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O sacerdócio está em perigo mortal, diz Cardeal Sarah

Redação (Sexta-feira, 14-02-2020, Gaudium Press) Em uma entrevista exclusiva ao National Catholic Register, o prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Robert Sarah, falou sobre as acusações de que ele se opõe ao Papa, deu detalhes sobre seu novo livro e ainda explicou por que acredita que o sacerdócio está em “perigo mortal”.

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Uma verdadeira reforma do cleropede uma
mudança radical na vida cotidiana dos sacerdotes”.
Foto:Youtube

A entrevista foi realizada no último dia 07 deste mês quando a propósito da publicação no final de fevereiro da edição em inglês do livro “Do mais profundo de nossos corações: Sacerdócio, Celibato e a Crise da Igreja Católica”, que tem a contribuição do Papa Emérito Bento XVI.

Por que escrever esse livro?

A responder essa pergunta do entrevistador, o purpurado respondeu:
“Porque o sacerdócio cristão está em perigo mortal! Está passando por uma grande crise”.
“A descoberta da grande quantidade de abusos sexuais cometidos por sacerdotes e, inclusive por Bispos, é um sintoma indiscutível disso.
O Papa Emérito Bento XVI já havia falado energicamente sobre esse tema. Mas, depois seu pensamento foi distorcido e ignorado. Assim como hoje, foram feitas tentativas para silenciá-lo. E como hoje, foram montadas manobras de distração para desviar a atenção de sua mensagem profética”, disse o Cardeal prefeito.
Ele ainda afirma que estar convencido de que Bento XVI disse o essencial: “O que ninguém quer escutar”.

Dessacralização da vida sacerdotal

O prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos afirmou que Bento XVI “demostrou que, na raiz dos abusos cometidos pelos clérigos, há uma falha profunda em sua formação.

O sacerdote é um homem separado para o serviço de Deus e da Igreja. É uma pessoa consagrada. Toda a sua vida está separada para Deus.

E, no entanto, queriam dessacralizar a vida sacerdotal. Queriam banalizá-la, fazê-la profana, secularizá-la. Queriam fazer do sacerdote um homem como outro qualquer.
Alguns sacerdotes se formaram sem colocar Deus, a oração, a celebração da Missa, a ardente busca da santidade no centro de suas vidas”, destacou , em sua entrevista.

Falta de formação

O Cardeal Sarah disse, ainda em sua entrevista, que não ensinaram os sacerdotes “que Deus é o único ponto de apoio para suas vidas” e não foram levados a experimentar “que suas vidas só fazem sentido através de Deus e para ele”.

Sacerdote, abuso de autoridade e escândalos

O Purpurado sublinhou:

“Alguns entraram na lógica diabólica do abuso de autoridade e crimes sexuais. Se um sacerdote não experimenta diariamente ser um instrumento nas mãos de Deus, se não está constantemente diante de Deus para servi-lo com todo o coração, então corre o risco de ficar intoxicado com uma sensação de poder. Se a vida de um sacerdote não é uma vida consagrada, ele corre grande risco de ilusão e distorção”.

Celibato sacerdotal e ordenação de homens casados

Dom Sarah criticou ainda algumas pessoas que procuram “relativizar o celibato dos sacerdotes”, mas assegurou que essa virtude é “a manifestação mais óbvia de que o sacerdote pertence a Cristo e não pertence mais a si mesmo”.

“O celibato é o sinal de uma vida que só tem sentido através de Deus e para ele.

Querer ordenar homens casados é implicar que a vida sacerdotal não é a tempo completo, que não exige um presente completo, que deixa a pessoa livre para outros compromissos, como uma profissão, que deixa tempo livre para uma vida privada.
Mas isso é falso. Um sacerdote continua sendo um sacerdote em todo momento”, afirmou o Cardeal Sarah.

Questionar o Celibato agrava a crise do sacerdócio

O Cardeal enfatizou aos entrevistadores que a ordenação sacerdotal “é uma consagração de todo o nosso ser, uma conformação indelével de nossa alma a Cristo, o sacerdote, que exige de nós uma conversão permanente para lhe corresponder”.

“O celibato é o sinal inquestionável de que ser sacerdote significa permitir-se estar completamente possuído por Deus. Colocá-lo em questão agravaria gravemente a crise do sacerdócio”, afirmou.

Bento XVI, sofrimento, difamação

Ao ser perguntado sobre Bento XVI, o Cardeal respondeu:
“Ele me disse isso, cara a cara, em várias ocasiões: Seu maior sofrimento e o julgamento mais doloroso da Igreja Latina é o crime dos sacerdotes pedófilos, sacerdotes que violam sua castidade. É preciso ler tudo o que (Bento XVI) escreveu sobre esse assunto como cardeal, depois durante seu pontificado e, mais recentemente, em From the Depths of Our Hearts”, afirmou.

“Devo confessar minha revolta frente à difamação, à violência e à grosseria a qual foi submetido. Bento XVI queria falar com o mundo, mas tentaram desacreditar suas palavras. Eu sei que ele considera tudo o que está escrito neste livro com determinação, e sei que está maravilhado com a sua publicação”, assegurou.

A Igreja já teve sacerdotes casados

Sobre a afirmação de que o celibato sacerdotal é uma norma relativamente recente na Igreja Católica, o Cardeal Sarah respondeu que “somos frequentemente vítimas de uma profunda ignorância histórica sobre esse assunto”.

“A Igreja teve sacerdotes casados durante os primeiros séculos. Mas assim que eram ordenados, recebiam o pedido para que se abstivessem por completo das relações sexuais com suas esposas.
Bento XVI nos lembra disso muito claramente neste livro.
Todos conhecem a sua profunda cultura histórica e seu perfeito conhecimento da antiga tradição. Este fato é certo e é demostrado pela pesquisa histórica mais recente”, disse o Purpurado.

Devemos aspirar a Santidade

No final da entrevista, o Cardeal Sarah destaca que “devemos aspirar à santidade”.

“Bento XVI, com coragem profética, se atreve a afirmar que, ‘sem a renúncia aos bens materiais, não pode haver sacerdócio. O chamado a seguir Jesus não é possível sem esse sinal de liberdade e renuncia a todos os compromissos’.
Portanto, estabelece as bases para uma verdadeira reforma do clero. Pede uma mudança radical na vida cotidiana dos sacerdotes”, disse.

“Por minha parte, tentei desenvolver esse chamado enfatizando que os sacerdotes devem encontrar maneiras concretas de viver os conselhos evangélicos.
Os bispos devem refletir sobre isso, para si mesmos e para os padres: devemos colocar Deus concretamente no centro de nossas vidas”, concluiu.

(JSG)

 

 

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