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Anunciai o Evangelho a toda criatura

Redação (Quarta-feira, 22-01-2020, Gaudium Press) Após a pesca milagrosa realizada no Mar de Tiberíades, em cujas margens Cristo ressurrecto Se alimentou de peixe e pão, os Apóstolos, conforme instruções de Nosso Senhor, se dirigiram a uma montanha da Galileia. Chegando ao local indicado, o Redentor apareceu-lhes e todos se prosternaram (cf. Mt 28, 16-17).

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“Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!”
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Jesus só escreveu uma vez e sobre a areia 

Disse-lhes Jesus:
“Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado” (Mc 16, 15-16).

Para anunciar o Evangelho às outras pessoas, é importante explicar-lhes a Doutrina Católica. Mas isso não basta.
Explica Monsenhor João Clá:

“Sabemos que Nosso Senhor Jesus Cristo nada deixou escrito, nem sequer um bilhete, quando poderia ter redigido textos de extraordinário valor. Que seria a obra de um Dante Alighieri, um Camões ou um Calderón de la Barca perto de sua divina literatura?”

Nos Evangelhos consta que Ele só escreveu uma vez e sobre a areia, quando no solo do Templo anotou com o dedo os pecados dos judeus ímpios que acusavam a mulher adúltera (cf. Jo 8, 6.8).

“Um de seus objetivos era constituir uma obra e, muito além de qualquer livro, ter modelos, tipos humanos para realizar uma ação direta, de pessoa a pessoa.

“Foi o que Ele fez: fundou a Igreja, instituição imortal que se baseia muito mais no apostolado pessoal e na ação de presença do que numa produção intelectual.

“É importante a doutrina, mas ela, de si, não é suficiente para converter as almas, porque ‘a letra mata, mas o Espírito vivifica’ (II Cor 3, 6). Logo, ela precisa ser difundida ‘pelo mundo inteiro’, mediante o invólucro do Evangelho, isto é, os princípios tornados vida.”

Beleza: um reflexo saliente e penetrante da existência de Deus

O verdadeiro apóstolo precisa proclamar a Doutrina Católica na sua integridade, e não querer adaptá-la aos erros do mundo. Afirma São Paulo:

“Ainda que nós mesmos ou um Anjo do Céu vos anuncie um Evangelho diferente daquele que vos tenho anunciado, seja anátema” (Gl 1, 8).

Devemos anunciar (no sentido mais adiante explicado) o Evangelho a toda criatura (cf. Mc 16, 15), ou seja, não só aos homens, mas também aos animais, vegetais, minerais e inclusive aos Anjos. Ensina o Apóstolo: “fomos entregues em espetáculo ao mundo, aos Anjos e aos homens” (I Cor 4, 9).

“A universalidade do anúncio se prende a que tudo foi concebido em função do Homem-Deus. O Verbo é a causa eficiente, a causa exemplar e a causa final de toda a criação (cf. Cl 1, 16-17). D’Ele parte e para Ele tem de voltar-se sua obra.

“Deste modo, a nossa atuação, enquanto batizados, deve visar a disposição de todas as coisas tendo-O como centro. Pregar, então, o Evangelho a uma grade implica em fazê-la bela e ao mesmo tempo funcional, a fim de que dê glória a Deus pelo fato de existir.

“A beleza é um dos reflexos mais salientes e penetrantes da existência de Deus, e quem contempla algo esplendoroso facilmente se eleva até Ele.

“Para levar o Evangelho a toda criatura é necessário abraçar a via pulchritudinis [via da beleza], um dos meios mais eficazes de propagar as maravilhas trazidas ao mundo por Cristo. Isto significa sacralizar os gestos, o modo de se comportar ou de executar qualquer tarefa, desde cultivar a terra de maneira a obter frutos de aspecto atraente até erigir prédios de acordo com padrões inspirados no Evangelho. Numa palavra, é querer que a Terra se transforme num verdadeiro Paraíso.”

Gregoriano, polifônico e estilo gótico

Excelentes instrumentos de apostolado são os cantos gregoriano – ou cantochão – e polifônico, bem como o estilo gótico.

Comenta Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Tanto o cantochão quanto o polifônico têm isso de próprio: cada nota é uma meditação sobre o sentido da palavra que está sendo dita, é uma tomada de posição piedosa, ora triste, ora alegre, ora afetuosa, ora adorativa, ora reparadora, ora eucarística a respeito daquilo que está sendo afirmado.”

Huysmans (1848-1907) e Paul Claudel (1863-1955), grandes escritores, receberam insignes graças de conversão ao ouvir cânticos gregorianos.

“Além de forte, o estilo gótico tem uma seriedade que confere ao interior de seus edifícios um certo recolhimento, uma compostura própria de quem é profundamente sério.

“A luz que neles penetra não é comum, mas tamisada pelo colorido feérico dos vitrais, fazendo-nos pensar num dia ideal, num sonho

que está do lado de fora. […]

“O gótico é, no fundo, um magnífico reflexo do imenso, inesgotável e fabuloso espírito da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.”

A graça divina

Para sermos verdadeiros apóstolos precisamos ter vida interior, a qual é proporcionada pela graça divina: um dom sobrenatural infundido por Deus em nossa alma, que nos dá uma participação da própria natureza divina (cf. II Pd 1, 4).

“O papel da graça consiste exatamente em iluminar a inteligência, em robustecer a vontade e em temperar a sensibilidade de maneira que se voltem para o bem.”

“Se temos vida interior e Jesus Cristo vive em nós pela piedade, pela vida sobrenatural, pela Moral, pelo desejo de nos santificarmos, pela fidelidade à ortodoxia – que é um imperativo do primeiro Mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas -, quando isto acontece, então Nosso Senhor Se serve de nós como de uma tribuna, um púlpito ou uma cátedra e, através de uma osmose que se nota em nossas palavras e em todo o nosso ser, Ele ensina aos outros.”

Disse São Paulo: “Ai de mim, se eu não pregar o Evangelho” (I Cor 9, 16). Roguemos a Nossa Senhora a graça de sermos apóstolos intrépidos que, pela palavra e pelo exemplo, busquem em tudo a glória de Deus e a salvação das almas.

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada, 223)
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1- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, v. III, p. 372.
2- Idem, ibidem, p. 373.
3- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A música dos Anjos no Céu. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XX, n. 236 (novembro 2017), p.     34.
4- Idem. Reflexo do inesgotável espírito da Igreja. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano II, n. 16 (julho 1999), p. 33-34.
5- Idem. Revolução e Contra-Revolução. 5. ed. São Paulo: Retornarei. 2002. p. 131.
6- Idem. Jesus vivendo em Maria. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XXII, n. 254 (maio 2019), p. 11.

 

 

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