Gaudium news > Santo Eduardo, o Confessor

Santo Eduardo, o Confessor

No século XII, a maravilhosa harmonia das desigualdades: a pobreza, a realeza e a vontade divina se ilustram na vida do Rei Eduardo, o Confessor, cuja memória a Igreja celebra hoje, dia 5 de janeiro.

720px Anonimo inglese o francese dittico wilton 1395 99 ca. 03 edoardo il confessore

Redação (05/01/2024 08:39, Gaudium Press) Num trecho do livro “La Baja Edad Media”, de autoria de Cristopher Bruck, Professor de História Medieval da Universidade de Liverpool, está descrito o seguinte fato da vida de Santo Eduardo, comentado por Plinio Corrêa de Oliveira.

 “Basta o Rei carregar-te aos ombros”

Um homem vítima de grave e dolorosa enfermidade – a qual fazia com que seus nervos se contraíssem, produzindo, com isso, feridas que dificultavam extremamente seus movimentos – conseguiu, certo dia, que o levassem até o Papa para pedir sua cura.

Este respondeu que o enfermo seria curado, mas para isso era necessário que o Rei da Inglaterra o pusesse sobre os ombros e o levasse da grande sala de Westminster até a Abadia, onde por fim encontraria a cura do mal que o atormentava.

A majestade e a repugnância se encontram

Tendo voltado à Inglaterra, o doente dirigiu-se ao palácio real. Alegando trazer uma mensagem pontifícia, ele conseguiu comparecer à presença do soberano.

Imagine-se como terá sido a cena daquele homem chegando diante do Rei, o qual provavelmente se encontrava em seu trono, resplandecente de majestade, mas ao mesmo tempo de bondade e afabilidade.

— O que quer? Interroga-lhe o Rei.

— Senhor, eu venho da parte do Papa.

— Então, diga-me do que se trata.

— Ele pede que vós me cureis.

— Mas como poderei fazer isso?

— É ordem do Papa…

O recado que é transmitido consiste na manifestação do desejo do Papa de que esse grande monarca, glorioso chefe da nação, carregue ao pescoço aquele mendigo chagado e purulento, apresentando-se nessa postura humilhante pelas ruas, ao longo de todo o percurso.

O santo soberano atende ao pedido. E, na pequena Londres de então, o Rei sai de seu palácio, fazendo-se montar por aquele indivíduo, enquanto as sentinelas se perfilam e um arauto toca trombeta avisando que Sua Majestade vai passar.

Dos mais belos fatos da monarquia inglesa

SH0501 Santo Eduardo Catedral de Mexico Lucio Cesar RodriguesNaquela cidade pequena, onde todo mundo se conhece, certamente o povo deve ter comentado: “logo Gila Michael, esse mendigo miserável, carregado assim pelo Rei! Nosso augusto Rei, Santo Eduardo, símbolo da Inglaterra e da virtude da Igreja Católica, ele tão majestoso, digno e altivo como um lírio, trazendo um mendigo montado sobre si! Que coisa extravagante!”

Enquanto isso, tanto o mendigo quanto o Rei vão rezando, e pedindo a Nossa Senhora a esperada cura.

Atrás do Rei o povo atônito forma um cortejo que caminha rumo à Abadia de Westminster, a fim de ver qual será o desfecho daquela curiosa cena.

No caminho, porém, as vestes reais vão se enchendo de pus e sangue que começam a verter das chagas daquele homem, o qual ao mesmo tempo começa a sentir que algo nele está se dando.

Ao entrar na Abadia, o monarca dirige-se para junto do altar, lá tira o precioso fardo de seus ombros e o põe no chão.

Então, o homem, que montando no Rei, vinha trazendo nas mãos suas muletas, larga-as e começa a andar, pois suas chagas estavam inteiramente secas e ele miraculosamente curado.

O Rei está com seus trajes gloriosamente cobertos de sangue e pus; por seu intermédio um grande milagre resplandeceu num dos atos mais belos de toda a história da monarquia inglesa.

Belo como fato ou como lenda

Alguém poderia levantar dúvida sobre a historicidade desse fato. A meu ver, isto não tem grande importância, pois ainda que venha a ser um mito ou uma lenda, o importante é ter havido numa determinada época multidões desejosas de que as coisas tivessem se passado deste modo; caso contrário, nem mesmo seriam capazes de inventar algo assim.

Pode tratar-se de uma lenda baseada num fato verídico, o qual foi glosado e embelezado para atender mais plenamente a apetência das pessoas. Porém, o que importa é ter existido um povo que tivesse o estado de espírito tendente a se entusiasmar com a possibilidade das coisas se passarem desta forma.

Como vibram de entusiasmo por realidades diferentes as pobres multidões modernas, infelizmente tão massificadas, materializadas e quase aniquiladas!

Este episódio é indiscutivelmente belo, porém é necessário fazermos uma análise a fim de que a beleza que nele se encontra não permaneça apenas como convicção, mas seja fundada no raciocínio, para desta forma podermos compreender mais profundamente o esplendor da Igreja Católica.

A espera só aos fortes é pedida

Como a Providência tratou a Fé desse homem?

Poderia tê-lo curado logo, mas não o fez. Pelo contrário, inspirou ao Sumo Pontífice de enviá-lo de volta à Inglaterra para lá ser miraculado. Tal ato de confiança Nossa Senhora pede aos fortes. Enquanto aos débeis na Fé, a maior parte das vezes Ela atende imediatamente.

Outro aspecto de beleza é a certeza do pobre homem de que o Rei Eduardo o iria curar.

A grandeza de se fazer pequeno

O Rei podia curar o mendigo ali na mesma hora. Então, por que deixar-se cavalgar por um doente como aquele?

Não podiam os dois se dirigir para Abadia de Westminster sentados numa carruagem?

Trata-se do seguinte: É bonito que um rei, homem posto no mais alto píncaro da hierarquia social, se lembre de que ele é homem como o outro, pois de certa forma todos são iguais. São desiguais apenas em seus acidentes, os quais por vezes são de uma importância muito grande, mas, em sua essência, o rei é homem como o outro.

Por causa disso, o maior deve ser capaz de servir o menor, respeitando assim a qualidade de homem que ambos têm em comum.

Estes são os dois aspectos lindíssimos desse fato: um pobre resignado, mas que com essa naturalidade e Fé pede ao Rei para que o leve sobre os ombros; um Rei que reconhece a altura de sua realeza, mas é capaz de dizer: “Meu filho, pois não. Suba e vamos juntos pedir o milagre que você necessita”.

Texto extraído, com adaptações, da Revista Dr Plinio n. 158, maio 2011.

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas