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Beata Alexandrina da Costa

Beata Alexandrina da Costa faleceu no dia 13 de outubro de 1955. A exemplo de Santa Maria Goretti, preferiu arriscar a vida a macular sua castidade. Começou então um longo Calvário, oferecido a Jesus para a conversão dos pecadores.

Beata Alexandrina Maria da Costa em 1939

Redação (13/10/2022 10:18, Gaudium Press) A meio caminho entre o Porto e Braga, situa-se o povoado de Balazar, típico exemplar das encantadoras aldeias portuguesas, com casas de pedras rústicas, rodeada de vinhedos, trigais, figueiras e oliveiras.

O pequeno lugarejo não contava 2 mil habitantes em 1953, quando começou a receber milhares de visitantes por dia. O que atraía para lá essas multidões? — O brilho da santidade, refletido na vida de uma virgem heroica, prostrada há mais de 30 anos num leito de dor.

Infância iluminada pela Eucaristia

Ali veio ao mundo Alexandrina Maria da Costa, no dia 30 de março de 1904. Filha de camponeses devotos e laboriosos, ficou órfã de pai pouco após seu nascimento. Era uma menina muito alegre, atraente e vivaz. Mas nunca deixava levar-se por sua jovialidade e espontaneidade a ponto de prejudicar sua precoce vida espiritual.

Desde seus primeiros anos, fascinava-se com as procissões religiosas cheias de colorido, que percorriam a aldeia em dias de festa. Quando fez sua Primeira Comunhão, aos sete anos, já tinha adquirido um profundo amor à Eucaristia, visitando o Santíssimo Sacramento com inabitual frequência e fazendo comunhões espirituais nas ocasiões em que não lhe era possível assistir à Missa.

Devido à difícil situação da família, viu-se obrigada, aos nove anos, a trocar os bancos escolares pelo trabalho no campo.

 Após três anos de serviço, um camponês de coração depravado quis atentar contra a castidade dessa frágil menina. Não teve êxito em seu intento, pois, segurando o Rosário em sua mão, foi ela dotada pelo Senhor de uma força inexplicável.

Depois deste incidente, retornou Alexandrina para a casa materna. Nesse ano, 1916, adoeceu gravemente e recebeu a Unção dos Enfermos. Sua mãe dava-lhe o crucifixo a beijar, mas a jovenzinha movia a cabeça, murmurando: “Não é este que quero, mas sim Jesus na Eucaristia”.

Não se recuperou inteiramente. Em precário estado de saúde, dedicou-se à costura, junto com sua irmã mais velha, Deolinda.

Castidade heroica

Essa tranquila vida de trabalho em família foi interrompida de forma brutal em 1918, quando ela tinha 14 anos.

Estava no andar superior da casa em companhia de Deolinda e outra jovem. Três homens aproximaram-se, exigindo com ameaças que os deixassem entrar.

Assomando-se à janela, Alexandrina reconheceu um deles como aquele que havia tentado ultrajá-la anos atrás. Rapidamente, fechou a porta. Mas eles conseguiram entrar por uma portinhola. Deolinda e a outra jovem puderam escapar, porém Alexandrina ficou cercada por aquele bandido num canto do quarto.

Ela gritava: “Jesus, ajudai-me!”, ao mesmo tempo que o açoitava com o Rosário.

Atrás dela havia uma janela. Era sua única saída! Sem hesitar, lançou-se para baixo, preferindo arriscar a vida em defesa de sua virgindade.

O golpe foi muito duro. Sentindo uma dor agudíssima que lhe fazia ranger os dentes, agarrou-se a um pedaço de madeira e arrastou-se para dentro da casa. Sua coluna ficou irreparavelmente prejudicada.

Os melhores médicos especialistas do Porto nada puderam fazer para evitar a trágica consequência da queda: após 5 anos de dores que aumentavam sem cessar, a heroica virgem viu-se, ainda na flor da juventude, condenada à paraplegia pelo resto de sua vida.

Quarto da Beata Alexandrina e a cama onde foi o seu calvario Paulo Kenji

Descoberta de uma sublime vocação

Insondáveis e maravilhosos são os caminhos traçados pela Divina Providência para cada alma! No leito de dor a que estava reduzida, Alexandrina começou a pedir uma maior união com Jesus.

E não tardou a surgir-lhe na alma a ideia de que sua vocação era a de aceitar amorosamente os sofrimentos.

À sua aldeia começaram a chegar notícias das aparições de Nossa Senhora em Fátima. A Santíssima Virgem — narravam-lhe — vinha pedir sacrifícios pela conversão dos pecadores e em reparação pelas ofensas cometidas contra o Imaculado Coração de Maria e seu Filho Divino.

Certo dia, quase toda a população da pequena aldeia partiu para Fátima. Sozinha em casa, Alexandrina fechou os olhos e começou a orar, oferecendo a Jesus, nessas intenções, o sacrifício do abandono e da desolação.

Estando nessa oração, seus pensamentos e desejos voavam para o Santíssimo Sacramento, presente na igreja de Santa Eulália, a poucos passos de seu aposento. Estaria Ele, lá, abandonado como ela?

Inesperadamente, teve uma iluminação da graça em sua alma: “Pude entender que Nosso Senhor também se encontrava prisioneiro no tabernáculo”, declarou.

A descoberta deste vínculo com Jesus Hóstia constituiu para ela um convite para ir visitá-Lo em espírito e permanecer constantemente em sua presença, adorando-O e amando-O sem interrupção, orando, oferecendo-se como vítima expiatória para consolar seu Sagrado Coração e obter a conversão dos pecadores.

Uma alta missão: sofrer, amar, reparar

Não pôde ir à Cova da Iria visitar a singela capelinha erguida no local onde aparecera a Mãe de Deus. Mas tornou-se uma das primeiras e mais ardorosas discípulas da Virgem de Fátima.

Sumamente comovida, Alexandrina suplicava a Nosso Senhor que lhe permitisse sofrer até o limite de suas forças, para livrar do fogo do inferno os pecadores.

Não se fez tardar a aceitação dessa generosa súplica: suas dores começaram a agravar-se até ficarem quase insuportáveis. Noite após noite, permanecia ela desperta e com febre muito alta.

Sempre com o Rosário nas mãos, repetia entre soluços a jaculatória ensinada por Nossa Senhora de Fátima aos pastorinhos: “Ó Jesus, é por amor a Vós, pela conversão dos pecadores e em reparação às ofensas ao Imaculado Coração de Maria!”

Na sagrada Eucaristia, que o Pároco de Balazar levava-lhe diariamente, obtinha ela novas forças para oferecer mais sofrimentos.

Em 1931, começou a ser beneficiada por fenômenos místicos e definiu em três palavras sua missão: “Sofrer, amar, reparar”.

Segundo seus próprios relatos, ela teve, sob a forma de êxtases, mais de mil contatos com o Divino Redentor, normalmente às sextas-feiras ou nos primeiros sábados.

 “Ajuda-me na redenção do gênero humano”

No dia 6 de setembro de 1934, Jesus falou com Alexandrina pela primeira vez, convidando-a a participar de sua Paixão. Ela nunca pôde esquecer esse dia em que sofreu sua “primeira crucifixão” e emitiu o voto de fazer sempre o que fosse mais perfeito.

 No mês seguinte, o Divino Redentor fez-lhe um convite para ser vítima expiatória: “Ajuda-me na redenção do gênero humano”.

No dia 3 de outubro de 1938, Nosso Senhor convidou-a a submergir-se em sua Paixão: “Vê, minha filha, o Calvário está pronto, aceitas?” Alexandrina acedeu generosamente.

As pessoas presentes sustinham a respiração enquanto ela entrava em êxtase e, recobrando momentaneamente o uso de seus membros paralisados, empreendia os movimentos da Paixão, desde a Agonia no Horto das Oliveiras até a morte no Calvário.

“Tudo parecia estar presente diante de mim. Eu sentia o medo e o horror dessas horas amargas, a ansiedade de meu diretor espiritual a meu lado e as lágrimas de minha família aterrorizada”, escreveu ela.

Esse fenômeno místico repetiu-se desde então todas as sextas-feiras, até 20 de março de 1942. O Pe. Umberto Pascoale — sacerdote salesiano, seu diretor espiritual e principal biógrafo — recomendou-lhe ditar às suas duas secretárias o relato desses êxtases, que duravam do meio-dia às 3 horas da tarde.

Com isto, recolheu uma documentação abundante e de alta qualidade. Alguns desses êxtases foram filmados e incorporados ao processo de beatificação.

Vivendo exclusivamente da Eucaristia

Num dia de 1942 ouviu a voz do Senhor dizendo-lhe: “Não te alimentarás mais com comida nesta terra. Tua comida será minha Carne, tua bebida será meu Sangue, tua vida será minha Vida”. Assim se fez.

Durante os últimos 13 anos de sua vida, Alexandrina não comeu nem bebeu mais nada. Alimentava-se exclusivamente da Eucaristia. Sua fome e sede somente por Deus podiam ser saciadas.

Ela comunicou a seu diretor espiritual o que Nosso Senhor lhe havia dito: “Estás vivendo só da Eucaristia porque quero mostrar ao mundo inteiro o poder da Eucaristia e o poder de minha Vida nas almas”.

Decorreram, assim, longos anos de vida de vítima expiatória, entre atrozes sofrimentos, graças místicas insignes e, por incrível que possa parecer, algumas atividades apostólicas.

Alexandrina tornara-se muito conhecida. No ano de 1952, o número de visitantes aumentou a ponto de o Arcebispo de Braga publicar uma circular, declarando proibidas essas visitas.

Porém, poucos meses depois, declarou anulada a circular, e a afluência de pessoas cresceu ainda mais. Em 9 de maio de 1953, recebeu quase 2 mil visitantes. Em 5 de junho, perto de 5 mil. E no dia 10 do mesmo mês, cerca de 6 mil.

 “Não chorem por mim … por fim, vou-me para o Céu”

No dia 13 de outubro de 1955, pouco depois de receber a Sagrada Eucaristia, faleceu a privilegiada participante da Paixão de Cristo Jesus. Suas últimas palavras foram:

“Não chorem por mim, hoje sou imensamente feliz… por fim, vou-me para o Céu”. Aos sacerdotes, peregrinos e jornalistas que abarrotavam o lugar, deu uma recomendação na qual se reconhece o eco da Mensagem de Fátima:

“Não pequem mais. Os prazeres desta vida nada valem. Recebam a Comunhão, rezem o Rosário todos os dias. Isto resume tudo!”

O corpo de Alexandrina repousa na igreja paroquial de Balazar, perto do Sacrário.

Sua longa vida de sofrimentos foi uma contínua prece pela conversão dos pecadores. No Céu, será ela certamente valiosa intercessora junto a Jesus e Maria para todos quantos a ela recorrerem, pedindo essa preciosa graça para si ou para terceiros.

Alexandrina foi beatificada pelo Papa João Paulo II a 25 de Abril de 2004.

Texto extraído, com pequenas adaptações, da Revista Arautos do Evangelho, abril de 2004.

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