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Por que Jesus quis ser batizado?

Certo dia, São João Batista notou a presença de Jesus no meio dos peregrinos. Tomado de sobrenatural emoção, inclinou-se para o recém-chegado, evitando Lhe dar o batismo: “Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim!”  

Batismo

Redação (09/01/2022 09:40, Gaudium Press) O batismo conferido por São João não era da mesma natureza que o Batismo sacramental, instituído posteriormente por Nosso Senhor Jesus Cristo. Provinha verdadeiramente de Deus, mas não tinha o poder de conferir a graça santificante.

O próprio Batista pôs em realce a diferença: “Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3, 16).

O efeito do batismo de João consistia num incentivo ao arrependimento dos pecados, explica São Tomás de Aquino. Ora, em Jesus não havia sequer sombra de pecado, nem poderia haver, uma vez que Ele era o Homem-Deus. Não tinha, portanto, matéria para arrependimento e penitência. O que explica, então, que Ele tenha querido ser batizado?

Sujeitar-se à condição humana

Várias são as razões dadas pelos Padres e Doutores da Igreja. Eis uma delas: quando o Verbo se fez Homem, Ele quis se sujeitar às leis que regem a vida humana. Por exemplo, obedeceu às leis que estavam em vigor entre os judeus, sendo apresentado no Templo após seu nascimento, sofrendo a circuncisão, e cumprindo os ritos da Páscoa judaica.

Assim, quis também receber o batismo penitencial de João. Perdido no meio da multidão, Jesus — inocente — submeteu-se a um rito destinado ao pecador: “Convém cumpramos a justiça completa”, justificou-se Ele perante o profeta.

Comentando essas palavras, Santo Ambrósio diz: “A justiça exige que comecemos por fazer o que queremos que os outros façam, e exortemos os outros a nos imitarem pelo nosso exemplo”.

Purificar as águas

Entre as dez razões enumeradas na Suma Teológica para o batismo de Jesus, São Tomás de Aquino coloca em destaque o objetivo da purificação das águas. Citando Santo Ambrósio, diz o Doutor Angélico que “purificadas pelo contato com o corpo de Jesus Cristo, que não conheceu o pecado, tivessem a virtude de batizar”.

Por que razão Deus escolheu a água como matéria para o Batismo?

A água é um elemento rico em simbolismo. Por exemplo, é uma imagem da exuberância de Deus. Basta considerar que três quartas partes da superfície da Terra são constituídas por água. Também é símbolo de vida. É elemento essencial para a manutenção de todos os seres vivos. Quanto mais abunda a água numa região, maior é a quantidade de plantas e animais que ali se desenvolvem.

Além disso, ela é o elemento preponderante da matéria viva, de modo tal que o próprio corpo humano é composto, na sua maior parte, de água.

Podemos considerá-la também um símbolo da bondade, do carinho e da magnanimidade de Deus para com a humanidade. Agrada ao ser humano vê-la cair, em forma de chuva, cristalina, refrescante, tornando fértil o solo, favorecendo as plantações, limpando o ar.

Vista por outro prisma, tem ela uma potência descomunal de destruição. Apesar de toda a técnica moderna, e de um presunçoso progresso que se julgou capaz de um dia conseguir dominar os elementos da natureza, os homens se espantam e se aterrorizam com a força destruidora das águas. E ainda nisso ela é para nós um símbolo, o do poder onipotente de Deus.

Por sua capacidade de lavar, ela lembra a limpeza espiritual. Por diversas vezes a Sagrada Escritura assim a ela se refere, como no seguinte trecho: “Derramarei sobre vós águas puras, que vos purificarão de todas as vossas imundícies e de todas as vossas abominações” (Ez 36, 25). Nessa passagem, o profeta Ezequiel prediz o batismo de São João e, mais especialmente, o Batismo sacramental, instituído por Jesus.

Nada mais conveniente, portanto, do que a água ser a matéria do Batismo. E nada mais adequado que Deus encarnado ter querido purificá-la pelo contato de seu sacratíssimo corpo.

Incentivo ao Batismo

Outro motivo, dos mais importantes, para o Senhor decidir sujeitar-se ao ritual do Jordão era estimular nos homens o desejo do Batismo sacramental.

A recepção do Batismo é necessária para a salvação, como demonstram as palavras de Jesus a Nicodemos: “Quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3, 5).

O batismo de João levava ao arrependimento dos pecados, mas não tinha o poder de perdoá-los. O Batismo sacramental, instituído por Jesus Cristo, tem efeitos infinitamente maiores.

Adão transmitiu a todos os seus descendentes a culpa original. O Sacramento do Batismo limpa a alma da mancha desse pecado, confere a graça santificante, eleva o homem à condição de filho de Deus e abre-lhe as portas do Céu.

Ele é a chave de todos os outros Sacramentos, indispensáveis para o homem cumprir com fidelidade a Lei de Deus. Tal é a grandeza e a eficácia do Sacramento do Batismo.

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

 

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n.13, janeiro 2003.

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