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Qual é o destino das crianças que morrem sem o Batismo?

O Limbo é uma das mais difíceis questões da Teologia. 

limboRedação (08/07/2021 11:13, Gaudium Press) Como conciliar a necessidade do Batismo para alcançar a vida eterna — no caso das crianças que morreram sem o ter recebido — com a vontade salvífica de Deus?

Esta difícil questão parece insolúvel à primeira vista, pois sobre o Limbo não há qualquer dado na Revelação.

O que é Limbo?

Limbo é o “lugar diverso do purgatório; em ambos, é verdade, não se vê a Deus, mas no purgatório as almas sofrem penas que não existiam no limbo; este também não se deve confundir com o inferno: local também privado da vista de Deus, mas sofrem-se também os tormentos.

As almas não padeciam no limbo pena alguma (Catecismo Romano) e não estavam sem uma certa felicidade [grifos nossos], como se vê na parábola em que o pobre Lázaro é consolado (Lc 16, 25), porque no juízo particular haviam recebido a certeza da sua felicidade eterna. Não podiam, contudo, entrar nas alegrias eternas no céu, porque o céu ainda não estava aberto (Hb 9, 8). Suspiravam, portanto, continuamente pelo Salvador”.

Diferencia-se o limbo, portanto, do purgatório – lugar para o qual, salvando-se, “a alma vai, logo depois do juízo particular” para se purificar, satisfazendo com penas temporais o que ficou devendo por seus pecados – assim como do inferno – lugar para onde vai a alma, logo depois do juízo particular, que não está na amizade com Deus.

Ou seja, ao contrário destes lugares, não há no limbo, as penas temporárias como no purgatório e muito menos o sofrimento eterno.

No limbo tem-se a felicidade natural (e não sobrenatural do Céu), porém, com a privação de Deus, cuja visão beatífica só se tem no Paraíso Celeste. Evidentemente, esta felicidade não é plena, pois não se tem a posse de Deus para a qual fomos criados e chamados.[1]

Crianças não batizadas

Muitas teorias foram apresentadas pelos teólogos ao longo dos séculos, sendo a mais conhecida a defendida por Santo Agostinho, segundo a qual crianças que morrem sem o Batismo estariam privadas da plena felicidade da visão de Deus, mas gozariam de uma felicidade natural no Limbo.

Enquanto os Padres gregos preferem não perscrutar os desígnios de Deus, os Padres latinos avançam com a teoria do Limbo, a qual evoluiu de um inferno mitigado a um lugar onde não haveria sofrimento, pois as crianças não batizadas, não havendo cometido nenhum pecado consentido, não teriam culpas que justificassem um castigo.

Doutrina esta defendida por São Tomás de Aquino e aceita pela generalidade dos teólogos, durante muitos séculos.

No entanto, esta opinião não era unânime na Igreja, pois Inocêncio III já invocava o argumento de que Deus, para cada circunstância, sempre tem um remédio de salvação para a humanidade:

“Não é admissível que se percam todas as crianças pequenas que em tão grande multidão morrem todos os dias, sem que Deus misericordioso, o qual não quer a perdição de ninguém, tenha buscado também para elas algum meio de salvação”.

Vontade salvífica de Deus

O Batismo é importante, pois não há salvação fora da Igreja, Contudo, há hipóteses baseadas na vontade salvífica de Deus.

Entre muitos outros argumentos — como a analogia com os Santos Inocentes, os quais não receberam o Batismo, ou a predileção de Jesus pelas crianças — recorda-se a doutrina de São Tomás de Aquino, segundo a qual Deus não precisa necessariamente dos sacramentos para conferir a alguém os seus efeitos.

Tal foi o caso da Santíssima Virgem Maria, a Quem Deus aplicou os efeitos da Redenção antes do nascimento de Jesus Cristo, isentando-A do pecado original: é o dogma da Imaculada Conceição.

De forma análoga, poderia Deus aplicar os efeitos do Batismo às crianças prematuramente mortas sem terem sido batizadas.

Concluímos com o ensinamento do Catecismo da Igreja Católica, o qual afirma que a “Igreja só pode confiar as crianças mortas sem Batismo à misericórdia de Deus.

Com efeito, a grande misericórdia de Deus, que ‘quer que todos os homens se salvem’ (1 Tm 2, 4), e a ternura de Jesus para com as crianças levando-O a dizer: ‘deixai as crianças virem a Mim, não as impeçais’, nos permitem esperar que haja um caminho de salvação para as crianças mortas sem Batismo”, podendo vir a gozar da visão beatífica.[2]

 


[1] Cf. Spirago, Francisco. Catecismo Católico Popular: Primeira Parte. Trad. Arthur Bivar. 2ª ed. Portugal: Tipografia da Empresa Veritas, s/d, p. 152.

[2] Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 67, julho 2007.

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