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Um único Senhor

O amor a Deus não admite parcelas em nosso coração. A nossa vida deve estar orientada ao serviço de um único Senhor.

Jesus instruindo os seus discipulos

Redação (31/10/2021 08:14, Gaudium Press): A liturgia deste domingo converge nossa atenção ao primeiro e maior mandamento divino, outorgado a Moisés, no Monte Sinai. O livro do Deuteronômio recolhe as palavras de Deus dirigidas ao povo eleito rumo à terra onde emana “leite e mel”, através de seu profeta, Moisés, a fim de recordá-los acerca do preceito divino de amar a Deus com “todo o coração, com toda a alma, com todo o entendimento e com todas as forças” (Dt 6, 5). Moisés bem conhecia a dureza de coração daquele povo, pois a evidência dos fatos decorridos, ao longo dos anos de peregrinação pelo deserto, comprovavam a facilidade com que eles se desviavam da verdade pela prática de cultos pagãos, adorando deuses construídos por mãos humanas, que não podem ver nem ouvir (cf. Dt 4, 28). Por isso, ele ressalta: “O Senhor nosso Deus, é o único Senhor”.

Poder-se-ia dizer que o “respeito humano” diante das incontáveis raças circunvizinhas – pois a nação eleita era a única que adorava um só Deus – era o principal motivo que os levava à prática de cultos idolátricos. Contudo, havia uma razão muito mais profunda por detrás desta transgressão da Lei eterna: a de “amar a Deus acima de todas as coisas”.

Amor a Deus e ao próximo

               O Evangelho vem a confirmar as palavras outrora proferidas por Moisés. Um mestre da lei se apresenta diante de Nosso Senhor, a fim de fazer-Lhe uma pergunta a propósito da lei, que O pusesse à prova (cf. Mt 22, 35b). Supõe-se que, sendo um “doutor da lei”, deveria conhecer perfeitamente o decálogo divino e, por consequência, as normas de conduta da lei. Portanto, pode-se conjecturar de várias maneiras a sua intenção, seja de mau espírito, como por competição, ou apenas para comprovar até onde iam seus conhecimentos.[1]

“Qual é o primeiro de todos os Mandamentos?” – perguntou o mestre da lei. E Jesus respondeu:

“O primeiro é este: Ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força” (Mc 12, 28b-30).

       A finalidade do entendimento consiste essencialmente em conhecer a Deus tanto quanto possível, pois como ensina Santo Tomás, o entendimento é a potência que nos faculta o conhecimento da verdade.[2] E, por consequência, leva a nossa razão a fortalecer a nossa fé, fazendo com que O amemos “com todas as forças”. Todavia, como amá-Lo de todo o coração?  Como sei se realmente O amo de toda a alma?

       Uma das mostras de autêntico amor a Deus, é apresentada pelo Divino Mestre:

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12, 31).

       Nunca haverá verdadeiro este amor, se não for desdobrado em relação ao próximo: “aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” (1 Jo 4, 20). Amor este, não fruto do orgulho, como por interesse próprio ou por sentimentalismo, mas à imitação de Nosso Senhor: “Como Eu vos tenho amado” (Jo 13, 34). Ou seja, amar ao próximo por amor a Deus, visando a sua santificação.

Corações abrasados de amor a Deus

Ora, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, é muito patente a lei divina que constitui para o homem “um único Senhor”. Deus foi quem nos criou, dando-nos o ser com suas qualidades, dotes e, sobretudo, fazendo-nos partícipes de Seu íntimo convívio, quando nossa alma passou a ser inabitada pela Santíssima Trindade, no dia de nosso batismo. Nossa razão de viver, nossos pensamentos, nossas ações e o nosso coração devem estar inteiramente postos n’Ele. Pois, se há um único Senhor, não se permite que haja um outro além d’Ele, e, portanto, não se admite que seja “parcelado” o nosso amor, levando a contaminar o amor a Deus com o amor ao mundo.

Quantas vezes, o apego ao dinheiro, a uma honra, a uma má amizade, a um vício, e enfim, a tantos erros, fazem abandonar o amor a Deus. A história do povo eleito, bem serve de exemplo àqueles que dividem o seu coração, constituindo para si outros senhores.

 Por Guilherme Motta


[1] TUYA, Manuel de. Biblia Comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v. 5, p. 490.

[2] SANTO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. II-II, q. 2, a. 1; a. 3.

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