São Mateus: varão nobre, poderoso e suave

Para quem converte um povo inteiro, do que adianta riquezas e poder temporal sobre ele?

 

Redação (21/09/2023 08:00, Gaudium Press) O Apóstolo São Mateus evangelizou a Etiópia, onde desmascarou e apontou como agentes do demônio os magos que iludiam o rei e o povo daquele país.

Santo Elesbão, um rei negro piedoso e combativo

Seu apostolado foi muito eficaz, pois a Etiópia se tornou cristã. As nações onde os outros Apóstolos atuaram, e até deixaram insignes recordações — como a Índia, por exemplo —, não se converteram.

No século VI, a Etiópia teve como rei um Santo negro, Elesbão, varão fervoroso e combativo que, após uma guerra contra homens assassinos de cristãos, implantou o Catolicismo numa região que hoje corresponde ao Iêmen.

Afirma o Martirológio que, na época de Justino I, Imperador Romano do Oriente, Santo Elesbão enviou a Jerusalém sua coroa real e passou a viver como monge, em cumprimento a um voto que fizera. Sua memória é celebrada em 15 de maio.

A respeito de São Mateus, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira teceu comentários que a seguir sintetizamos .

Os medievais tinham certa noção de um reino cristão situado além do Egito, onde, segundo as notícias trazidas pelos navegantes portugueses, vivia o famoso Preste João — Padre João, em português arcaico. Tratar-se-ia, pois, da Etiópia.

De acordo com a Legende Dorée, esse país e seu rei estavam desviados do culto do verdadeiro Deus por obra de magos. São Mateus os enfrentou e desmascarou, provando que eram incapazes de fazer qualquer coisa sem auxílio do demônio. Operando autênticos milagres, o Apóstolo confundiu aqueles impostores diante do povo, demonstrando a farsa com que a todos iludiam.

Assim, esse varão sobrenatural, nobre, poderoso, suave, acolhedor, exerceu grande influência sobre aquela gente admirativa.

Duzentas virgens de ébano recolhem-se num convento

Pouco tempo depois, São Mateus ressuscitou o filho do Rei Egipo, o qual, querendo adorá-lo como deus, ofertou-lhe grande tesouro. O Apóstolo não permitiu tal adoração e, com o ouro e a prata que lhe haviam levado, construiu uma grande igreja junto a qual viveu durante 33 anos.

Egipo, sua mulher e todo o povo se fizeram batizar. Ifigênia, a filha do rei, foi consagrada a Deus e colocada à frente de duzentas virgens num convento.

Não nos é difícil compreender o imenso alcance desse fato. Uma nação imersa durante séculos no paganismo e em toda espécie de vícios, com a simples pregação de um Apóstolo converte-se, o povo todo é batizado e duzentas virgens de ébano, ao lado da própria filha do rei, recolhem-se num convento para se tornarem esposas do Rei por excelência, Nosso Senhor Jesus Cristo!

Outro detalhe: quão bela deve ter sido a primeira igreja da Etiópia, construída diretamente sob a inspiração de São Mateus, e como essa edificação causou alegria no Céu aos Anjos, a Deus e a Nossa Senhora!

O Apóstolo increpa o rei em defesa da virgem Ifigênia

Entretanto, o Rei Egipo morreu e seu sucessor, Hírtaco, desejou esposar Ifigênia, por considerá-la a única jovem digna dele e de sua posição. O novo monarca pediu a São Mateus que convencesse a princesa em aceitá-lo como marido, e prometeu doar ao Apóstolo, em caso de sucesso, metade do reino.

Vê-se a vã e frustra tentativa de suborno. Para quem converte um povo inteiro, do que adianta riquezas e poder temporal sobre ele? Incomparavelmente mais do que isso, São Mateus possuía a alma desse povo e a entregara a Deus.

O Apóstolo pediu, então, ao Rei Hírtaco que fosse à igreja no domingo seguinte, quando daria uma solução ao caso. O soberano anuiu e compareceu ao templo, encontrando-o repleto de fiéis que começaram a ouvir dos lábios de São Mateus um maravilhoso sermão sobre os benefícios de um casamento.

Figuremos um Hírtaco, de beiços grossos e vermelhos, dentes alvos, sorrindo de contentamento enquanto São Mateus elogiava o matrimônio. Certamente, pensava: “Agora não preciso lhe dar metade do meu reino, como prometi, porque me fez o serviço adiantado. A princesa será minha, e depois ele se entenderá comigo.” O rei estava seguro do assentimento da jovem.

Porém, continuando seu sermão, em determinado momento disse o Apóstolo: “Sendo o casamento tão sagrado e inviolável, alguém que quisesse possuir a mulher de seu rei, mereceria um castigo. Assim, Hírtaco, sabendo que Ifigênia é esposa do Rei eterno, como ousas tomar a mulher do infinitamente mais poderoso do que tu?”

Ao ouvir essas palavras, Hírtaco se retirou da igreja, tomado pelo ódio. Terminada a Missa, o rei enviou um carrasco que com uma espada matou São Mateus, o qual se encontrava orando de pé diante do altar e com os braços estendidos para o céu. O povo indignado correu ao palácio real para vingar o crime, mas os outros sacerdotes o detiveram, aconselhando que em lugar disso se unisse numa grande celebração em homenagem ao santo mártir.

A Fé católica é a semente de todo o bem

Enquanto isso, Hírtaco ordenava que ateassem fogo ao redor do convento de Ifigênia, para fazê-la perecer juntamente com as outras virgens. Mas, São Mateus apareceu e desviou o fogo para o palácio do rei, que foi inteiramente consumido.

Somente o soberano e seu filho único escaparam ao incêndio. O príncipe correu imediatamente ao túmulo do Apóstolo para pedir perdão, e o rei, atingido por horrível lepra, suicidou-se.

Depois desses episódios, o povo escolheu como soberano o irmão de Ifigênia, o qual reinou durante 60 anos, difundindo a Santa Igreja e construindo templos por toda a Etiópia.

O anterior Martirológio consignava Santa Ifigênia, cuja memória era celebrada em 21 de setembro. Em São Paulo, há uma Basílica dedicada a ela, que durante algum tempo funcionou como catedral da cidade.

Tem-se a impressão de que esse reinado foi sereno, tranquilo, elevado. Claro, não se pode dizer que basta construir igrejas e tudo estará resolvido. Mas erguendo-as e sendo frequentadas por um povo fiel, praticante da Religião verdadeira, tudo aquilo que é necessário para a sua prosperidade virá. Ou seja, instaurando autenticamente a Fé católica, está colocada a semente de todo o bem. Tal foi a obra do Apóstolo São Mateus na terra por ele evangelizada. (JSG)

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História da Igreja” – 17)

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1 – Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. São Mateus, Apóstolo evangelizador da Etiópia. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano X, n. 114 (setembro 2007), p. 26-29.

2 – “Legenda Áurea”, coletânea de vidas de Santos escrita pelo Bem-aventurado Jacopo  de       Varazze, dominicano e Arcebispo de Gênova (1229-1298).