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Ensinando para o futuro: Virtual x Presencial

Embate entre os “tecnoevangelistas”, que consideram o virtual como única conjuntura para o futuro, e os “tecnocéticos”, que o qualificam como um infortúnio.

Ensinando para o futuro Virtual x Presencial

Redação (11/11/2020 11:00, Gaudium Press) O avanço dos meios digitais no ensino já vinha se desenvolvendo previamente à situação que nos levou esta pandemia de Covid-19. Se apresentava uma opção toda especial: a chamada educação virtual ou a continuidade histórica da presencialidade do mestre ou professor.

Verdadeiro conflito, polêmica questão. Entram em cena, além de pedagogos, psicólogos, psiquiatras, neurologistas, biólogos e, claro, cientistas da computação. Há um embate entre os chamados, singularmente, de “tecnoevangelistas”, que consideram o virtual como única conjuntura rumo ao futuro, e os “tecnocéticos”, que o qualificam como um infortúnio.

O online já se instalou

Tema profundo, adentremo-nos nele. A circunstância é atual, é o que muitos lares já estão vivenciando: educação online, sem presencialidade, devido as normas preventivas vigentes na maioria dos países.

Estima-se que cerca de 1.200 milhões de crianças em todo o mundo ficaram sem ir à escola, com os efeitos que esta realidade acarreta. Os países mais desenvolvidos podem enfrentar isso, mas os menos ricos, chamados de subdesenvolvidos, terão consequências muito graves.

A razão é muito simples, o percentual de quem tem acesso a computadores e internet em seus lares não é total, chegando a ser, pelo menos na América Latina, por volta de 47%, considerando os níveis primário, secundário e terciário.

Se o problema fosse apenas nos estudantes já seria grave. Mas, nesta “emergência”, observamos que nem todos os docentes possuem os conhecimentos necessários para educar desta forma, e outros não têm acesso a eles.

Estaremos, em breve, diante do impacto, desde os níveis de aprendizagem até os índices de evasão escolar. Milhares de pais de família buscarão outras opções. A pobreza que ameaça entrar impedirá que possam matricular seus filhos, optando por “economizar”, não enviando crianças ou jovens à escola e obrigando-os a trabalhar para o sustento dos lares. Tudo isto aumentará ainda mais as taxas de evasão escolar. Dados de uma pesquisa realizada em colégios particulares de El Salvador, consideram que, neste momento, a evasão subiu para 20%, mais ou menos 44 mil alunos.

A crise da saúde, as mortes, a perda de empregos, são outros fatores que atingem duramente as famílias, repercutindo na tão importante área da educação. Nem sequer sabemos quantos professores perderão seus empregos. Se diz que muitos colégios encerrariam suas atividades, a falta de meios econômicos lhes impossibilita que enfrentem o recomeço das atividades educacionais.

É o que estamos começando a vislumbrar como consequências do dia seguinte ao qual a Covid-19 nos levou.

Aprofundemo-nos mais nessa “polêmica” do ensino virtual, online, à distância, em casa, através de uma tela.

Virtualidade em detrimento da qualidade?

Há muito tempo a tecnologia vem sendo proposta para dar um acesso universal à educação e melhorar a qualidade da aprendizagem. Através do e-mail, da busca de informações, das bancas online, seja em áudio, televisão ou cinema, até de videogames, se pretende substituir a presencialidade educativa.

Numerosos estudos demonstram que o ensino virtual não tem a mesma eficácia. Poderá ser útil para o tempo de pandemia que vivemos, mas considerar que devemos caminhar para isso, é discutível.

Se o vermos pelo lado do desempenho dos alunos, muitos são os dados que nos chegam, como aconteceu na capital Illinois, nos Estados Unidos, que proibiu o uso de pijama nas “aulas virtuais”, sentar na cama, usar chapéus, óculos escuros e outros, refletindo as regras dos períodos presenciais.

Se compreende a norma, pois a desatenção -que já é um problema sério nas aulas presenciais- é mais viável estando diante de uma tela e sem a supervisão de um adulto.

Caricaturas, ou memes na internet, circulam mostrando a completa distração dos educandos diante do educador na tela. Eles saem, se escondem, não prestam atenção, cortam a comunicação. E seus pais, muito exigidos pelas circunstâncias da casa e do trabalho online, não têm condições de os acompanhar, sendo-lhes impossível cumprir uma função que normalmente é exercida pela própria escola ou faculdade.

O imprescindível contato pessoal

Fatores psicológicos diversos dão origem à uma falta de entusiasmo, um desinteresse pelo estudo. Como bem dizem os especialistas, o mundo tecnológico é importante como auxiliar, mas não o substitui.

Poderíamos afirmar, sem medo de sermos desmentidos, que os que mais sofrem com a falta das aulas presenciais, que mais sentem falta delas, são os mais jovens. Continuam aparecendo vídeos que demonstram a necessidade do contato pessoal, de receber o carinho, a função de segunda casa que se vivencia nas escolas, com a presença dos professores. Dentro da flexibilização que está ocorrendo em alguns países -entre as primeiras medidas- os professores foram autorizados a visitar as crianças em suas casas. É que o virtual, gostem ou não os “tecno-evangelistas”, tira a realidade da vida. Além do agravante, de perder o convívio social, o esporte, o contato com a natureza, e, o recreio, ansiado momento para descarregar energias e tensões. Além disso, em certos níveis sociais, a perda da merenda escolar.

Condição angustiante sofrem as crianças, pois as relações foram interrompidas. Tem sido desconsiderado que os seres humanos necessitam do convívio social como a melhor forma de aprender; é insubstituível, online, é muito difícil sentir. E mais ainda, se unificarmos a escola com o lar, estaremos produzindo danos duradouros à psicologia infantil e juvenil. Uma coisa é o local de estudo, outra é a própria casa, compartilhar com sua família, relaxar da pressão dos horários, aulas, etc. Cada lugar tem seu papel em uma sociedade harmoniosamente organizada.

Vendo as telas substituindo, não só a presença -de ter o mestre ou professor ao seu lado- mas também o giz e o quadro negro, nos perguntamos: presencial ou virtual? Lápis ou teclado? Papel ou tela? Interessante e polêmico tema para aprofundar em algum outro artigo…

Por Padre Fernando Gioia, EP

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

www.reflexionando.org

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