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“Grand Retour” e o Reino de Maria

No auge das aflições e angústias, a Virgem Maria transmite uma mensagem de amor e confiança a toda a humanidade.

Nossa senhora do grand retour

Redação (26/02/2021 11:01, Gaudium Press) Em 1943, padecia o mundo das horríveis consequências da guerra mundial. Na França invadida e humilhada, milhares de famílias sofriam a angústia de ter um parente morto, prisioneiro ou desaparecido. Cabisbaixos, os franceses viam as tropas estrangeiras marcharem ufanas por suas cidades semidestruídas pelos bombardeios inimigos. Aflição e amargura imperavam nos espíritos.

Porém, em meio a tanta desolação, surge inesperadamente no horizonte um rastro luminoso de esperança. Uma após outra, várias cidades começam a se adornar como para uma grande festa: nas casas, pendem das janelas tapeçarias e arranjos florais de variadas cores.

Regozijo e expectativa reinam em muitas cidades francesas, pressagiando algo de grandioso… Mas, não nos esqueçamos, isto se passa durante as tragédias da Segunda Guerra Mundial.

O que terá feito as pessoas esquecerem por um momento suas dores? Quem será objeto de tanta homenagem?

Uma celestial visitante

“Ela está chegando!”… “Ali está ela!” – são os brados que anunciam o grande acontecimento. Um aparatoso cortejo entra pelas portas da cidade. Fiéis entoam cânticos religiosos a plenos pulmões. Todos os olhares se voltam para um andor que chega…

Por seu formato, mais parece um barco. Sim, um pequenino barco sobre uma charrete puxada por cavalos enfeitados com fitas multicolores.

Sobre esta singular embarcação, que parece singrar os pavimentos das ruas, avista-se uma simples, porém tocante imagem da Santíssima Virgem.

Após ter percorrido o povoado vizinho, Ela é recebida com grandes comemorações na igreja matriz, onde passará a noite em vigília com os fiéis.

Que Virgem é esta? Qual sua história? Por que tanto atrai as multidões em torno de si?

Presente da Providência

notre dame grand retourSua origem remonta ao século VII. Certo dia, os habitantes de Boulogne-sur-Mer, extremo norte da França, avistaram na orla marítima uma embarcação sem velas, sem remos e sem marujos que a pudessem ter trazido. Nela encontraram uma piedosa imagem de Nossa Senhora com o menino Jesus, da qual se irradiava uma luz extraordinária, transmitindo uma impressão de paz, calma e felicidade.

Séculos mais tarde, quando os furores antirreligiosos da Revolução de 1789 assolaram a França, não pouparam sequer a venerável imagem, que foi lançada às chamas, dela não restando mais que a mão direita. Parecia terminada, assim, a atuação de Nossa Senhora sob a invocação de Virgem de Boulogne-sur-Mer.

Cinco anos de missão popular

Entretanto, a Providência tinha outros desígnios. Em 1938 celebrou-se nessa cidade um congresso mariano durante o qual a França foi consagrada solenemente ao Coração Imaculado de Maria.

E em 1942, o Papa Pio XII consagrou a Ela a humanidade inteira. A seguir, as autoridades eclesiásticas francesas renovaram a consagração da França, anteriormente realizada.

No rastro dessas graças, quatro cópias da imagem de Boulogne-sur-Mer partiram em peregrinação pelo país, em 1943, percorrendo a França durante cinco anos e despertando um movimento de orações, de penitência e de reafervoramento que só pode ter sido inspirado pelo Espírito Santo.

Esse movimento foi denominado de Grand Retour, devido aos seus objetivos imediatos: obter da Medianeira de todas as Graças o retorno dos cerca de um milhão de soldados franceses que continuavam como prisioneiros de guerra; o retorno da paz; o retorno da liberdade; e, o que mais importava, o retorno da Fé. O sofrimento fazia as almas voltarem-se para Deus, à procura de auxílio e consolo.

Foram anos de extraordinárias manifestações de entusiasmo e de piedade marial. Em qualquer lugar onde chegava uma imagem, ela era acolhida por uma multidão vibrante de Fé e devoção. E, ao partir, deixava como fruto de sua passagem conversões, milagres e uma alegria desbordante e generalizada.

Curas físicas e espirituais

Inúmeros fatos tocantes marcaram esses cinco anos de peregrinações.

Conta-se, por exemplo, que, ajoelhada e com os braços abertos em cruz, uma menina rezava certo dia durante largo tempo diante da maternal imagem. O que tanto suplicava ela? Desejava com ardor rever seu querido pai, o qual há vários anos havia partido para a guerra e nunca dera notícias. E foi atendida: chegando em casa, lá estava ele a recebê-la carinhosamente.

Notou-se também uma pessoa que de má vontade acompanhava o cortejo. Emburrado, com os punhos cerrados, parecendo estar sob o efeito de misteriosa ação, dizia para si mesmo: “Esta Virgem é irresistível! Ela é irresistível!”. E quando a procissão chegou à Igreja, dirigiu-se de imediato ao confessionário.

Houve também curas físicas, mas eram sobrepujadas pelas espirituais. Por onde passava uma imagem, as igrejas ficavam lotadas; muitos acorriam ao Sacramento da Penitência e retornavam à prática da Religião, abandonada durante anos.

Um pároco relatou que, antes dessa graça, não via um só homem rezando em sua igreja; depois da peregrinação, afluíam eles em grande número.

Nossa Senhora do “Grand Retour”

Em razão dessas graças, Notre-Dame de Boulogne passou a ser conhecida como Nossa Senhora do Grand Retour. E a renovação espiritual que a França experimentou naqueles cinco anos, bem mostrou quanto Maria jamais se esquece de alguém, velando por cada um como se fosse seu filho único. Com o seu Sapiencial e Imaculado Coração palpitando de ansiedade e santa pressa, Ela aguarda o nosso retorno à casa paterna para nos acolher, purificar e cumular de dons.

Plinio Corrêa de Oliveira[1] e o Grand Retour

A esse respeito, explica Dr. Plinio: “Este mundo gasto e roto, corrompido pela podridão das nações neopagãs, poderá ser transmudado pela súplica infalível de Nossa Senhora.

Haverá, em consequência, um ‘Grand Retour’, o Espírito Santo descerá sobre a humanidade e lhe dará uma elevação de vistas como nunca houve; um enorme retorno das almas, as quais, contagiadas pelo fogo que Maria Santíssima acenderá nos apóstolos dos últimos tempos, se converterão.

n sra de fatimaNossa Senhora haverá de “nos colocar no ponto onde nós estávamos quando começamos a decair, e talvez com graças até maiores que essas, pela bondade d’Ela.

Porque é nossa Mãe, e São Luís Grignion diz que o amor somado de todas as mães por um filho único é muito menor do que o amor que Nossa Senhora tem ao último dos homens.”

Dr. Plinio frisava que a graça do “Grand Retour” não poderia ser entendida apenas como uma simples conversão, mas como o sinal do início de um período inédito na História, no qual as almas serão conduzidas, por especial intervenção de Maria Santíssima, a um auge de santidade inimaginável, segundo o profetizado por São Luís Maria Grignion de Montfort:

“Vê-se muito bem que Nossa Senhora inaugura um regime de graças novo, que tem uma certa analogia com o regime de Deus com os homens antes e depois da Redenção. Quer dizer, há uma elevação de todas as coisas a uma situação para a qual nós somos chamados, mas que, por enquanto, não tem proporção conosco.

De maneira que quando nós chegarmos na hora do ‘Grand Retour’, mesmo que estejamos no apogeu de nossa fidelidade, ele ainda é necessário. […] Porque seria uma grande chegada, inclusive para quem tivesse sido inteiramente fiel.”

E mesmo àqueles que não percorreram as vias da fidelidade plena estaria franqueada a entrada para essa grande graça.

“Assim, de uma torrente avassaladora de graças que, através da Virgem Santíssima, Deus concederá ao mundo, a água se transformará em vinho excelente, o melhor da História, transformar-se-á no Reino de Maria.”

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho, nº 91, julho 2009.


[1] Cf. CLÁ DIAS, O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira, op. cit., v.III, p.348-358. 129

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