Evangelização de São Paulo Apóstolo e Concílio de Jerusalém
“Separai para Mim Barnabé e Saulo, a fim de realizarem a obra para a qual Eu os chamei”, disse o Espírito aos cristãos de Antioquia.
Redação (Sexta-feira, 03-04-2020, Gaudium Press) Estando os principais cristãos de Antioquia reunidos em oração e jejuns, o Divino Espírito Santo disse-lhes: “Separai para Mim Barnabé e Saulo, a fim de realizarem a obra para a qual Eu os chamei” (At 13, 2). Essa obra significava a expansão da Santa Igreja de Cristo.
Conversão do governador de Chipre
Então, São Paulo e São Barnabé encetaram uma longa viagem, acompanhados por um primo de São Barnabé, chamado João Marcos – que se tornaria o Evangelista São Marcos –, e chegaram à capital da Ilha de Chipre. (Veja mais sobre São Paulo)
Ao saber que os Apóstolos estavam na cidade, Sérgio Paulo, “um homem de bem”, governador romano de Chipre, mandou chamá-los “porque desejava escutar a palavra de Deus” (At 13, 7).
São Paulo e São Barnabé dirigiram-se à casa do governador, onde também se encontrava um judeu, que era mago. Os Apóstolos começaram a falar sobre a Pessoa e a doutrina de Nosso Senhor, mas o mago se opôs a eles visando impedir a conversão de Sérgio Paulo.
Então, São Paulo fixou os olhos no mago e disse:
“Filho do diabo, cheio de falsidade e de malícia, inimigo de toda justiça. […] Eis que a mão do Senhor agora cai sobre ti: vais ficar cego. […] No mesmo instante envolveram-no escuridão e trevas, e ele começou a andar às cegas, procurando alguém que lhe desse a mão. (Saiba mais sobre São Paulo Apóstolo)
“Ao ver o que acontecera, [o governador] abraçou a Fé, pois ficara impressionado com o ensinamento a respeito do Senhor” (At 13, 10-12).
É bela a história desse governador. Posteriormente, ele foi ordenado bispo pelos Apóstolos e acompanhou São Paulo em sua viagem à Espanha. Ao passarem por Narbonne, Sul da França, o Apóstolo recomendou-lhe que ali permanecesse. Fez ele apostolado nessa região e progrediu tanto na virtude que se torno São Sérgio Paulo .
Santa Tecla, coluna que proclama as grandezas e os triunfos da castidade
São Paulo e São Barnabé estiveram em diversas cidades da atual Turquia, entre as quais Icônio, em cuja sinagoga falaram, e “uma grande multidão de judeus e de gregos abraçou a Fé” (At 14, 1).
Entre os convertidos, havia uma jovem chamada Tecla, noiva do herdeiro de uma das mais nobres famílias da Ásia. Rompeu ela o noivado e se dedicou de corpo e alma à Igreja.
Articulados por ímpios judeus, os pagãos começaram a perseguir atrozmente os cristãos. Tecla foi colocada num anfiteatro, para ser devorada pelas feras. Um leão, ao chegar perto dela, deitou-se e começou a lamber seus pés. A virgem foi, então, lançada numa fogueira, mas o fogo se extinguiu e ela permaneceu ilesa.
Libertada, Tecla se dedicou ao apostolado. Segundo São Metódio, “o charme de sua linguagem, a força e a graça modesta de seus discursos mostravam que de seus lábios fluía a sublime Teologia que ela havia aprendido de São Paulo”. Ela tornou-se santa e morreu em idade avançada. Sobre o rochedo que serviu de retiro e de sepulcro para essa nobre virgem, foi edificada uma suntuosa basílica em sua honra.
Afirma Santo Isidoro de Damielte que na pessoa de Santa Tecla devemos “admirar a reunião de todas as glórias e todos os troféus que podem ornar a mulher cristã; coluna indestrutível, ela proclama as grandezas e os triunfos da castidade, farol luminoso, erguido no oceano das paixões humanas, ela assinala o porto da eterna quietude”.
São Pedro increpa os judaizantes
Em vários lugares onde a Igreja florescia, judeus que haviam aderido ao Cristianismo começaram a dizer que os pagãos convertidos deveriam ser circuncidados e seguir a lei mosaica. Passaram eles a ser conhecidos na História como judaizantes.
Esses agitadores queriam “fazer do Cristianismo um complemento do judaísmo”, o que envolvia, no fundo, “a própria existência da religião de Jesus”. Se a doutrina dos judaizantes fosse aceita, a Igreja renunciaria à catolicidade e teria eternizado o particularismo.
“Conforme esses sectários fanáticos, a Fé em Jesus Cristo, a aplicação dos méritos de sua Paixão e Morte teriam sido, pois, insuficientes para obter a salvação.”
Judeus da seita dos fariseus e até mesmo “um grande grupo de sacerdotes” tinham aderido à Fé (cf. At 15, 4; 6, 7). Mas esses “convertidos” eram “falsos irmãos, intrusos, que sorrateiramente se introduziram entre nós” (Gl 2, 4). Aqueles que haviam matado Nosso Senhor queriam agora destruir a Igreja de Cristo.
O Apóstolo dos gentios anatematizou os judaizantes, chamando-os de cães, charlatães e mutilados (cf. Fl 3, 2).
Para solucionar essa questão de vital importância, foi realizado, no ano 51, o Concílio de Jerusalém, o primeiro da História da Igreja.
São Paulo, São Barnabé e São Tito foram de Antioquia até Jerusalém. A viagem feita a pé foi longa, pois precisaram atravessar a Fenícia e a Samaria (cf. At 15, 3). Chegando a Jerusalém, São Pedro, São Tiago o Menor e São João os receberam (cf. Gl 2, 9) e teve início o Concílio, do qual também participaram alguns judaizantes.
“Depois de longa discussão” (At 15, 7), São Pedro levantou-se e increpou os judaizantes, dizendo:
“Por que agora colocais Deus à prova, querendo impor aos discípulos um jugo que nem nossos pais, nem nós mesmos pudemos suportar?” (At 15, 10).
Proclamada a catolicidade da Igreja
Após as palavras do primeiro Papa, “houve então um grande silêncio em toda a assembleia” (At 15, 12). Esse silêncio “põe em relevo a autoridade suprema de Pedro, e os sentimentos de respeito, de obediência, que todos tinham por ele” .
Em seguida, São Paulo e São Barnabé contaram os fatos miraculosos realizados por Deus, através deles, entre os pagãos. E São Tiago Menor, Bispo de Jerusalém, também martelando contra os judaizantes, declarou que “não devemos inquietar os pagãos que se convertem a Deus” (At 15, 19), e indicou algumas prescrições que deveriam ser seguidas por eles.
Condenando, assim, o exclusivismo farisaico, o Concílio de Jerusalém proclamou a universalidade da Igreja que lhe valeu seu título imortal de Católica .
Por fim, os Apóstolos e anciãos enviaram uma carta “aos irmãos convertidos dos gentios”, na qual declaravam que eles precisavam “abster-se das coisas imoladas aos ídolos […] e da fornicação” (At 15, 29). Foi um golpe fortíssimo contra a idolatria e a sensualidade, nas quais o mundo inteiro estava afundado.
Afirma São João Bosco: “É conveniente notar que a fornicação é um pecado já proibido pelo sexto Mandamento, e por isso não era necessário renovar tal proibição. Mas julgaram oportuno proibi-la de novo aos gentios convertidos à Fé, os quais não a consideravam pecado. ”
Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História da Igreja” – 9)
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1 – Cf. FILLION, Louis-Claude. La sainte Bible avec commentaires – Actes des Apôtres. Paris: Lethielleux. 1889, p. 699.
2 – Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris : Louis Vivès. 1869, v. V, p. 541-542.
3 – Apud DARRAS, op. cit., p. 507.
4 – FILLION, op. cit. p. 715.
5 – FILLION, op. cit. p. 717.
6 – Cf. DARRAS, op. cit. 451.
7 – História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p. 290.
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