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Sociedade de iguais ou de proporcionalmente desiguais?

Redação (Terça-feira, 07-11-2017, Gaudium Press) “Senhor dono nosso, que admirável é Teu nome em toda a terra!”, nos diz o Salmo (8, 2). Contempla o salmista as maravilhas da criação, os astros que se mostram na grandeza do céu, os animais a serviço do homem.

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Tudo a serviço do homem -“rei da criação”- e este a serviço de Deus. “Lhe deste o mando sobre as obras de tuas mãos, tudo submetestes sob seus pés” (8,7), continua o Salmo. Deus lhe dá o senhorio sobre todo o criado, fazendo-o à sua imagem e semelhança para que “domine os peixes do mar, as aves do céu, os gados e todas as bestas da terra” (Gn 1, 26). Realmente, recordando isto, bem poderemos repetir: “que admirável é Teu nome Senhor, em toda a terra!”.

A beleza da criação está na variedade, no que poderemos chamar, a desigualdade das coisas. Esta variedade harmônica do conjunto, pois cada coisa era boa e o conjunto melhor, nos leva à temática que queremos comentar hoje com nossos leitores.

Incentivo normalmente aos pais de família que levem seus filhos para visitar o Jardim Zoológico, mas que não se detenham excessivamente nos macacos (para não confundi-los com aqueles que não são nossos “antepassados”). Verão ali, as crianças, as maravilhas da criação animal. Os jardins botânicos -também recomendáveis- pelo estático se bem que belo, para as crianças de hoje, não são os mais didáticos nem “entretenimento educativo”. É que no zoológico verão, grandes e pequenos, a imensa variedade da criação, com as características próprias de cada animal, uns mais lindos que outros, outros mais raros que os mais lindos. Uma girafa com seu pescoço altíssimo, ou um elefante com seu peso e singular trompa, ou mesmo um leão com sua juba e altivez de “rei”, ou um belo pássaro, quando não, até uma horrível serpente. Enfim, longo seria percorrer e comentar as características “psicológicas” de cada animal. Uns mansos, outros agressivos, alguns amistosos, outros quietos em sua preguiça, outros caminhando singularmente, outros ainda, nadando, em sua elegância, como o caso de um cisne. Que admirável!

Isto põem diante de nossos olhos uma realidade: Deus criou um mundo desigual. Seja no reino mineral (desde uma bela pedra preciosa a um metal simples como o ferro), seja no reino vegetal com sua variedade de cores e formas, seja no já comentado reino animal, chegando aos homens. O universo que nos rodeia nos deixa encantados. Tudo nele foi admiravelmente disposto por Deus; não há o que não tenha razão de ser, para deleite dos sentidos.

Mas vamos ao que nos toca mais de perto: nós mesmos. E nos perguntemos: somos todos iguais? A resposta inicial que sai de nossos lábios é que todos somos filhos de Deus, e naturalmente, por isso mesmo, todos iguais, seres humanos, nesse aspecto fundamental. Mas, para chegar a compreender que esta igualdade não é senão o básico ou essencial, bem esclarecia aos homens de todos os tempos Leão XIII em sua encíclica “Quod Apostolici Muneris”: “a Igreja, com muito mais sabedoria e bom sentido, reconhece a desigualdade entre os homens, que nascem com diferentes forças de corpo e espírito”. Com o que compreendemos que esta desigualdade, secundária, provêm do próprio autor da natureza, Deus.

Dizia o pensador católico brasileiro Plinio Corrêa de Oliveira em uma de suas conferências (07/02/87): “Uma sociedade hierárquica, quer dizer dividida em diversas classes sociais, uma sociedade desigual, na qual ela tenha em seu ambiente, um equilíbrio, uma proporção que, por mais que uns sejam altos, aos menores é dada toda a honra e toda a consideração que cada ser humano merece. Por mais que alguns sejam opulentos, tenham dinheiro, é preciso que haja nas mãos dos menos afortunados as condições suficientes para viver e garantir saúde, bem-estar, um nível razoável de ensinamento, as condições de vida pelas quais é próprio a um homem subir, aperfeiçoar-se e elevar-se. De maneira tal que nesta proporção entre desigualdades existe a sociedade cristã verdadeira que não é uma sociedade de iguais, nem uma sociedade de brutalmente desiguais, é uma sociedade de proporcionalmente desiguais”.

Um pouco parecido com uma família que tem muitos filhos, na qual, o filho mais velho tem mais destaque, tem mais importância, e depois o menorzinho menos, mas tudo se distribui fraternalmente nesta desigualdade. Há uma certa analogia com a existente desigualdade das classes sociais.

Na Encíclica “Ad Petri Cathedram”, São João XXIII afirmava: “Quem se atreve a negar a desigualdade das classes sociais vai contra as leis da mesma natureza”.

Mais ainda, poderíamos afirmar que, nesse modelo de sociedade cristã de proporcionalmente desiguais, todos os membros deverão viver no hábito da prática dos Mandamentos da Lei de Deus, de tal maneira que esse ambiente os convide à prática da virtude, e dificulte no homem a prática do pecado. Uma sociedade assim, no combate constante ao pecado e na defesa da ortodoxia e da moralidade, é a verdadeira sociedade, ordenada e autenticamente cristã.

Por que querer uma sociedade assim? Porque Deus assim quis. Por que Deus quer que a sociedade seja assim? Para que os homens, sejam bons, virtuosos, em sua vida terrena, pois, se farão parecidos ao próprio Deus, o amarão, e lhe darão a glória merecida: “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, assim como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém”.

Por Padre Fernando Gioia, EP

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(Publicado originalmente em www.lausdeo.world)

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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