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Nossa Senhora do Bom Conselho no Brasil?

A Fé católica foi-nos trazida pelas naus portuguesas e com a Fé, a devoção a Maria Santíssima. Como o quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho chegou ao Brasil?

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Redação (26/04/2022 08:47, Gaudium Press) Entre as múltiplas reproduções do afresco de Nossa Senhora do Bom Conselho, há uma que mostra ter sido o Brasil objeto de especial proteção, pois foi a própria Mãe do Bom Conselho quem quis enviá-la.

Um brasileiro na Itália

Miguel e José, dois irmãos da família Campos Lara, uma das mais distintas da cidade de Itu, no Estado de São Paulo, eram noviços da Companhia de Jesus. Em 1760, o Rei de Portugal expulsou essa Ordem de seus domínios de aquém e além-mar. Os dois noviços quiseram, então, acompanhar no desterro a seus irmãos de vocação. Depois de árdua e penosa discussão com a família – que considerava um exagero os dois, ainda tão jovens, irem para o exílio –, partiram para Roma, junto com os jesuítas.

Na Itália, ao terminarem seus estudos receberam a ordenação sacerdotal. Pouco tempo depois, faleceu Miguel. Quanto a José, foi enviado por seus superiores a vários lugares.

Porém, o Papa Clemente XIV decretou o fechamento da Companhia de Jesus devido às fortes pressões dos governos maçonizados. Pe. José Campos Lara, após 13 anos de desterro, viu-se em uma situação inesperada: o próprio Vigário de Cristo o afastava para longe. Era preciso ter uma Fé robusta e um alto heroísmo para perseverar em condições tão adversas.

Transcorreram 10 longos anos em que Pe. José se encontrava sem família e amigos, longe da pátria e órfão de sua própria ordem religiosa. Nessa época, a Europa, na procura do gozo da vida, caminhava rumo à Revolução Francesa e às guerras napoleônicas. Sem embargo, o mundo sussurrava-lhe a cada instante: “Esqueça os idealismos vãos! Deixe os preconceitos do passado! Este é o século das luzes e da liberdade! Procure uma esposa – ou companheira – trabalhe com aparência de honestidade e aproveite esta breve vida! Você ainda é jovem e inteligente!”

O inesperado encontro

Certo dia, em 1785, passeava ele pensativo por uma praia deserta. O agradável rumorejar das ondas o distraía um pouco das preocupações e dores. Fazia já 12 anos em que Pe. José vestira pela última vez a batina dos jesuítas e 25 anos que deixara o Brasil.

De repente, viu um jovem que caminhava em sua direção e que lhe ofereceu um quadro a óleo representando a Mãe do Bom Conselho, pedindo que o levasse ao Brasil. E, ao mesmo tempo, anunciou-lhe que, no lugar onde Ela seria venerada, seria erguido, um dia, um grande colégio jesuíta. Surpreso, o sacerdote respondeu-lhe que não dispunha de recursos para a viagem. No entanto, o jovem desconhecido assegurou que o comandante de um navio que estava para zarpar o admitiria gratuitamente. Impressionado e consolado com essa notícia, Pe Campos Lara voltou-se para se despedir deste jovem, mas eis que este desapareceu ante seus olhos! Persuadido de que se tratava de um espírito celeste que o procurou com aquela aparência, dirigiu-se imediatamente ao cais e encontrou o navio indicado. O capitão facilmente concordou em aceitá-lo em seu navio gratuitamente. A primeira promessa do misterioso personagem se cumprira.

Durante a longa viagem, Pe. Lara rezou muito à Nossa Senhora do Bom conselho, pedindo que o aconselhasse sobre o que fazer dali por diante.

Longa espera

Chegando ao Brasil, dirigiu-se a Itu com o quadro e se estabeleceu em uma chácara que seus pais haviam deixado de herança. Imediatamente erigiu uma capela para venerar a imagem. Todavia, faltava ainda a restauração da Companhia de Jesus e a abertura do colégio em Itu. Era questão de esperar, rezar e confiar.

Após 29 anos de espera, em 1814, vieram notícias de Roma: o Papa Pio VII restaurou a Companhia de Jesus! Comovido, o Pe. José de Campos Lara agradeceu à Mãe do Bom Conselho o cumprimento de mais uma parte de sua profecia. Porém, a espera continuava, pois faltava ainda o colégio ser erguido.

Ao completar 35 anos de seu retorno às terras brasileiras, Pe. José de Campos Lara faleceu na paz do Senhor.

Ergue-se o colégio jesuíta

E a promessa do colégio jesuíta? Nossa Senhora teria falhado com a promessa? Não, pois as grandes promessas exigem muita confiança, oração e espera. E quando cumpridas, são mais extraordinárias daquilo que se excogitava.

De fato, anos mais tarde, um sobrinho do Pe. Lara, sacerdote exemplar, doou a propriedade à Companhia de Jesus e neste local foi construído um grande colégio jesuíta.

Em 1872, o quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho, até então venerado na antiga capela do Pe. Lara, foi introduzido no altar-mor da nova igreja, anexa ao colégio. Havia transcorrido 87 anos desde sua entrega miraculosa ao jesuíta brasileiro na praia italiana.

E quando este colégio da Companhia foi transferido para a cidade de São Paulo, em 1918, com ele foi também o quadro da Mãe do Bom Conselho.

Especial proteção

Desde o início do descobrimento do Brasil, Nossa Senhora do Bom Conselho quis mostrar sua predileção e proteção, já que a primeira missa aqui celebrada foi na data de sua festa, 26 de abril.

Coincidências? Para Deus não existem coincidências, mas desígnio. Foi certamente o desvelo de proteger esta Terra de Santa Cruz que animou esta inigualável e extremosa Mãe. Ela é caridosa, dadivosa, acalma as tempestades, resolve o insolúvel, socorre em todos os perigos, defende de todos os inimigos.

Que Nossa Senhora do Bom Conselho – em meio às confusões, crises e pandemias atuais – oriente, governe e conduza, com maternal afeto, os brasileiros.

Mons. João Clá Dias, EP

(texto extraído, com adaptações, do livro Mãe do Bom Conselho p. 192-196)

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