a resolução de fazer essa visita logo após concluir a altíssima contemplação que se seguiu ao mistério operado em seu seio.

E pôs-Se a campo de imediato, como deixa claro São Lucas ao usar as expressões “naqueles dias” e “às pressas”. Apressada não significa agitada. Conforme o ensinamento de São Tomás, o mal é dinâmico e o bem é difusivo; assim, Nossa Senhora procedia com equilíbrio, consciência e calma interior, mas sem demoras desnecessárias, pois desejava ajudar sua parenta.

Essa conduta perfeita provinha de sua inocência, virtude que leva a interessar-se mais pelos outros que por si.

Na longa conversa mantida com São Gabriel, este Lhe revelara que sua prima gestava o Precursor, dando inúmeros detalhes da elevada missão do menino, intimamente unida à do Divino Filho que Ela trazia em seu seio.

Maria Santíssima afligia-Se ao pensar que João Batista, tendo sido concebido no pecado original, brilhava menos que o devido. Não era admissível que um varão tão ligado à obra da Redenção permanecesse maculado por mais tempo. Ora, se na Anunciação fora proclamada de forma tão patente a grandeza de Nossa Senhora, também Lhe ficou claro seu insubstituível papel de Mediadora e quão excelsas seriam as graças que, somente por seu intermédio, derramar-se-iam sobre os homens.

A melhor maneira de começar a executar essa missão querida por Deus, e compreendida por Maria num relance, era comunicar aquelas graças recebidas à sua prima e a São João Batista. Por sua intercessão, e pela virtude do Verbo Divino que portava em Si, o Espírito Santo santificaria o menino antes de ele nascer.

Assim, ansiava em estar o quanto antes com Santa Isabel, a fim de livrar o Precursor, ainda em gestação, da mancha original. Nossa Senhora seria a portadora da Boa-Nova para mãe e filho, constituindo-Se no primeiro arauto do Evangelho da História. …e pelo desejo de santificar o quanto antes o Precursor Ela conhecia as dificuldades do caminho, sobretudo tendo o Salvador em seu seio, e os riscos que uma viagem comportava naquela época, mas não hesita. Passando por cima de todos os inconvenientes, decide partir rumo aos montes da Judeia.

Nossa Senhora comunica a São José que deseja partir

 Tendo-se dado a Encarnação apenas poucos dias antes, em certo momento Nossa Senhora expôs a seu esposo que um dos assuntos revelados por São Gabriel, como prova de que “a Deus nenhuma coisa é impossível” (Lc 1, 37), fora a gravidez de sua prima Isabel, já idosa e considerada estéril. Sentia, pois, uma moção interior muito intensa de fazer-lhe companhia e prestar-lhe sua ajuda. E pedia licença para dirigir-Se à região montanhosa, onde ela morava com Zacarias.

São José não esperava tal pedido, pois não fora avisado sobrenaturalmente acerca da conveniência de Maria partir, e nem era isso necessário. Para seu maior mérito, às vezes não lhe era dado compreender todo o alcance das atitudes de sua Esposa, mas bastava uma palavra sua para que tomasse uma postura de inteira submissão, procurando consonar imediatamente com Ela, em toda a medida que era capaz.

Sem dúvida, nessa ocasião São José recebeu uma revelação sobrenatural a respeito da missão de São João Batista. Fato tão maravilhoso como Isabel conceber na velhice, por ação especial de Deus, devia-se a que aquele menino teria um altíssimo chamado. Seria ele o Messias? Muitos indícios levavam-no a descartar essa hipótese. Entretanto, aquele milagre não poderia estar alheio ao advento do Salvador.

Afinal, decidiram ir juntos, e logo, visitar Santa Isabel. Tal como Maria demonstrou total flexibilidade à insinuação feita por São Gabriel, assim age São José com o submisso pedido de sua virginal Esposa. Ele tinha realmente obrigações relativas ao trabalho, como móveis para fazer ou clientes para atender, e sabia que, depois da viagem de ida e volta à casa de Zacarias e Isabel, precisaria continuar, cansado, o indispensável serviço.

Dessa forma, mesmo em meio a uma nascente aridez, São José se alegra com a perspectiva de passar esses dias de viagem com Maria, pensando: “Oh, vou acompanhá-La até lá!”

Que belíssimo exemplo nos dá o Santo Casal de como proceder em relação às inspirações de Deus, estando atentos somente àquilo que é a vontade d’Ele!

A chegada à casa de Zacarias e Isabel

Em geral, a primeira atitude de quem chega de uma longa viagem é fazer uma pormenorizada exposição sobre as dificuldades do caminho, por fim vencidas. Entretanto, este costume pouco educado não se pode conceber no Santo Casal. Se todos conheciam tais contratempos, por que comentá-los? Nenhum dito semelhante passou pelos seus lábios; a realidade foi bem diferente.

Conforme os hábitos que vigoravam nas sociedades patriarcais, segundo os quais era muito preservada a intimidade da mulher grávida, São José levou Nossa Senhora até perto da casa de Santa Isabel e ali despediu-se d’Ela. Zacarias enviou alguns criados para apanhar as bagagens e acompanhá-La ao local onde sua esposa estava repousando.

Ocorreu, então, o encontro de Nossa Senhora com Santa Isabel narrado pelo Evangelho (cf. Lc 1, 40-45).

Ao responder a saudação “Isabel!” Uma saudação nascida de Maria, Santa Isabel demonstra ter recebido a iluminação interior de que ali estava a Mãe do próprio Deus: “Bendita és Tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a Mãe de meu Senhor?” (Lc 1, 42-43).

Admirada por ter a glória de receber tão excelsa visitante, ela acrescenta: “Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio” (Lc 1, 44). Oh, maravilha! Nesse momento o desejo de Nossa Senhora limpou o menino do pecado original e de tal modo infundiu a vida divina que ele vibrou de alegria.

Por essas breves, mas inspiradas palavras, a Santíssima Virgem logo discerniu o quanto havia sido manifestado a Santa Isabel acerca de sua gravidez e de quem Ela gerava. Por isso, proclamou com o cântico do Magnificat (cf. Lc 1, 46-55) que o Poderoso fizera grandes coisas n’Ela e que seu espírito exultava no Senhor.

Maria passou esse tempo servindo Isabel, apesar da insistência desta em sentido contrário, mas, sobretudo, elevando-a além da alta santidade que já havia conquistado no decurso de seus muitos dias nesta terra. Aquele lar foi santificado pela presença da Rainha do universo!

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Texto extraído do livro São José: Quem o conhece?

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