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Por que Nazaré e Cafarnaum?

Por que terá escolhido Jesus a diminuta Nazaré para viver, e a dissoluta Cafarnaum para iniciar Sua pregação? Na vida do Salvador todos os acontecimentos se explicam por elevadas razões de sabedoria.

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Redação (26/01/2021 10:49, Gaudium Press) Ao estudar a vida pública de Nosso Senhor Jesus Cristo, podemos comprovar a existência de um plano de apostolado muito bem traçado, lógico e coerente.

1024px Nazareth Nikanor Chernetsov 1869Depois de quase trinta anos de silêncio e vida oculta e da primeira fase de sua vida pública, chegado o momento de começar as suas mais importantes pregações, devia o Salvador escolher um centro estratégico a partir do qual anunciaria aos homens o Reino de Deus.

Rejeitando Jesus da maneira mais vil, a ponto de desejar matá-Lo, os moradores da pequena cidade onde Se havia criado, Nazaré, se tornaram indignos de continuar convivendo com “o filho de José” (Lc 4, 22).

Entretanto, mesmo que a acolhida tivesse sido respeitosa, era improvável que Ele permanecesse ali, em razão de sua localização desfavorável: isolada no fundo de um vale, em região de difícil acesso e pouco povoada, ficava distante das zonas mais importantes da Galileia.

Cafarnaum: a cidade de Cristo

Situada ao leste da Galileia, nas terras que haviam pertencido às tribos de Zabulon e Neftali, a cidade de Cafarnaum contava, nos tempos evangélicos, entre 15 e 20 mil habitantes, e constituía o núcleo comercial dos arredores.

Aos seus pés, o Lago de Genesaré — conhecido também como Mar da Galileia ou ainda Mar de Tiberíades —, com cerca de 21 km de comprimento por 12 km de largura, abundava em peixes e era sulcado, todos os dias, por centenas de barcos de pescadores que singravam suas límpidas águas.

Cafarnaum encontrava-se em um lugar particularmente fecundo — a Galileia era considerada o celeiro da Palestina —, que serviria como fonte de inspiração das belas parábolas do Divino Mestre.

Além disso, por sua condição fronteiriça e mercantil, e graças à proximidade de diversas estradas importantes — dentre as quais a Via Maris, que unia a Síria ao Egito —, Cafarnaum oferecia muitas vantagens ao Redentor.

Sem sair dela, podia instruir não só os seus conterrâneos, como também os numerosos estrangeiros que transitavam por esse movimentado entroncamento de caminhos. Ali “faziam alto os mercadores da Armênia, as caravanas de Damasco e da Babilônia, carregadas com os produtos do Oriente, as guarnições romanas que marchavam para a Samaria ou para a Judeia e as multidões de peregrinos que nos dias festivos subiam à Cidade Santa. Aqueles mercadores, soldados, pagãos e peregrinos rodearão a Jesus nas margens do lago e recolherão, de caminho, os seus divinos ensinamentos”.

Todas estas características fizeram de Cafarnaum a cidade de Cristo, como nos é referida pelo Evangelho (cf. Mc 2, 1; 9, 33).

A partir dela começou Nosso Senhor a pregar a iminência do Reino dos Céus e a necessidade de conversão. Ele libertava os possessos, restituía a saúde a epiléticos e paralíticos, curava todo tipo de doenças, e, em consequência, sua fama crescia a cada dia.

Além de galileus, acompanhavam-No grandes multidões vindas da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e das localidades do outro lado do Jordão (cf. Mt 4, 23-25).

Conduzido pelo Espírito Santo

Desse modo, podemos comprovar que Jesus era conduzido pelo Espírito e, por um sopro dEle, se retirou para a Galileia.

Com efeito, o próprio Espírito Santo nos inspira sabiamente a escolher os tempos e os lugares. Ele é quem nos ensina quando devemos fugir das perseguições ou afrontá-las, em quais momentos temos obrigação de falar ou de calar, de manifestar-nos a todos ou de nos recolher.

Se fôssemos inteiramente flexíveis aos sopros da graça do Espírito Santo, maravilhas sairiam de nossas mãos para a glória de Deus e da Santa Igreja, o bem dos outros e a santificação de nossas almas.

Infelizmente, com raras exceções, a humanidade se move, ao longo da História, muito mais pelo interesse pessoal, pela ambição, pela inveja, pelo amor próprio, pela vaidade, pelo prazer, em uma palavra, pelo pecado.

Quão grande desperdício de dons, virtudes e graças, do qual se prestará contas diante do Juízo de Deus!

Jesus, muito pelo contrário, retira-se para a Galileia a fim de ali começar Sua vida pública, com Suas primeiras pregações, confirmadas por prodigiosos e profusos milagres, ilustradas por insuperáveis parábolas. Ali estabeleceu o centro de Sua missão.

Oh feliz Galileia! Tomara soubesses tirar todo o proveito de tão excelsa circunstância! Oh odienta Jerusalém, oh maldosa Judéia, vós perseguis o precursor e perdeis os benefícios da presença do Salvador. Justamente debaixo desse prisma é que se cifra a minha verdadeira felicidade, corresponder com perfeição aos toques da graça ou rejeitá-los. Eu devo temer a Jesus que passa e não retorna…

 

Texto extraído, com adatações, da Revista Arautos do Evangelho n. 146, fevereiro 2014. Por Mons João Scognamiglio Clá Dias, EP.

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