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Conflagração religiosa em um Oriente inundado

Chuvas torrenciais na China e no Japão acrescentam sérias complicações ao combate contra a epidemia do coronavírus. Inundações, desabamentos, tormentas, mera semelhança com a situação religiosa do Oriente e do mundo.

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 Redação (17/07/2020 11:35, Gaudium Press) Como se não bastasse a epidemia do coronavírus para colocar o mundo em pânico, uma mão misteriosa continua a produzir fenômenos imprevisíveis, verdadeiras catástrofes naturais que logo poderão marcar a história do Oriente.

China em alerta vermelho e recorde de chuvas torrenciais no Japão

A sequência de chuvas iniciadas neste dia 02 de julho continua a efetuar seus prejuízos no Sudoeste e Centro do Japão, tendo sido solicitada a evacuação de 230 mil pessoas pelos riscos de transbordamentos e desabamentos. A esta situação se acrescentam graves complicações diante do crescimento de contágios por Coronavírus no país. Os demais danos ainda não são calculáveis.

Na China, quatro cidades ao longo do rio Yangstsé apresentam inundação de alto nível com deslizamentos de terra e devastação de campos de cultivo. Cerca de 140 pessoas mortas ou desaparecidas por causa das tormentas. As condições climáticas continuam imprevisíveis e instáveis. Os especialistas têm notado aumento de precipitações desde de 1961.

Parece que o foco dos acontecimentos voltou-se para o Oriente e o Ocidente continua a contemplar, num silêncio admirado e indolente, desabamentos de toda ordem.

Desabamentos na China: o caso de Mons. Jia Zhiguo

Mas não é de hoje que nos tem chegado da China notícias de desabamentos. Quanta coisa do lado de lá o Ocidente não permitiu que desabasse?

O caso de Mons. Jia Zhiguo nos permite algumas previsões a esse respeito.

Com a epidemia, as Igrejas na China permaneceram fechadas desde Janeiro. Em junho, as autoridades políticas permitiram uma reabertura com rígidas condições de segurança. É importante considerar que, desde 2018, regulamentos sobre a atividade religiosa começaram a impor a condição, ou melhor, a proibição da presença dos menores de 18 anos nas igrejas e em qualquer catequese, mesmo sendo esta cláusula contra a própria constituição chinesa.

E uma tentadora proposta foi feita a Mons. Jia Zhiguo, um bispo “subterrâneo”: poderia reabrir as igrejas assim que acabasse a quarentena do Coronavírus sob a única condição de proibir o ingresso de jovens menores de 18 anos. Entretanto, sua resposta simples e objetiva foi: “A Igreja deve estar aberta para todos, inclusive para os menores de 18 anos”.

O que falta para o desaparecimento de uma plantação que já não pode deitar sementes no seio de sua própria terra?

A ex-Basílica de Santa Sofia

Ainda no Oriente: o presidente Turco Erdogan decidiu que a Hagia Sophia, o templo da “Divina Sabedoria”, será novamente ativado enquanto mesquita. O primeiro ato deste renascimento religioso terá lugar no dia 24 de julho.

O suntuoso templo – erigido em 537, guarnecido do que havia de mais requintado de pedras, mosaicos e técnicas de engenharia da época e que fez Justiniano afirmar: “Eu te venci, Salomão!” –, marcou a história do cristianismo em todas as suas fases, a partir de sua inauguração.

Mesmo em nome da paz ecumênica e da esperança de um reencontro com nossos irmãos cristãos separados, ninguém no Ocidente ousou dirigir uma palavra mais definida sobre o assunto. Apenas os ortodoxos levantaram-se, senão para opor-se, ao menos para dar os gritos de alerta: “É uma ameaça para toda a civilização cristã”, disse o patriarca Kirill de Moscou. Até o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, cheirou o perigo acusando a “arrogância anticristã” de Erdogan.

A ocupação muçulmana continua mais crescente que as enchentes japonesas. Não será a reinauguração da mesquita de Santa Sofia um símbolo de uma pretensiosa conquista? É pelo menos infantil acreditar que as consequências desta decisão se circunscrevam aos limites territoriais e políticos da Turquia.

“A humanidade sempre foi ruim, a única diferença é que, hoje em dia, a notícia chega mais rapidamente”

Epidemias, inundações, crise religiosa, crise moral, crise econômica, criminalidade etc. são coisas que encontramos em qualquer época histórica e mutatis mutandis, nada há de novo sob o sol.

Mas, se a história é mestra da vida, não podemos ceder a um fatalismo absoluto. Temos que aprender alguma coisa com ela; não sejamos ingratos.

Um pouco antes da difusão pânico-epidêmica do Covid-19, conversei com um cidadão que me pareceu muito sensato, como bom brasileiro, mas que me deixou uma afirmação contundente para minhas certezas: “A humanidade sempre foi ruim, a única diferença é que, hoje em dia, a notícia chega mais rápido, por isso assusta mais”. Ostentava seu aparelho celular durante toda a conversa, aliás, como todo mundo hoje em dia.

O mais curioso é que eu comentava com ele justamente sobre as profecias de Fátima em 1917, nas quais Nossa Senhora acusava e ameaçava, apontando para a decadência moral do mundo de então (1917!).

O meu educado interlocutor pareceu muito incomodado quando citei os temas Fátima, castigos, profecias. Então, logo acrescentou ao pensamento acima que, francamente, se ele perdesse a esperança na humanidade, perderia sua motivação pessoal e profissional. É que ele havia exercido a advocacia, abandonado a carreira e seguia, presentemente, a profissão de bombeiro. Acredito que tenha aprendido a apagar incêndios já na Faculdade de Direito. De qualquer forma, dizia, sempre trabalhou pela humanidade (este ente abstrato, globalizado, indefinível e cada vez menos humanizado que vemos por aí).

Para as pessoas que pensam assim, nós não estamos vivendo um período de crise econômica ou religiosa, de tensão universal, de fenômenos da natureza extraordinários, apenas passamos a conhecer melhor a humanidade através dos meios de comunicação. Concordo que a história da Igreja e do mundo sempre foi crivada e costurada por toda espécie de tragédias, dificuldades, guerras, escândalos, catástrofes etc., mas não é possível deixar de ver nesta posição tão negativa algumas gotas de – curiosamente – otimismo e mesmo de ingenuidade.

E se Nossa Senhora apareceu em 1917 pedindo conversão e penitência, não terá sido para tentar evitar, misericordiosamente, um “fenômeno natural” como o que caiu sobre Sodoma e Gomorra?

Por Arthur Paz

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