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Rei Davi: exemplo de penitência e confiança

Se alguém alguma vez andou mal – e quem é que não andou mal? – aproveite esta quaresma, tempo dedicado à conversão e penitência, para se arrepender das faltas  e pedir perdão a Deus, assim como fez o Rei Davi.

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Redação (18/02/2021 15:52, Gaudium Press) Do ponto de vista de “subir na vida”, nenhum homem deu um salto tão prodigioso quanto aquele juvenil pastor, filho de um obscuro homem conhecido pelo nome de Isaí, de uma cidadezinha de Judá mais obscura ainda, chamada Belém.

Ele era louro, de belos olhos e aparência muito formosa, segundo nos atesta a Sagrada Escritura. Tinha, ademais, o dom da eloquência e tocava harpa eximiamente. Além disso, era forte e destemido, a ponto de matar ursos e leões que assaltavam seu rebanho.

Entretanto, apesar de todas essas qualidades, não passava de um simples pastorzinho quando chegou à casa de seu pai um ancião de nome Samuel e ungiu-o Rei de Israel. “E, a partir daquele momento, o Espírito do Senhor apoderou-se de Davi” (I Sam 16,13). Em um instante, passou de pastor de ovelhas a rei escolhido diretamente por Deus!

Salto mais portentoso do que este, a História não registra.

Jesus, “filho de Davi”

A história de Davi é relatada com riqueza de pormenores no Primeiro e no Segundo Livro de Samuel, e no Primeiro Livro das Crônicas. Não é fácil definir, entre as inúmeras facetas de sua personalidade, qual a mais saliente. Pode-se, porém, realçar algumas: homem de combate, diplomata, governante, artista.

Poeta de inspiração quase inesgotável fez jorrar de seu coração incontáveis cânticos e orações em louvor de Deus. A Escritura Sagrada o apresenta não só como exímio tocador de harpa, mas também como organizador dos cantores do Templo e até mesmo como inventor de instrumentos musicais.

Com razão, ele é considerado como o rei por excelência. Teve, talvez mais do que qualquer outro soberano, o dom de atrair a si e alistar a seu serviço os homens mais competentes de seu tempo. Vitorioso contra todos os seus inimigos, governou com sabedoria e justiça o Povo Eleito.

Por força da bênção do Altíssimo, seus empreendimentos foram todos coroados de êxito, e assim ele levou o reino a um alto grau de prosperidade e esplendor.

Mas as Sagradas Escrituras lhe conferem um título de glória incomparavelmente superior. Ao descrever a genealogia de Jesus, São Mateus O define como “filho de Davi” (1, 1). E São Lucas diz à Virgem Maria, na Anunciação: “Deus lhe dará o trono de seu pai Davi” (1,32-33). Também São Paulo, ignorando todos os demais ancestrais do Salvador, afirma ser Ele “descendente de Davi, segundo a carne” (Rom 1, 3). Em diversas outras passagens, Jesus é chamado “filho de Davi”.

O Salmo 50 – Miserere

Entretanto, o que faz do Rei Salmista um homem lembrado e venerado no mundo inteiro não é este título, mas um outro, o de pecador arrependido.

Davi pecou, e com fortes agravantes. Contudo, repreendido pelo enviado do Senhor, o Profeta Natã, reconheceu humildemente seus crimes e implorou o perdão de Deus, confiante na sua infinita misericórdia.

Foi então que compôs o Salmo 50, intitulado Miserere, no qual estão expressos os vários elementos da contrição perfeita.

Nele se vê claramente o reconhecimento da própria culpa:

“Conheço minha maldade, e meu pecado está sempre diante de mim. (…) Pequei contra Ti só e fiz o mal diante de teus olhos“.

O Salmista sublinha a baixeza da ação que praticou e não deveria ter praticado.

Daí nasce um pedido de perdão, com manifestação de dor:

“Tende piedade de mim, ó Deus, segundo a vossa grande misericórdia (…) purifica-me do meu pecado”.

Ele invoca a grande misericórdia de Deus, como quem dá a entender que seu pecado, por ser muito grave, só poderá ser perdoado por força de uma insigne misericórdia.

Súplica feita com inteira confiança: “Vós me lavareis e ficarei mais branco que a neve (…) Não desprezarás, ó Deus, um coração contrito e humilhado”.

Em seguida, o pecador, sentindo-se já com a alma regenerada, pede a Deus um favor maior, para que sua emenda seja completa:

“Criai em mim, ó Deus, um coração puro, e renovai nas minhas entranhas um espírito reto”.

Tudo isso coroado por uma promessa de retribuição ao Senhor por tanta misericórdia:

“Ensinarei aos iníquos vossos caminhos (…) minha boca anunciará vossos louvores”.

Deus o perdoou e o reintroduziu em sua amizade. Sabendo que Deus deseja a salvação de todos os homens, ele assume o compromisso: farei apostolado para a conversão de outros pecadores.

Penitência e confiança

Da incredulidade de São Tomé, fez Jesus decorrer um inapreciável benefício: tendo tido a oportunidade de tocar com seus dedos as divinas chagas do Redentor, o Apóstolo incrédulo serviu de testemunho para os homens de fé débil, em todos os tempos.

Pode-se dizer o mesmo de Davi, pecador: sua contrição, seguida do caudaloso perdão de Deus, estimula a humanidade inteira a imitá-lo na penitência e na confiança, assim como o imitou no pecado.

Esta é uma reflexão de inestimável valor no período da Quaresma, em que a Santa Igreja convida de modo especial o povo fiel a fazer penitência, sim, mas com filial confiança na bondade infinita de nosso Redentor.

Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 38, fevereiro 2005.

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